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Crítica | Heels – 1ª Temporada

Vilões dentro e fora do ringue.

por Kevin Rick
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Entre G.L.O.W.Lutando Pela FamíliaYoung Rock, e agora Heels, eu descobri um certo gosto por obras sobre o mundo do wrestling nos últimos anos. O que é totalmente irônico pensando no fato de que eu nunca vi sequer um evento do WWE ou qualquer outro tipo de liga wrestler – e confesso não ter vontade de assistir. Mas existe uma linguagem muito interessante que percorre os bastidores da luta profissional, seja o drama familiar sempre muito forte e empático, o ego que parece ser enraizado na profissão (todas as obras citadas abordam isso), a estética oitentista, e, especialmente, a metalinguagem.

Afinal, wrestling é sobre fazer um show para a audiência, e sempre me pareceu uma característica metalinguística muito curiosa para ser trabalhada com o espectador, principalmente pensando em como todas as séries/filmes de wrestling abordam o fato de que luta-livre definitivamente não é falso. É roteirizado, como se fosse um teatro de combate. Mas também é um esporte físico, trazendo machucados, cicatrizes e carreiras curtas. Dessa forma, entre um diálogo de espetáculo e artístico, com o lado realista e doloroso da profissão, os bastidores de wrestling se mostra mais complexo e intrigante do que pode parecer à primeira vista.

A título de exemplo, e não de comparação, Young Rock utiliza esse lado metalinguístico como explicação do que acontece neste mundo desconhecido, dentro do formato de comédia situacional, enquanto Lutando Pela Família tem uma pegada de jornada profissional-familiar. Em suma, usam os bastidores das lutas como curiosidade e/ou pano de fundo. Heels, no entanto, apesar de achar mais fraca no conjunto completo da obra, utiliza de maneira inteligente a criação dos roteiros das lutas e a metalinguagem como drama dos nossos protagonistas, os irmãos Jack Spade (Stephen Amell, com o carisma e a nuance de uma porta) e Ace Spade (Alexander Ludwig, surpreendentemente comovente), que herdaram a DWL, uma liga local de wrestling, de seu pai falecido.

A indicação está logo no título, heels, denominação usada para lutadores que interpretam vilões, enquanto os mocinhos ganham a conotação de face, além da glória do público. O criador da série, Michael Waldron (showrunner de Loki), constantemente faz essa conexão entre os papéis de ringue e a maneira como os personagens veem a si mesmos, ora vilões (por necessidade ou fatalidade), ou, no caso de Ace, a vontade de ser um herói público para esconder seu caráter no mínimo duvidoso. É um ótima sacada de Waldron, e o melhor elemento da série de bem longe, pois consegue trabalhar dramas humanos profundos (ego, trauma, raiva) com o espetáculo visual dos combates.

Essa construção conjunta do ofício e o pessoal dá uma carga dramática muito bacana às lutas e ao próprio negócio da DWL – ficamos torcendo para a liga deslanchar -, pois é muito eficiente tanto na metalinguagem quanto na dramaturgia sempre dinamizada com arcos e conflitos sendo criados e resolvidos no ringue. Os problemas de Heels começam quando o roteiro tentam se afastar disso, ou melhor, pretendem criar uma abrangência de temas e subtramas com o elenco coadjuvante. Mesmo dando os (merecidos) holofotes para os irmãos Spade, Waldron intenta criar uma saga familiar com vários personagens em desenvolvimento, o que acaba detraindo do foco da obra.

Para mim, isso é pior no meio doméstico da família Spade, com a esposa de Jack, Staci (Alison Luff), como também os pais dos protagonistas, normalmente com flashbacks horrivelmente deslocados na montagem. Entre diálogos expositivos e dramas familiares apáticos, esse lado da obra ganha uma desinteressante camada novelesca. Mesmo que a série nunca finja não ser melodramática, o lado wrestling compensa a superficialidade de alguns conflitos com a estética, a emoção do palco e a dinâmica dos lutadores profissionais. É por isso que algumas subtramas do elenco de apoio da DWL funcionam melhor que a história “casinha” dos Spade, mas nada realmente marcante ou bem-desenvolvido – com exceção de um belíssimo cliffhanger de uma personagem coadjuvante. Heels não vai te deixar embasbacado com o melodrama e a narrativa clichê, mas há o que se gostar na história de dois irmãos falhos comandando uma liga de pro wrestler. No entanto, quando não estamos no ringue ou no kayfabe da DWL, a série parece perdida.

Heels – 1ª Temporada (EUA, 15 de agosto de 2021 a 10 de outubro de 2021)
Criação: Michael Waldron
Direção: Pete Segal, Jessica Lowrey
Roteiro: Michael Waldron, Bradley Paul, Daria Polatin, Rachel Sydney Alter, Eli Jorné, Rodney Barnes, Eric Martin
Elenco: Stephen Amell, Alexander Ludwig, Alison Luff, Mary McCormack, Kelli Berglund, Allen Maldonado, James Harrison, Roxton Garcia, Chris Bauer
Duração: 468 min. (08 episódios)

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