Pouco antes de Distrito 9, Neill Blomkamp, então diretor só de cinco curtas (um deles, Alive in Joburg, serviu de base a Distrito 9), era o nome mais cotado para ser o diretor de Halo, a versão cinematográfica do videogame blockbuster da Microsoft. O projeto acabou se tornando caro e complicado e Neill Blomkamp era verde em Hollywood. Jogar no colo dele um pepino do tamanho de Halo não seria justo. Outro nome que estava por trás de Halo era o de Peter Jackson, esse sim um diretor que qualquer estúdio gostaria de ter dirigindo seus filmes. No entanto, Peter Jackson “adotou” Blomkamp e Distrito 9 foi o que saiu dessa adoção.
O filme é uma ficção científica inteligente, feito com meros 30 milhões de dólares (num mundo em que G.I. Joe custa 175 milhões e um Transformers não sai por menos do que 200 milhões, com Avatar na casa dos 300 milhões, 30 é troco). Por esse valor, esperava uma obra com poucos efeitos especiais, mas acabei me deparando com algo que usa pesadamente efeitos e todos parecem estar integrados de verdade ao filme, diferentemente, por exemplo, do que costumamos ver na grande maioria dos arrasa-quarteirões por aí, que mais parecem desenhos animados em computação gráfica.
A premissa por si só é ótima. Uma enorme nave extraterrestre apareceu na Terra há 20 anos e ficou flutuando em cima não de cidade óbvias como Nova York, Washington ou Paris, mas sim de Joanesburgo, na África do Sul. Três meses se passam e nada acontece. Os humanos, então, decidem entrar na nave para ver o que está acontecendo e encontram milhares de ETs muito feios e famintos, logo apelidados de “camarões”. Todos os camarões são, então, realocados para acampamentos provisórios que, com o passar do tempo, se tornam favelas onde tudo acontece: venda de armas, prostituição, furtos e assassinatos.
O filme tem tom de documentário no começo. O diretor usa cenas da chegada dos extraterrestres em estilo montagem da CNN” e vai destrinchando os eventos que desaguam no começo efetivo da projeção: o despejo dos camarões do Distrito 9 para o Distrito 10, 200 quilômetros mais distante da cidade. Chefiando essa enorme operação está Wikus Van De Merwe (Sharlto Copley), um burocrata padrão da empresa Multi-National United (MNU), que cuida da relação entre os camarões e os humanos. Obviamente, a operação dá muito errado e Wikus acaba se envolvendo, digamos, de forma bem próxima, com os camarões.
Sem estragar a história para quem porventura ainda não tenha assistido, Blomkamp, que também assina o roteiro indicado ao Oscar, junto com Terri Tatchell, sua esposa, conseguiu reunir vários elementos batidos de filmes de ficção científica em uma trama coesa, original e muito fácil de se assistir. Esses elementos são, dentre outros, (1) a empresa “humanitária” que não é tão humanitária assim; (2) armas que só funcionam com o DNA dos seres que a fizeram; (3) manipulação genética e cobaias vivas; (4) exposição de personagens à biotecnologia alienígena; (5) transformações nojentas; (6) um design de alienígenas original como o de Alien e (8) o soldado bandido durão.
Distrito 9, mesmo usando uma colcha de retalhos de clichês do gênero, é um alívio em meio aos filmes de ficção científica recentes. Tem tudo para agradar os fãs do gênero em níveis que vão muito além da mera superfície. Afinal, o filme – lembrando um pouco O Planeta dos Macacos – também agrada por outro lado: sua denúncia social. No meio de todo aquele aparato tecnológico e efeitos especiais, há uma forte história de intolerância, genocídio e ganância que resume muito bem o que vem acontecendo no mundo nas últimas várias décadas.
Independente da mensagem mais profunda, Distrito 9 agrada, também, àqueles que só querem saber de pancadaria. Não falta sangue e nojeiras nesse filme, além de sensacionais cenas de pura tensão. O embate final com o exoesqueleto estilo Aliens contra os soldados da MNU é uma lição de como usar efeitos especiais e práticos em perfeita mescla, além de uma montagem que não tenta confundir o espectador, mérito de Julian Clarke.
No entanto, Distrito 9 não é um filme sem defeitos. O primeiro deles envolve as coincidências sobre o “líquido preto” criado por um dos ETs. Não vou falar demais para não estragar, mas basta dizer que o ET levou 20 anos para conseguir juntar o suficiente do líquido e justamente no dia que a MNU entra no Distrito 9 para fazer a mudança dos camarões é o dia em que o ET completa o que precisa. O outro ponto que me incomodou é que Distrito 9 é, todo ele, uma preparação para Distrito 10. Não é que fique uma pontinha para uma eventual continuação. Não. Blomkamp devia saber que tinha ouro em suas mãos, pois passou o filme inteiro deixando claro que narrativa só ficaria completa com pelo menos mais um filme. Não é exatamente algo ruim, mas a produção teria se beneficiado de uma história auto-contida.
