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Crítica | Harley Quinn – 1ª Temporada

por Ritter Fan
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Apesar de eu não concordar, em linhas gerais, que os longas animados da Warner/DC são espetaculares como muitos defendem, especialmente nos últimos anos, as séries animadas são outra história, normalmente lidando muito bem com a adaptação do material fonte e isso desde o longínquo ano de 1941 com a série animada do Superman feita pelos estúdios Fleischer/Famous, passando, claro, por Batman: A Série Animada, Batman do Futuro, Superman: A Série Animada, Liga da Justiça (as duas) e Justiça Jovem, dentre várias outras. E é nessa mesma esteira, ainda que com um estilo completamente diferente, é que Harley Quinn ganha sua tresloucada série animada solo, a primeira que tem um vilão como protagonista, o que já automaticamente empresta uma visão diferente das coisas.

Nunca entenderei o como e o porquê de a Arlequina, criada lá atrás, em 1992, por Paul Dini e Bruce Timm para a citada série solo do Batman ter se tornado a personagem de primeira linha que é hoje em dia, mas isso pouco importa. O que é realmente relevante, gostando ou não, é notar que ela tem conseguido abrir espaços interessantes no universo cinematográfico da DC, interpretada por Margot Robbie, o que acabou tornando possível a série animada sob análise criada por Justin Halpern, Patrick Schumacker e Dean Lorey originalmente para o finado serviço de streaming DC Universe, onde teve duas temporadas, sendo transferida para a HBO Max em 2020, sem ainda uma data fixa para o já aprovado terceiro ano.

Composta por 13 episódios de quase exatos 22 minutos cada, o que garante um bom ritmo que mantém a ação fluindo, a série funciona, espiritualmente, como uma continuação da história da série animada em que Harley Quinn (voz de Kaley Cuoco em um trabalho que acerta na mosca desde o início) foi criada, com foco no fim de seu relacionamento doentio com o Coringa (Alan Tudyk, magistral), com sua jornada por autoafirmação em um mundo vilanesco dominado por homens que é exatamente o mesmo tema de fundo de Aves de Rapina: Arlequina e sua Emancipação Fantabulosa, filme produzido quase simultaneamente à primeira temporada da série. A escolha dos showrunners de contar apenas uma história continua é mais do que acertada, evitando-se a impressão de episódios soltos na velha e cansada estrutura de casos da semana. Muito ao contrário até, há uma progressão lógica que parte do abandono da vilã sidekick pelo Coringa, sua prisão, o estabelecimento de um laço de amizade com Hera Venenosa (Lake Bell) e a formação de uma equipe vilanesca formada por ela (e Hera, mas hesitantemente apenas); Cara de Barro (também Tudyk), que se acha um ator; Tubarão Rei (Ron Funches), especialista em informática; Doutor Psycho (Tony Hale), um nanico misógino e politicamente incorreto e, mais tarde, Sy Borgman (Jason Alexander hilário como sempre), um senhor meio homem, meio ciborgue que é cadeirante, com o objetivo de tocar o terror em Gotham e chamar a atenção da Legião do Mal, de forma que Harley possa usar a almejada entrada nesse clube exclusivo como seu objetivo de vida.

Outra escolha acertada da produção é soltar os freios do vocabulário chulo e da violência. Ainda que, por vezes, esses artifícios acabem se sobrepondo aos roteiros, especialmente quando a temática de amadurecimento de Harley começa a se repetir e a cansar, fato é que a série consegue alcançar um bom equilíbrio entre progressão narrativa e o choque de palavrões correndo solto, além de cabeças e membros decepados e sangue para todos os lados. O efeito cômico é bem-vindo, algo que o design de produção que recria os icônicos personagens de maneira muito própria e a técnica de animação ágil e fluida amplifica inúmeras vezes.

