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Sagas Marvel | Dinastia M

por Ritter Fan
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estrelas 4

Obs: Há spoilers sobre Dinastia M e sobre o status quo do Universo Marvel antes da saga.

Gostem ou não dos exageros da Marvel em emendar uma saga na outra quase que ininterruptamente, uma coisa é certa: desde Guerra Secreta, não exatamente uma saga, mas uma importante minissérie que quebrou paradigmas na editora, Brian Michael Bendis tinha um norte, uma direção a seguir. Depois de nos apresentar ao lado “sombrio” do universo normal da Marvel em Guerra Secreta, ele partiu para literalmente debandar os Vingadores em A Queda, arco que faz um retcon no passado da Feiticeira Escalarte e funciona como um catalisador para literalmente tudo que viria a seguir.

house of m coverAfinal de contas, em A Queda testemunhamos a extensão dos poderes de Wanda Maximoff e o grau de instabilidade de sua mente. Além disso, a mansão dos Vingadores é destruída e Scott Lang, o segundo Homem Formiga e Clint Barton, o Gavião Arqueiro, morrem. O Visão é destruído. Tudo faz parte da loucura da Feiticeira que torce e retorce a realidade a seu bel prazer ao saber que seus filhos gêmeos com o Visão, na verdade, nunca existiram. O Doutor Estranho interfere e a crise é evitada, mas não sem antes os Vingadores acabarem, estratégia, claro que serviu de trampolim para a criação dos Novos Vingadores, a mesma coisa, só que com outro time e outra base.

Do lado mutante da Marvel, os X-Men perderam a liderança do Professor X, que se mudou para a destruída Genosha para cuidar da saúde mental da Feiticeira junto com o pai dela, Erik Lensherr, mais conhecido como Magneto. Mas a situação é crítica, pois os poderes telepáticos do Professor não mais estão dando conta do desequilíbrio da Feiticeira e algo precisa ser feito.

Esse é o momento que dá ignição a Dinastia M, saga que tinha o objetivo explícito de reduzir a população mutante do Universo Marvel, criando, para isso, uma saída inteligente, ainda que falha e cujas consequências, diferente de outras sagas que vemos por aí, foram duradouras e são sentidas até hoje, mesmo depois da semi-reformulação do Universo Marvel com o projeto Marvel NOW!. Assim, independente de qualquer outra consideração, Bendis fez uma saga que merece ser lida pelos fãs de quadrinhos por sua importância, gostando ou não do que foi feito com a Feiticeira, aceitando ou não as aparentes incongruências com a eliminação dos mutantes da face da Terra.

E, bem no estilo do autor, o grande foco da saga é em uma realidade alternativa. Não uma apocalíptica como na recente Era de Ultron, mas sim uma utópica, aparentemente perfeita para mutantes e humanos. A ação começa com os Vingadores e os X-Men se reunindo, a pedido do Professor X, para decidir o destino da Feiticeira Escarlate. O Professor não tem mais esperanças e dá a entender fortemente que matá-la é a única saída para se evitar uma tragédia maior. A divisão entre os que concordam e discordam dessa solução – aliás, um tanto precipitada e pouco característica do Professor, diria – é evidente, com o Capitão América e Cíclope de um lado e Wolverine e Emma Frost de outro.

Enquanto isso, um desesperado Mercúrio, em Genosha, suplica ao pai pela vida da filha. Quando os heróis chegam para aparentemente ter algum tipo de conversa com Wanda, tudo se torna um clarão branco e passamos a ver a tal utopia que mencionei, sem maiores explicações. O mundo é dos mutantes. Os humanos estão próximos da extinção, mas não em razão de alguma tragédias, mas sim pela mera seleção natural. Mas é um mundo preconceituoso ao inverso, dessa vez contra os chamados “sapiens”, ou seja, aqueles que não portam o gene X ou que, de outra forma, não tenham poderes ou habilidades especiais.

