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Crítica | For All Mankind – 2X02: The Bleeding Edge

por Ritter Fan
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  • Há spoilers. Leiam, aqui, as críticas dos demais episódios.

Apesar de Molly ter incompreensivelmente se arriscado para salvar seu colega na Lua, mesmo que salvar seja uma palavra forte diante da situação e mesmo que isso inevitavelmente a levasse a arriscar-se tremendamente, algo que realmente não consegui gostar em Every Little Thing, devo confessar que acabei apreciando a forma como o roteiro de The Bleeding Edge abordou essa escolha, sempre fugindo do óbvio e fazendo a astronauta perceber a futilidade do que fez. Sem dúvida uma pegada sóbria para a situação, com os co-criadores Matt Wolpert e Ben Nedivi, que escreveram o texto, mergulhando com vontade no lado psicológico da personagem que, claro, não é a única a ganhar esse olhar.

Essa forma de subverter expectativas sobre o heroísmo estranho de Molly vem logo nos minutos iniciais quando ela recebe a ordem de Ellen para voltar à Terra mesmo que o marcador de radiação dela tenha ficado verde, o que imediatamente destrói sua intenção de permanecer mais dois meses em Jamestown, até o fim de sua rotação. E o drama da experiente astronauta continua quando Wubbo diz que, considerando o tempo de vida que em tese ainda tem, decidiu retornar ao seu país e desistir do programa espacial. A sensação, para Molly, parece ser a de paredes ruindo ao seu redor ao entender que, muito provavelmente, sua vida de astronauta também acabou, ainda que ela se recuse a aceitar o ocorrido mesmo quando Ed, quase que en passant, diz para ela que sabe o que ela fez e que espera que ela esteja bem. Não tem visão perfeita para sempre, diferente do que ela acha, mas a série parece preparada para abordar de maneira mais refrescante esse pesadíssimo fardo que ela provavelmente terá que carregar quando seus sintomas começarem a aparecer.

Paralelizando a história de Molly que, aliás, nem ganha tanto destaque assim, temos a continuação do foco dramático em Gordo, com seu filho mais velho retornando do primeiro ano na Marinha e Tracy de sua “lua-de-mel” e tour publicitário. O momento em que, ao final da tarde, ele se vê sem sua ex-esposa e sem seus filhos no jardim de sua casa cujo interior mais parece um chiqueiro, é muito bem trabalhado pela câmera de Michael Morris, enquadrando o astronauta de maneira melancólica, algo que continua depois que Ed, salvando sua esposa de um Gordo bêbado em seu bar, leva o amigo para andar pela estrada, com o contraluz dos faróis do carro criando uma bela composição narrativa que amplifica a silhueta desgastada e psicologicamente abalada do astronauta que literalmente enlouqueceu na Lua. A cena final dele fumando ao lado de Molly no canto inferior direito da tela, depois que ele recebe a notícia de que voltará ao espaço é emblemática: ambos estão destruídos, mas Molly porque sabe que não vai mais retornar e Gordo porque sabe que vai retornar.

Fora desse círculo dramático principal, The Bleeding Edge continuou a tarefa de reposicionamento das peças que o episódio de retorno começou, só que de maneira mais fluida e bem encaixada na narrativa macro. Ellen ganha destaque tanto em sua vida doméstica com seu casamento de fachada, mas com significado e uma boa contextualização para o seu retorno, agora como executiva da NASA com o objetivo “secreto” de impulsionar ao máximo o programa Pathfinder para levar humanos à Marte, provavelmente com a intenção de ser a primeira astronauta a pisar no planeta vermelho. Da mesma forma, é bom notar que Dani também retorna ao elenco com duas mudanças, uma levando a outra. Primeiro, a morte de seu marido provavelmente por alguma doença que o consumiu vagarosamente ao longo de nove anos (seria também câncer para ecoar a possibilidade de Molly ter o mesmo?) e, segundo, certamente em razão da morte, sua vontade de retornar ao espaço, algo que ela pede a Ed e Ed, muito mais para tentar salvar seu amigo Gordo, acaba mexendo os pauzinhos para tornar realidade. Será interessante ver os veteranos de volta ao batente e eu quero saber até quando o próprio Ed resistirá à tentação de ele mesmo voltar ou, quem sabe, tentar Marte.

No lado de Margo, continua o mistério sobre Aleida. Qual é exatamente a relação entre as duas e porque há a necessidade de se manter isso escondido na série? Seja como for, suspeito que a jovem ou será envolvida com o programa de Marte ou galgará posições já com o programa lunar que, claro, caminhará para o lado fortemente bélico a julgar pelas imagens promocionais da temporada. Falando nisso, Kelly, a filha adotiva dos Baldwins, revela sua vontade ainda secreta de estudar na Academia Naval de Annapolis, exatamente a mesma do filho de Gordo e Tracy, o que explica a forma com a jovem abordou suas escolhas de faculdade na conversa com os pais no episódio anterior.

The Bleeding Edge continua o caminho de queima lenta da série, vagarosamente colocando suas peças no lugar e construindo o tenso cenário de fundo. Mas sua abordagem humana, característica de tudo o que Ronald D. Moore cria, é o ponto alto e este segundo episódio, ainda bem, foca em seus aspectos psicológicos tão importante para a temporada funcionar como a primeira. Há muito o que acontecer ainda e essa história alternativa da Corrida Espacial continua construindo um fascinante universo.

For All Mankind – 2X02: The Bleeding Edge (EUA, 26 de fevereiro de 2021)
Criação: Ronald D. Moore, Matt Wolpert, Ben Nedivi
Direção: Michael Morris
Roteiro: Matt Wolpert, Ben Nedivi
Elenco: Joel Kinnaman, Michael Dorman, Wrenn Schmidt, Sarah Jones, Shantel VanSanten, Jodi Balfour, Krys Marshall, Sonya Walger, Nate Corddry, Dan Donohue, Noah Harpster, Michael Benz, Leonora Pitts, Teya Patt
Duração: 56 min.

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