Home QuadrinhosOne-Shot Crítica | Alan Moore’s Another Suburban Romance

Crítica | Alan Moore’s Another Suburban Romance

Um tsunami de "quê???".

por Luiz Santiago
881 views

Another Suburban Romance é um quadrinho que mistura uma experiência poética livre com certos elementos cronistas, fantasiosos, psicológicos, emocionais e até históricos, expondo em três distintas aventuras os pensamentos mais aleatórios e mais surreais possíveis em um Universo de ambição duvidosa criado por Alan Moore. Lançado em 2003 pela Avatar Press, o título é um daqueles obscuros na bibliografia do mago e, para ser sincero, é perfeitamente possível entender o motivo. Aqui não estamos falando de algo genial, de algo que consiga marcar-se como uma história sólida em si mesma. A não ser que o leitor assuma as loucuras individuais com tamanha grandiosidade, que opte por desconsiderar o título como um todo e só imagine a obra em seus pedaços, claro. Nesse caso, devo dizer que o primeiro conto do volume, Judy Switched off the TV, é absolutamente maravilhoso.

O fato é que, mesmo quebrando Another Suburban Romance em pedaços narrativos, apenas a trama de abertura traz os elementos necessários para um entendimento do que se está narrando, fazendo o necessário casamento com o absurdamente incrível trabalho artístico de Juan Jose Ryp, que sempre me lembra os detalhes e as criações estéticas dinâmicas de Geof Darrow — a despeito de suas imensas particularidades na maneira como finalizam os desenhos. Nesse início, o leitor está diante de uma narrativa que pode ser compreendida em pelo menos duas linhas diferentes de ação. Ao fim, elas são somadas a uma noção de ciclo vicioso que faz toda a diferença para a profundidade do enredo. Pra nossa tristeza, o mesmo não acontece nos dois blocos posteriores.

Com a arte de Ryp, porém, até mesmo o conto dos gângsters (segunda história) e o conto do homem errante num subúrbio perdido (terceira e última história) ficam interessantes, mas os textos, nos dois casos, não são verdadeiramente chamativos, coerentes, marcantes… o que atrapalha o aproveitamento de toda a viagem visual. É sempre importante relembrar que um quadrinho é uma mistura de duas artes, uma literal e outra visual. Essa dualidade deve ser considerada como um produto inteiro, e mesmo que possamos analisar certas peculiaridades individualmente, destacar um melhor ou pior aspecto na construção de um argumento, ao fim de tudo, o produto deverá ser enxergado em sua totalidade. E claro, aqui, essa totalidade está comprometida, em esferas diferentes, em dois dos três momentos da história.

Sobre a qualidade e coerência estética, ao contrário do que muitos leitores dizem, eu acho que funciona muito bem para a proposta solta e meio maluca de Another Suburban Romance. É uma arte que exige de nós um tempo muito maior em cada página, observando os detalhes, apreciando cada etapa da produção e o que ela acrescenta para aquela cena, para aquela fase da narrativa. Ao cabo, exceto pela primeira história, este é um título que só vale mesmo pela arte. Uma regular entrada na linha de publicações do mago dos quadrinhos.

Alan Moore’s Another Suburban Romance (EUA, 2003)
Roteiro: Alan Moore
Arte: Juan Jose Ryp
Adaptação sequencial: Antony Johnston
Editora: Avatar Press
Editoria: James Kuhorie, William Christensen
64 páginas

Você Também pode curtir

Este site usa cookies para melhorar sua experiência. Presumimos que esteja de acordo com a prática, mas você poderá eleger não permitir esse uso. Aceito Leia Mais