Home LiteraturaConto Crítica | Conan, o Bárbaro: Xuthal do Crepúsculo, de Robert E. Howard

Crítica | Conan, o Bárbaro: Xuthal do Crepúsculo, de Robert E. Howard

por Luiz Santiago
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Em sua publicação original, este conto foi nomeado A Sombra Rastejante (The Slithering Shadow), sendo este título modificado para Xuthal do Crepúsculo (Xuthal of the Dusk) nas republicações posteriores a 1933. Embora o título atual tenha algo a ver com o conto (Xuthal é a cidade-personagem de destaque aqui), esse “do crepúsculo” fica meio perdido, pois não há nada de especial nessa cidade acontecendo especificamente no crepúsculo. De qualquer modo, o título sugere um certo mistério, e é isso que vemos de fato ganhar corpo na história quando Conan, acompanhado de uma mulher chamada Natala, chega à tal cidade, após dias em marcha pelo deserto, já morrendo de fome e sede.

É bem curioso como Robert E. Howard escolheu representar seus personagens aqui, com Conan sendo o mais superficial possível (algo diferente daquilo que vimos nos quatro contos anteriores do cimério, que tinha o mínimo de composição para além do instinto) e Natala sendo apenas a mulher frágil agarrada à perna de Conan, gritando e agindo como bobinha ciumenta no final da trama. Por outro lado, a criação da atmosfera de medo consegue compensar em partes esse elemento do texto, gerando uma expectativa em torno da misteriosa sombra vista pelo protagonista e também pelas estranhas surpresas que a cidade-castelo de Xuthal guarda em suas centenas de salas.

O primeiro grande ponto de atenção vem com o homem encontrado morto na porta da cidade e que de repente se levanta e parte para cima de Conan com a espada em punho. Através desse ataque, o autor prende a nossa atenção e nos faz imaginar algo relacionado a zumbis ou algum tipo de magia capaz de trazer os mortos à vida. Há, inclusive, um reforço para essa percepção no próprio texto, quando Howard escreve que outra pessoa avistada por Conan e Natala “tinha grande semelhança com o guarda da porta da cidade“. Em seguida, a história toma um atalho e passa a desenvolver um outro aspecto de medo, agora bem mais terrível: a presença de Thog, visto inicialmente como uma “sobra devoradora”.

Thalis, a segunda mulher que aparece na história, é inteiramente diferente de Natala. Concebida como uma espécie de vamp, ela serve também como narradora e reveladora dos mistérios envolvendo Xuthal. É através de sua descrição que conhecemos o mistério da ‘cidade fantasma’, a presença da lótus negra, do vinho dourado e de uma característica bem interessante dos habitantes dessa cidade, que passam a maior parte do tempo dormindo, entregues a sonhos fantasiosos (me lembrou um pouco A Gaiola e a situação dos Arcônidas no início da saga Perry Rhodan). E em cima de tudo isso, claro, a existência do deus-monstro, que dá as caras no final, numa interessante batalha contra o protagonista.

O encerramento de Xuthal do Crepúsculo volta a trazer um pouco do tratamento meio infantil do início, novamente protagonizado por Natala. Mas gosto bastante da maneira como Howard ainda conseguiu extrair faíscas de mistério do enredo, mesmo depois do clímax. O caminho que a dupla encontra para conseguir fugir da cidade e a maneira como esse lugar é retratado nas linhas finais não dissipa o terror e a decadência daquele lugar, o que mantém a impressão geral de mito em torno de Xuthal e reforça a importância de mais essa aventura na vida de Conan.

Conan, o Bárbaro: Xuthal do Crepúsculo (Xuthal of the Dusk / The Slithering Shadow) — EUA, setembro de 1933
Publicação original: Weird Tales (pulp magazine) — Rural Publishing Corporation
No Brasil: Conan, o Bárbaro – Livro 1 (Pipoca e Nanquim, 2017)
Autor: Robert E. Howard
Tradução: Alexandre Callari
40 páginas

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