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Crítica | Jumanji: Próxima Fase

por Iann Jeliel
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Jumanji: Próxima Fase

O primeiro Jumanji dessa nova versão buscava atualizar a linguagem do clássico de 1995 para uma nova geração, mudando as dinâmicas de aprendizado para algo mais juvenil. Era uma espécie de Clube dos Cinco dentro de um videogame, seguindo essa proposta com devida coerência e notória inventividade ao se aproveitar dos conceitos básicos da funcionalidade do universo gamer dentro da via cinematográfica no humor. Boas ideias não faltavam, mas a forma como elas eram articuladas soavam completamente genéricas diante do desejo desesperado de ser comunicativo de modo geral, as chances do filme adquirir uma personalidade própria ou mesmo a essência do clássico se perdiam. Respeitando a lógica do universo, Próxima Fase é na verdade uma DLC do anterior, uma expansão com novos personagens, cenários, desafios e dilemas, mas que ainda fazem parte de um mesmo jogo, no caso, um mesmo filme.

Então, não dá nem para dizer que é uma continuidade, por mais que tente amadurecer algumas relações, elas serão levadas aos mesmos fins, assim como o gameplay será sobre o mesmo destino: “Salvar Jumanji”. Sendo assim, os mesmos problemas do antecessor aparecem, em especial, a artificialidade da missão, que é o mais incômodo. Mesmo sendo “intencional” por ser de fato artificial, tratando-se de um jogo, mais parece que esse fato é usado como muleta para o filme poder fazer o que quiser e ter uma desculpinha. Além de ser um desserviço ao modus operandi de entretenimento, torna as regras de periculosidade do mundo previamente estabelecidas, inúteis. Há uma cena em que dois personagens brigam e um tira uma vida do outro de propósito, mesmo cada um estando com apenas duas, como se eles já soubessem que a última não seria perdida, e o filme anterior estabelece que morrer ali é morrer na vida real. Outra cena, em que outro personagem, que chega perto do final sem ter perdido nenhuma vida, morre duas vezes na mesma armadilha, mesmo já sabendo de sua funcionalidade, só para criar uma igualdade com os demais.

Esses são só exemplos para demonstrar como o filme banaliza a estética de game como um mero protocolo. Então, se já era difícil se relacionar ou se importar com o tamanho da jornada aventuresca anteriormente, quem dirá agora que ela já se dá como cumprida. O caminho poderia perfeitamente compensar essa artificialidade através de complementos consideráveis de universo, mas esses não passam de cosméticos nem tão chamativos assim. As cenas de ação, por exemplo, apresentam coreografias e resoluções igualmente preguiçosas, tudo se resolve de uma mesma maneira, meio que no improviso hack and slash (leia-se: estilo de jogo baseado puramente no combate corpo a corpo), não buscando barreiras a serem desviadas de modo estratégico para deixá-las ao menos um pouco mais ortodoxas e imprevisíveis. Os vilões e os animais não têm qualquer textura imagética icônica, aparentam nem ser ameaças consideráveis, e se tratando de um jogo, só a aparência seria um elemento considerável, mas nem isso.

A saída dessa cartilha convencional recai na troca de avatares entre os personagens e no discurso motivacional dramático, sem dúvidas, as mudanças estruturalmente mais notórias do filme, esquecendo um pouco da juventude para se concentrar no polo oposto, a velhice, representada pelo arco de Danny DeVito e Danny Glover. A dupla, além de dar um frescor humorístico para a dinâmica anterior não ser tão repetitiva, apresenta uma interação própria, resgatando um pouco do discurso do clássico na edificação de mensagens em prol  da quebra de orgulhos e enfrentamento do passado. O jogo se torna um catalisador de sentimentos e uma nova oportunidade de recomeço libertador de uma amizade.

Se tivesse mais tempo para ser desenvolvido, o arco poderia dar até uma sensação de frescor, contudo apesar de superficial, acrescenta a força motriz dos teoricamente protagonistas do filme, que vivem um drama de relacionamento juvenil extremamente simplório, mas que ganha uma camada plausível ao se complementar com a prática do jogo como refúgio de inseguranças físicas e emocionais. Ao menos isso leva o filme a um desfecho satisfatório, pena que essa essência de Jumanji não está em Jumanji: Próxima Fase, ou pelo menos não fala mais alto do que um sequenciamento de memes passageiros artificiais, para rir no momento e só, não lembrar mais de nada ao fim da sessão.

Jumanji: Próxima Fase (Jumanji: The Next Level – EUA, 2019)
Direção: Jake Kasdan
Roteiro: Scott Rosenberg, Jake Kasdan
Elenco: Dwayne Johnson, Kevin Hart, Jack Black, Karen Gillan, Awkwafina, Nick Jonas, Alex Wolff, Morgan Turner, Madison Iseman, Ser’Darius Blain, Danny DeVito, Danny Glover, Rhys Darby, Colin Hanks, Rory McCann, Marin Hinkle, Vince Pisani, Dorothy Steel, Dania Ramirez, Derek Russo
Duração: 124 min.

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