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Crítica | Gangues de Tóquio

por Ritter Fan
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estrelas 4

Qualquer tentativa de definição de Gangues de Tóquio – mesmo para quem já leu Tokyo Tribe2 (assim mesmo), o mangá de Santa Inoue que inspirou o filme – não fará jus ao filme. Não mesmo. De jeito algum. Essa é uma daquelas experiências audiovisuais polarizantes que têm que ser vividas para serem compreendidas (não que você vá efetivamente compreender essa filme, pois seria muita pretensão). Amando-o ou odiando-o, uma coisa, porém, é certa: esse é uma das mais bizarras e malucas fitas que alguém poderá algum dia ver. E, só por isso, Gangues de Tóquio nasce como um “clássico cult” e merece a conferência.

Apesar de desafiar definições, vou tentar algo para pelo menos dar ao leitor uma ideia do que esperar: Gangues de Tóquio parece ser o filho mutante cheio de cafeína e ecstasy de Warriors – Os Selvagens da Noite, Mad Max (qualquer um ou os três), Romeu + Julieta (Baz Luhrmann!), Mystery Science Theater 3000 (em português, O Filme Mais Idiota do Mundo) em forma de uma ópera japonesa de hip hop. Deu para entender a tamanho da sandice? Pois é. Mas isso nem arranha a superfície.

São 116 minutos de sobrecarga sensorial quase 100% “cantada”, com uma direção de arte tumultuada, comparável a filmes como Brazil – O Filme e outras doideiras de Terry Gilliam e cheio de referências pop que vão desde os “móveis humanos” do Bar Korova de Laranja Mecânica até um sensacional momento feito para constranger – e brincar – com Quentin Tarantino. É, provavelmente, o equivalente cinematográfico a ser jogado em um liquidificador…

Em termos de história – se é que isso interessa realmente – o título é auto-explicativo: trata-se de uma guerra campal entre as diversas gangues (ou tribos, como no original) rivais em Tóquio. Todas nos são apresentadas em detalhes no começo do filme, por meio de narração-cantada e de longos e complicados planos-sequência, somente para, depois, esse caos total ser restringido a duas gangues principais, com especial destaque para a do vilão principal Buppa, uma espécie de Elvis Presley oriental, sádico e canibal (não necessariamente nessa ordem) e de seu minion sarado Mera, amante de katanas e com complexo de inferioridade.

Tudo caminha para um longo (longuíssimo) final apoteótico que, desconfio, o próprio diretor não entendeu direito ou não se preocupou em dar coesão. É uma espécie de colcha de retalhos com direito a tudo e qualquer coisa jogada no meio para ver se funciona, como lutas de espadas, lutas marciais, artilharia pesada, tacos de beisebol, “moedores de carne” e um onipresente hip hop sacudindo a experiência. Achar sentido é uma proposta insignificante no meio dessa deliciosa e absolutamente inesperada mixórdia que divertirá os que estiverem preparados para algo louco – o cinema todo aplaudiu todos os momentos marcantes e efusivamente no final – e enervará aqueles que esperam algo com um mínimo de coerência (vários casais saíram antes do final!). No entanto, tanto os que gostaram e os que não aguentaram terão ao menos uma sandice audiovisual para cultuar e/ou para contar para seus filhos e netos.

Uma coisa é certa: não dá para simplesmente ignorar Gangues de Tóquio. É, sem dúvida alguma, um daqueles momentos cinematográficos raros e únicos que abrem horizontes (para o bem ou para o mal, pouco importa de que lado você está) e ficam marcados em nossa mente coletiva. Não duvido que, nos próximos anos, cinemas underground do mundo todo acrescentem esse filme entre aqueles que são repetidos costumeiramente para uma plateia ávida por bizarrices divertidas.

Gangues de Tóquio (Tokyo Tribe, Japão – 2014)
Direção: Shion Sono
Roteiro: Shion Sono (baseado em mangá de Santa Inoue)
Elenco: Akihiro Kitamura, Hitomi Katayama, Tomoko Karina, Ryôhei Suzuki, Hiroko Yashiki, Shôta Sometani, Haruna Yabuki, Kokone Sasaki, Shunsuke Daitô, Yôsuke Kubozuka, Riki Takeuchi, Motoki Fukami, Yui Ichikawa, Denden, Shôko Nakagawa
Duração: 116 min.

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