Igualmente, o uso de outros super vilões, como Lex Luthor (Giancarlo Esposito fazendo mais um personagem do mal de forma inesquecível), Espantalho (Rahul Kohli), Bane (James Adomian emulando aquela hilária voz rouca de Tom Hardy em O Cavaleiro das Trevas Ressurge, e diversos outros, inclusive os de categoria Z como a extremamente violenta Rainha das Fábulas (Wanda Sykes) e o hilário Homem-Pipa (Matt Oberg), que faz as vezes de interesse amoroso secreto de Hera Venenosa, além dos super-heróis clássicos como Batman (Diedrich Bader), Robin/Damian Wayne (Jacob Tremblay), Superman (James Wolk), Mulher-Maravilha (Vanessa Marshall, que também faz Giganta, ex-esposa do Doutor Psycho) e Aquaman (Chris Diamantopoulos), cria uma variedade impressionante de situações que, porém, sempre tendem a convergir para um caminho só e, melhor ainda, sem retirar o protagonismo de Harley Quinn que, diria, o divide apenas com Hera Venenosa. Aliás, a relação mentora-pupila estabelecida entre as duas nesta primeira temporada é muito boa, com Hera sendo a mulher madura que não se preocupa com sua imagem perante seus pares e que já graduou de bobagens vilanescas comuns e Harley sendo a porra louca desembestada e histérica que precisa por vezes ser trazida para o planeta Terra.

Aliás, falando nisso, se tem uma coisa que não gosto muito no design dos personagens, é a forma um tanto quanto adolescente que a protagonista é desenhada, algo que fica ainda mais gritante quando ela está ao lado de Hera Venenosa e, claro, do Coringa. Como a personagem não tem papas na língua e como ela já é uma mulher sexualmente experiente ainda que debaixo do jugo de seu “Pudimzinho”, teria sido menos estranho se ela tivesse ganhado uma versão de aparência mais adulta, mesmo que mantendo seu “Complexo de Peter Pan” em vestuário, cabelo e maquiagem, de forma a afastar de vez uma sexualização incômoda de alguém que parece ser menor de idade.

Mas esse é um preço pequeno a se pegar por uma série boa de se assistir, mesmo que ela por muitos episódios ande como um cachorro correndo atrás do rabo, ou seja, sempre traçando o mesmo caminho, a mesma temática, com incrementos muito pequenos no processo de amadurecimento de Harley. No entanto, vez outra sai um episódio marcante, como é o caso do 1X06 – You’re a Damn Good Cop, Jim Gordon – focado, claro, no depressivo e solitário Comissário Gordon (Christopher Meloni, excelente) que faz amizade com a mão decepada do Cara de Barro, que ganha vida e voz própria (Tom Kenny) ou dos episódios 1X05 e 1X10 – respectivamente Being Harley Quinn e Bensonhurst -, ambos focados exclusivamente em Harley, o primeiro com uma viagem pela mente da protagonista e o segundo por seu passado e sua família.

A primeira temporada de Harley Quinn é uma enlouquecida e muito divertida viagem da protagonista em busca de autoafirmação, autoconhecimento e amadurecimento que, apesar de seus exageros naturais e esperados, ecoa bem no processo de crescimento de muita gente do mundo real, por diversas vezes acertando na mosca ao lidar com os mais diversos tipos de abusos, mas sem jamais perder a comicidade. É como uma sitcom altamente cinética que usa o humor – por vezes bem sombrio e quase todas as vezes muito violento – para nos apresentar ao mundo como ele é especialmente para muitas (se não todas) as mulheres e deixar claro que a estrada para mudanças é longa e que por vezes ela pode não dar em lugar algum.

Harley Quinn – 1ª Temporada (EUA, 29 de novembro de 2019 a 21 de fevereiro de 2020)
Desenvolvimento: Justin Halpern, Patrick Schumacker, Dean Lorey
Direção: Juan Meza-Leon, Matt Garofalo, Ben Jones, Frank Marino, Cecilia Aranovich Hamilton, Colin Heck, Vinton Heuck, Brandon McKinney
Roteiro: Dean Lorey, Justin Halpern, Patrick Schumacker, Jane Becker, Jess Dweck, Adam Stein, Tom Hyndman, Laura Moran, Jordan Weiss
Elenco: Kaley Cuoco, Lake Bell, Alan Tudyk, Tony Hale, Ron Funches, Jason Alexander, J. B. Smoove, Diedrich Bader, James Adomian, Giancarlo Esposito, Sean Giambrone, Wayne Knight, Rahul Kohli, Vanessa Marshall, Christopher Meloni, Matt Oberg, Jim Rash, Wanda Sykes, Jacob Tremblay, James Wolk, Charlie Adler, Chris Diamantopoulos, Susie Essman, Tom Kenny, Natalie Morales
Duração: 286 min. (13 episódios)

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