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Crítica | A Última Loucura de Mel Brooks

por Ritter Fan
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Depois de, em um ano só, Mel Brooks solidificar sua carreia de diretor de comédias com Banzé no Oeste e O Jovem Frankenstein, ele partiu para um pouquinho de merecida autoindulgência, ao mesmo tempo em que homenageia o tipo de comédia celebrizada por grandes nomes como Max Linder, Charles Chaplin e Mack Sennett, ou seja, o puro pastelão. Não que os longas anteriores do cineasta não tenham essa veia também, mas, em A Última Loucura de Mel Brooks (para que esse título???), ele mergulha de cabeça nela, usando de sua importância no cenário cômico da época não só para dar belas estocadas satíricas em Hollywood, como também para atrair grandes nomes em pontas como eles mesmos.

Portanto, talvez para a audiência atual, desacostumada com esse tipo de humor e, ainda por cima, com o estilo mais bobalhão e ao mesmo tempo mordaz de Brooks, o filme não funcione mais com todo seu vigor, mas, se assistido com o espírito correto, há muito o que ser apreciado, ainda que em momento algum o humor seja daquele de fazer o espectador rachar de rir. A premissa é pura metalinguagem. Brooks vive Mel Funn, diretor que tenta retornar à glória que teve antes de entregar-se à bebida com a produção de um filme ousado: um filme mudo! E, é claro, A Última Loucura de Mel Brooks, cujo título original é simplesmente Silent Movie, é ele mesmo um filme mudo, com direito até a intertítulos.

Prometendo recrutar grandes nomes de Hollywood, o que o atual chefe do Big Pictures Studios (Sid Caesar) usa como tábua de salvação para impedir que ele seja comprado pelo malvado conglomerado Engulf & Devour, Funn e seus colegas Dom Bell (Dom DeLuise) e Marty Eggs (Marty Feldman) partem para justamente fazer isso, dando então azo às divertidas participações especiais de nomes como Burt Reynolds e Anne Bancroft, cada um sempre caracterizado no estilo de suas próprias personas lendárias da época, o que empresta um gostinho todo especial à essas pontas completamente autoconscientes e auto satíricas. Intercalando esses momentos com grandes celebridades, Brooks salpica o filme com uma enorme sucessão de gags e esquetes que são como uma montanha-russa, algumas funcionando como a dos pastores-alemães sendo trocados e outras nem tanto como logo a da abertura, em que a trinca dá carona a uma mulher grávida (Carol Arthur, esposa de Dom DeLuise).

Esse desequilíbrio entre os esquetes acaba quebrando um pouco o ritmo do filme e deixa ainda mais evidente a natureza episódica da narrativa, algo que é amplificado por exageros quase infantis como a garrafona que Funn compra ou as diversas brincadeiras com as mais variadas lojas por que ele e seus amigos passam quando estão dirigindo. Por outro lado, Brooks parece ter consciência disso – e também do fato de que pode ser desconfortável para alguns assistir um filme mudo – e faz de tudo para encurtar seu filme, não perdendo quase tempo algum com a trama principal que carrega o mesmo tipo de construção narrativa de dramas e comédias clássicas. Portanto, no final das contas, quando os esquetes começam a esfriar ou a se tornar repetitivos, o longa acaba.

Brooks, em seu primeiro papel de protagonista, é só diversão com caras e bocas, com Marty Feldman e seus olhos esbugalhados ganhando fácil a audiência. Dom DeLuise, por seu turno, é um gosto adquirido, ao meu ver e, pessoalmente, nunca gostei do comediante e, aqui, ele não faz nada realmente especial para que minha opinião tivesse alguma chance de mudar. Basicamente toda a gag envolvendo o ator lida com comida ou bebida, ou seja, unicamente girando ao redor de seu… digamos… diâmetro, sem que ele vá além disso. Quando, no terço final, Bernadette Peters entra na fita como a tentadora Vilma Kaplan, contratada pela Engulf & Devour para destruir Funn, a dinâmica da trinca é brevemente alterada, o que dá um pouco mais de fôlego à narrativa e carrega o filme ao seu final.

A Última Loucura de Mel Brooks não é nem exatamente uma loucura e certamente não foi a última de Brooks, mas inegavelmente foi uma das produções mais diferentes e ousadas do diretor/roteirista/produtor/ator. Sua “homenagem crítica” à Hollywood é inteligente, autoconsciente e ampla, fazendo de seu próprio experimento um veículo para revelar as idiossincrasias dessa tão polêmica e ao mesmo tempo maravilhosa indústria.

A Última Loucura de Mel Brooks (Silent Movie – EUA, 1976)
Direção: Mel Brooks
Roteiro: Mel Brooks, Ron Clark, Rudy De Luca, Barry Levinson
Elenco: Mel Brooks, Marty Feldman, Dom DeLuise, Sid Caesar, Harold Gould, Ron Carey, Bernadette Peters, Carol Arthur, Liam Dunn, Fritz Feld, Chuck McCann, Valerie Curtin, Yvonne Wilder, Harry Ritz, Charlie Callas, Henny Youngman, Arnold Soboloff, Patrick Campbell, Burt Reynolds, James Caan, Liza Minnelli, Anne Bancroft, Marcel Marceau, Paul Newman
Duração: 87 min.

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