Blomkamp faz muito com pouco. E mostra que o cinema de ficção científica só precisa mesmo de boas ideias para florescer.
Distrito 9 (District 9, EUA/Nova Zelândia/Canadá/África do Sul – 2009)
Direção: Neill Blomkamp
Roteiro: Neill Blomkamp, Terri Tatchell
Elenco: Sharlto Copley, Jason Cope, Nathalie Boltt, Sylvaine Strike, Elizabeth Mkandawie, John Sumner, William Allen Young, Nick Blake, Jed Brophy
Duração: 112 min.
19 comentários
Eu já penso da seguinte maneira: entre ter uma continuação e ter um filme original, eu sempre prefiro um filme original. Por isso, em geral, sou contra continuações, ainda que, claro, existam várias continuações maravilhosas.
Abs,
Ritter.
Já eu nunca achei necessária uma continuação. A mensagem já foi passada com esse filme, que deveria ser – mas não é – bem fechado.
Abs,
Ritter.
Christopher Johnson falou para o Wikus que iria voltar para reverter o processo de transformação a que o corpo dele foi submetido. Além do mais ele queria voltar para libertar seu povo e levá-los de volta para seu planeta de origem ou galáxia, algo nesse sentido. Uma pena não ter tido uma continuação.
Eu sempre esperei a continuação de “Distrito 9”, que não aconteceu. Não se sabe porque não houve uma continuação, o final deixou aberta essa possibilidade do retorno do alienígena para libertar seu povo. Esse filme foi bem aceito na época do lançamento, não sei se faltou verba ou interesse por parte dos produtores.
Gostei da cena em que aquele menino alienígena joga o pirulito na cabeça do Wikus.
No final acabei ficando com pena do Wikus.
O plano de fundo desse filme é genial. O Apartheid transposto aos aliens é uma sacada muito inusitada, nunca imaginaria um filme em que os Aliens chegam como refugiados. E os efeitos especiais. Nossa senhora, muito bem feitos e usados na medida certíssima, como apontado na Crítica acima. Mas esse Filme tem um PROBLEMA seríssimo que é a trama principal, trama do herói. Ele é tão merda, tão cagão, fiquei com nojo dele, nao consegui me identificar com ele, inclusive isso me fez não conseguir aproveitar o filme direito. Acho que a mesma historia de fundo poderia ser muito melhor aproveitada se a trama fosse outra, que não a do Wikus/Dickus
Cara, tenho que concordar com você. O sujeito é intragável mesmo, mas foi proposital, portanto, não vejo como defeito ou problema.
Abs,
Ritter.
O herói na verdade é o alienígena Christopher Johnson, pai daquele menino alienígena. Ele sim lutou contra os maus e tinha princípios morais, ao contrário do Wikus.
Eu tenho minha opinião (gostei deste filme)….mas é engraçado ver criticas tão dispares:
https://omelete.uol.com.br/filmes/criticas/distrito-9/?key=43352
O foco da crítica que você linkou foi todo no uso de clichês e eu abordei isso diretamente na crítica. Usar clichês não é ruim per se. O uso de clichês só fica ruim se eles estão lá por estar. Nesse filme, eles são orgânicos dentro da estrutura da obra. Saber usar clichês é uma arte!
Abs,
Ritter.
Bem, se a analise for tão técnica como você cita então eu me abstenho de mais analises.
Meu foco é se as estorias me divertem ou não.
Concordo com o clichê: fica evidente que este filme usa o mesmo clichê usado ou por Avatar ou por Dança com Lobos (dentre muitos outros) = O inimigo que se envolve (migra?) para o lado dos seus “antagonistas”.
Bem….. sem ser tão profundo, sigo gostando.
[ ]s
Nerso
Mas eu também gostei, oras! Quem não gostou foi o pessoal da crítica que você citou.
E claro que o importante é a história, mas eu não posso me ater só a isso em críticas como as daqui do site.
Abs,
Ritter.
Mas eu também gostei, oras! Quem não gostou foi o pessoal da crítica que você citou.
E claro que o importante é a história, mas eu não posso me ater só a isso em críticas como as daqui do site.
Abs,
Ritter.
Puxa vida, me desculpe…confundi….
É que eu postei o seu link na critica deles também….e ao responder para você, achei que eram eles…. sorry :(…
rsrsrsrs
Enfim, que bom que gostamos.
🙂
Tem problema, não!
Abs,
Ritter.
O cardeal Richelieu dizia que a traição era uma questão de datas. Se é fiel até determinada data, quando se muda de opinião e de lado. Não acho que seja um clichê mudar de opinião, só pessoas burras se mantém no erro. Errar é humano mas insistir no erro é burrice.
Assisti hoje e me surpreendi com ele! muito bom
É mesmo um baita filme, @alice_olivia:disqus! Usa o elemento sci-fi para nos fazer pensar. E muito!
Abs,
Ritter.
É mesmo um baita filme, @alice_olivia:disqus! Usa o elemento sci-fi para nos fazer pensar. E muito!
Abs,
Ritter.
Assisti hoje e me surpreendi com ele! muito bom