É um mundo profundamente alterado, com Wolverine sendo um Agente da S.H.I.E.L.D., de uma força especial. Peter Parker está casado com Gwen Stacy e tem um filho, além do tio Ben não ter morrido. Ninguém sabe do Professor X. Magneto é um rei em Genosha, o patriarca da Dinastia M do título, composta por Pietro, Lorna, Wanda e seus dois filhos gêmeos, com o detalhe que Wanda não é mutante. O Capitão América nunca foi congelado e, hoje, é um idoso veterano. Mas existe uma força “rebelde” no submundo. Alguns heróis se juntaram por acharem que a raça humana está sendo destruída. Dentre eles há Luke Cage, Danny Rand, Clint Barton (sim, o falecido!) e Manto (alguém mais adora e sente saudades do Manto como eu?). É esse grupo underground que acaba salvando Wolverine de seu próprio grupo de elite da S.H.I.E.L.D. (o Exército Vermelho) quando ele começa a lembrar de seu passado verdadeiro. Luke Cage tem algumas dessas visões de um “outro passado” e a chegada da misteriosa menina Layla, que também se lembra de tudo como era antes, catalisa a virada de mesa contra aquele que é percebido como vilão: Magneto.

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A Dinastia M…

O interessante de Dinastia M não é necessariamente essa nova realidade e as mudanças de uniformes e de vida dos personagens e nem mesmo a pancadaria, mas sim a compreensão da vastidão do poder da Feiticeira Escarlate. Ela, com apenas um desejo, mudou a realidade do mundo todo. O que fazer com alguém com esse nível de poder, algo potencialmente muito mais destrutivo que a Fênix Negra ou até mesmo Galactus ou Thanos. E o pior é isso emanando de uma das mais tradicionais heroínas do Universo Marvel, criada em 1964 primeiro como vilã e, depois, membro da segunda formação dos Vingadores. Além disso, fica a implicação, que é muito bem colocada – em um texto que, confesso, é longo e expositivo, mas necessário – por Jessica Drew: será que essa não é a evolução natural do mundo. Será que o evento “branco” da Feiticeira não é algo que pode ser visto simplesmente como o destino? Será que não estão todos melhores assim? Ainda que essas dúvidas não sejam exploradas, elas permanecem na mente de todos e, quando a crise se encerra, Peter Parker nos relembra dele, suplicando para que o Doutor Estranho apague as memórias de uma vida idílica com Gwen, filho e tio Ben que ele viveu, mas não viveu, algo que só acrescenta à sua tragédia pessoal.

O famoso final, em que Wanda quase que sussurra a frase “no more mutants” é antológica e um dos momentos mais tragicamente belos da história editorial da Marvel. Se Bendis, depois, não consegue lidar com as consequências, escolhendo aquele punhado de mutantes que não perdem os poderes ou se, depois, vários ganham novamente seus poderes das maneiras mais diferentes, isso é literalmente outra história. O que não posso deixar de apreciar é o conceito, as implicações do fato.

No quesito arte, a série principal de Dinastia M, composto, originalmente, de oito números que podem ser lidos com tranquilidade, sem necessidade de se caçar os vários crossovers, não desaponta. Ao contrário até. Com o trabalho ao encargo do francês Olivier Coipel e de Tim Townsend, o resultado é muito eficiente, com boas reformulações de uniformes (com especial destaque ao do Gavião Arqueiro e do Homem-Aranha) e traços que conseguem transitar bem entre diálogos mais íntimos e spreads com dezenas de personagens e muita luta. Não é um arte genial – a não ser nas capas – ou que vá deslumbrar o leitor, mas ela é funcional, bonita e precisa, com boas, ainda que burocráticas transições de quadros.

Dinastia M, queiram ou não, gostem ou não, é um marco moderno da Marvel, por trazer uma história competente que muda o status quo da editora. Claro que a saga escancara de verdade as portas para outras sagas que duram até os dias de hoje, mas esse é um modelo de negócio que assola as grandes editoras mainstream e não tem muito jeito. Temos é que elogiar quando o elogio é devido e, nesse caso, Bendis está de parabéns.

Dinastia M (House of M, EUA)
Conteúdo: House of M # 1 a 8, publicado entre junho e novembro  de 2005
Roteiro: Brian Michael Bendis
Arte: Olivier Coipel, Tim Townsend
Editora (nos EUA): Marvel Comics
Editora (no Brasil): Panini Comics
Páginas: 182 (série principal)

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