Home QuadrinhosMinissérie Crítica | Heróis em Crise #1: Eu Estou Apenas Aquecendo

Crítica | Heróis em Crise #1: Eu Estou Apenas Aquecendo

por Luiz Santiago
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  • SPOILERS! Confira as críticas para as outras edições da série aqui.

Existem histórias que, por causa de seu forte apelo pessoal e por aquilo que forma a sua base narrativa (ainda mais pra um escritor tão dramático quanto Tom King), vão, por excelência, dividir o público em duas grandes parcelas: os enraivecidos pelo que leu, e os felizes e talvez emocionados pelo que leu. Minha nota inicial diz de cara em qual desses grupos eu me encaixo, mas afirmo que consigo perceber, mesmo com meu deslumbramento, que existem coisas nesta edição de estréia da minissérie em 9 partes intitulada Heróis em Crise que não vão cair bem em todos os gostos. A começar pela premissa. Antes, porém, um contexto sobre a narrativa é necessário. Vamos a ele.

Para quem ainda não sabe, Tom King é um ex-agente do departamento de contra-terrorismo da CIA, além de ser formado em Filosofia e História, pela Universidade Columbia e ter uma visão de dramas com muita ação e violência desde muito cedo, por ter crescido em um meio cinéfilo, já que sua mãe trabalhava no departamento de home video da Fox, algo que o próprio autor já apontou como influência para o seu modo e até preferência de escrita. Claro que isso pode resultar em horrores vergonhosos como Batman #50 (2018), mas também pode trazer coisas tão fantásticas e tão variadas como Visão: Pouco Pior Que Um Homem & Pouco Melhor Que Um Animal (2016), Senhor Milagre (2017 – 2018), Batman / Hortelino Troca-Letras (2017) ou Monstro do Pântano – Especial de Inverno (2018), só para citar algumas dentro do campo de super-heróis. Considerando esses aspectos, é possível perceber o por quê o autor resolveu destacar um assunto que ele já vinha trabalhando, nas entrelinhas, em inúmeras outras publicações que escreveu. Em Heróis em Crise, Tom King fala diretamente sobre o Transtorno de Estresse Pós-traumático.

As informações de contexto da minissérie que trago neste parágrafo NÃO SÃO SPOILERS! Todos são dados oficiais da DC Comics fornecidos previamente para a imprensa, antes da publicação desta primeira edição. Na história de Heroes in Crisis #1: I’m Just Warming Up, descobrimos que existe um lugar, no Nebraska, que por fora aparenta ser apenas um rancho isolado. Dentro, porém, funciona um estabelecimento baseado em tecnologia kryptoniana, para onde vão heróis que precisam se curar de marcas psicológicas e emocionais deixadas pela violência de seu cotidiano, de traumas que suas vidas defendendo os outros lhes trouxeram. Não existe uma equipe humana de prontidão no local, para garantir o anonimato dos que recorrem a ele, pedindo ajuda. O atendimento no Santuário é feito inteiramente por hologramas e robôs. Não existem arquivos. As únicas pessoas que sabem quem visita o Santuário são os seus criadores, Batman, Mulher-Maravilha e Superman, e é reportado que eles desencorajam firmemente que os heróis falem sobre o Santuário. Sabe-se que o local existe, mas não se deve falar sobre ele. Ocorre que, nesta primeira edição da minissérie, descobre-se que os que estavam em tratamento ali foram mortos. Todos eles. Bem… quase todos. Arlequina e Gladiador Dourado escaparam. E um acha que foi o outro que cometeu a carnificina.

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Como eu disse no começo da crítica, as opiniões devem se dividir. E isso acontecerá porque essa edição de estreia traz MUITAS MORTES. Aqui, um atalho: estamos falando de quadrinhos, certo? Então a gente já espera quando é que esse povo vai voltar à vida. Não é novidade, não será o primeiro nem será o último plano de morte-que-não-vai-durar. Mas para o propósito dessa minissérie, a coisa foi bem colocada. Se será bem administrado ou não no futuro — ou se o retorno desse povo à vida será bom ou não, é outra história. Em Heróis em Crise #1, as muitas mortes têm peso, são expostas de maneira cruel, mas dramaticamente respeitosa por parte da Trindade e funcionam como motivador de saga, exatamente como aconteceu em Crise de Identidade, com a qual a presenta crise compartilha muita coisa. Vários leitores provavelmente lembrarão daquela “febre de matar” que tomou a DC nos anos 90, e trarão perguntas sobre a luta entre os dois iniciais suspeitos dos crimes, questionando a coisa desde seu início. Como eu disse antes: para alguns, Heróis em Crise não vai funcionar sequer na premissa. Para mim, porém, funcionou muito bem e não consigo evitar a animação para a continuidade dessa história, pedindo à Presença que Tom King mantenha o mesmo nível de qualidade dessa edição de estréia.

Com a ótima arte de Clay Mann e cores de Tomeu Morey, temos um resultado visual impactante, onde a violência não é escondida e onde o luto e a dor que o roteiro tão bem coloca ganha nos desenhos a sua melhor exposição. Únicos pontos que vejo em falta aqui é uma menor quantidade de informações iniciais sobre o Santuário e uma grande exploração da luta entre Arlequina e Gladiador Dourado, que acaba sendo redundante (mas não ruim). Heróis em Crise começou bem quente e ganha, em uma definição do Morcegão, algo que não é novo para nós, mas que da forma como é costurado nessa revista, promete bons frutos: “nossa luta por redenção é agora mais outra caça por vingança“. Bem-vindos a Heróis em Crise.

Heroes in Crisis #1: I’m Just Warming Up (EUA, 26 de setembro de 2018)
Roteiro: Tom King
Arte: Clay Mann
Cores: Tomeu Morey
Letras: Clayton Cowles
Capa: Clay Mann, Tomeu Morey
Editoria: Jamie S. Rich
36 páginas

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