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Crítica | Agents of S.H.I.E.L.D. – 5X05: Rewind

por Ritter Fan
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Aviso: Há spoilers do episódio e da série. Leia, aquias críticas dos outros episódios e, aquide todo o Universo Cinematográfico Marvel .

A beleza de Rewind é que ele não só cumpre a promessa estabelecida em seu título, de ‘rebobinar” a história e nos contar exatamente o que aconteceu após a abdução de Coulson e companhia ao final da temporada anterior, como magistralmente costura acontecimentos aparentemente menores da terceira temporada, traz Lance Hunter de volta de maneira orgânica, explora Fitz da forma como ele precisava ser explorado, e isso sem deixar de colocar mais lenha na fogueira dos mistérios, mesmo que responda alguns. Ou seja, uma combinação de elementos rara de se ver em um “mero” episódio de flashback, normalmente relegado à sonolenta raspa do tacho em séries de TV.

E Rewind é tudo menos sonolento. Abordando o sumiço da equipe sob os olhos de Fitz, com direito à repetição da agora já famosa cena sob outro ângulo, o roteiro de Craig Titley, veterano na série e responsável pelo espetacular 4,722 Hours, não perde tempo em colocar o solitário e sofrido cientista atrás das grades desesperadamente tentando descobrir o que pode ter acontecido com Jemma e os demais. Usando elipses para provocar uma bela, mas rápida passagem de tempo de seis meses, a direção de Jesse Bochco, na série desde a primeira temporada, responsável pela première da presente temporada e também pelo episódio escrito por Titley citado acima, não perde tempo em incluir Hunter na narrativa como aquele que, atraído pelas cartas de fã raivoso que Fitz consegue convencer seus “carcereiros” a publicar em uma revista de futebol, torna-se seu salvador e parceiro. A química entre eles, que raramente tiveram tempo juntos quando Nick Blood era ator fixo da série, é imediata e fluida, na clássica dinâmica “cérebro x músculos”.

No entanto, mais do que se fiar nessa dinâmica, Titley inteligentemente escreve Fitz como era essencial que ele fosse escrito: um homem torturado por tudo que viveu e com seu lado negro latente, logo abaixo de sua superfície pacata. E Iain De Caestecker mais do que atende nossas expectativas nesse quesito, mantendo-se, primeiro, absolutamente obcecado com Jemma e o que aconteceu com ela, depois estourando diante de um hesitante, mas educado Enoch (Joel Stoffer) e, finalmente, literalmente trocando de papeis com Hunter em uma muito bem executada sequência em que ele segura os militares com duas pistolas nas mãos enquanto seu colega dá partida ao Zephyr. Ao longo do episódio, percebemos muito claramente o quanto sua versão genocida do Framework afetou o personagem que aprendemos a amar. De cientista dedicado e tímido no começo da série, passando por herói apaixonado, Fitz chega talvez ao que possamos chamar do ponto alto de seu desenvolvimento em uma perfeita fusão de cada persona que assumiu, perigosamente resvalando em seu lado negro que parece dar-lhe energia e força. Aliás, a relação entre o lado negro e o lado da luz em Fitz fica ainda mais reforçada com o diálogo de despedida entre ele e Hunter, tirado diretamente de O Império Contra-Ataca. Podem ter certeza que não foi apenas algo irresistível ao roteiro pela brincadeira em si ou pela proximidade do lançamento de Os Últimos Jedi, pois os contornos do dilema de Luke diante da sedução do Lado Negro da Força é algo que permeia todo o episódio, com as flutuações de humor de Fitz.

Ainda que a qualidade do episódio venha primordialmente de tudo que toca diretamente o personagem e também da boa presença de Hunter que não se furta em citar Bobbi diretamente, evitando que sua parceira seja varrida para debaixo do tapete das personagens que “nunca existiram”, é impossível não tirar o chapéu para a capacidade dos showrunners em retroalimentar a série com acontecimentos da mitologia que construíram. Falo, lógico, do uso de Polly e Robin Hinton, personagens cujas existências, confesso, havia apagado de minha mente e que demorei a perceber quem exatamente eram, ainda que o pássaro esculpido em madeira tenha sido o sacolejo mnemônico que precisava para vagarosamente colocar todas as peças no lugar.

Para quem, como eu, coçou a cabeça, as duas são, respectivamente, esposa e filha de Charles Hinton, o inumano mendigo que nos é apresentado – e morto – em Spacetime, na segunda metade da terceira temporada. Seus poderes de previsão do futuro o fizeram abandonar a família e ele acaba ajudando Daisy não só com as visões do porvir que ele proporciona, como com sua própria vida. O pássaro em madeira – um pardal, ou robin, em inglês – é um presente dele à filha que é entregue por Daisy, daí o nome dela, quando mencionado por Fitz, trazer reconhecimento à jovem inumana oracular (interessante como a terrigênese dela a leva a ter poderes conectados com os de seu pai, não?).

É absolutamente gratificante ver essa maneira de usar acontecimentos passados para moldar o presente – ou o futuro, no caso – mesmo que, lá atrás, os showrunners não tivessem esse objetivo (já que, creio, eles não tem o poder inumano de prever o futuro, mas posso estar enganado). Nada em Agents of S.H.I.E.L.D. é realmente esquecido, já que essa não é a primeira vez que algo assim acontece, mesmo que, para que tudo se encaixe aqui, seja necessário simplesmente aceitarmos a existência ainda misteriosa de Enoch (que tem uma função estranhamente parecida com a de Uatu, o Vigia da Terra nos quadrinhos) e sua conexão até reverencial à pequena profetisa.

A solução para o dilema de Fitz distante 74 anos de Jemma é seu congelamento criogênico na cápsula que trouxe Enoch para a Terra há 30 mil anos. Mais um elemento que temos que aceitar, mas que está dentro da lógica interna da série, certamente. Porém, o importante é que essa criogenia põe por terra as teorias de multiverso que estavam sendo construídas por aí (inclusive em minhas críticas e nos vários comentários de leitores). A linha temporal é a mesma, não há dúvida, e Fitz realmente está (agora) no futuro, assim como Coulson e companhia. Essa conclusão é inescapável, a não ser que, de maneira improvável, os showrunners traiam suas próprias premissas. Se isso ficou claro e responde a uma pergunta, a manutenção da mesma linha temporal cria outras várias indagações, a principal delas sendo: se Tremor é mesmo a Destruidora de Mundos, como é que a Terra foi quebrada por ela se ela “sumiu” por 74 anos?

Não tenho dúvidas que haverá uma conexão com a General Hale (Catherine Dent), provavelmente uma alienígena como Enoch, já que o assassinato a sangue frio de dois tenentes do exército não me “parece” algo normal na hierarquia das Forças Armadas, mesmo para aqueles que reiteradamente desapontam seu superior. Resta saber se a veremos também nesse futuro distópico em algum momento, talvez como a principal antagonista secretamente por trás de tudo.

O primeiro (e possivelmente único) episódio não-espacial e não-futurista do primeiro arco desta temporada mostra que Agents of S.H.I.E.L.D. realmente não está para brincadeiras. O mistério se aprofunda na mesma medida que algumas perguntas são respondidas e Fitz – o grande Fitz! – é exatamente aquele personagem que esperávamos que ele fosse depois da traumática experiência no mundo virtual de Aida. Rewind anunciou qualidade e entregou mais do que se poderia esperar. Sim, essa série não para de surpreender.

*Agents of S.H.I.E.L.D. não irá ao ar semana que vem, voltando dia 05 de janeiro de 2018.

Agents of S.H.I.E.L.D. – 5X05: Rewind (EUA, 22 de dezembro de 2017)
Showrunner: Jed Whedon, Maurissa Tancharoen, Jeffrey Bell
Direção: Jesse Bochco
Roteiro: Craig Titley
Elenco: Clark Gregg, Chloe Bennet, Ming-Na Wein, Iain De Caestecker, Elizabeth Henstridge, Henry Simmons, Natalia Cordova-Buckley, Jeff Ward, Eve Harlow, Pruitt Taylor Vince, Coy Stewart, Pruitt Taylor Vince, Rya Kihlstedt, Myko Olivier, Dominic Rains, Florence Faivre, Nick Blood, Joel Stoffer, Catherine Dent
Duração: 43 min.

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