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Crítica | Nova Ordem Espacial

por Ritter Fan
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Nova Ordem Espacial é a resposta coreana a ficções científicas distópicas da ordem de Elysium e Alita, com a Terra inóspita para a vida enquanto paradisíacas estações espaciais orbitando o planeta abrigam uma elite privilegiada e uma androide em forma de menina passa a ser caçada a todo preço pela onipresente UTS, basicamente a corporação que manda em tudo. E o resultado é um longa que, de um lado, surpreende pelo que visualmente consegue fazer com o parco orçamento de algo como 20 milhões de dólares, mas que, por outro, decepciona por ser fundamentalmente mais do mesmo no estilo hollywoodiano, ou seja, uma sucessão interminável de perseguições e batalhas espaciais que colorem e escondem seu vazio.

Os humanos Tae-ho (Song Joong-ki), Capitã Jang (Kim Tae-ri) e Tiger Park (Jin Seon-kyu) e o robô Bubs (Yoo Hae-jin) formam uma de várias equipes de “varredores espaciais” que vivem de recolher lixo e detritos em órbita do planeta e que, em uma missão de rotina, deparam-se com a pequena androide na forma de uma menina de sete anos, decidindo, ato contínuo, pedir resgate por ela. Essa é a premissa que serve de isca para uma interminável sucessão de reviravoltas, contextualizações e histórias pregressas que, por sua vez, servem de desculpa para o que mais parece um completo caos em computação gráfica que quase que literalmente suga o espectador para dentro de um videogame descontrolado. Sem dúvida há diversão para quem não quiser mais nada além de um visual belíssimo capaz de induzir crises epilépticas, personagens tão profundos quanto cartolina (até há uma tentativa de dar mais estofo a Tae-ho, mas o roteiro não consegue sair da superfície trágica clichê) e um vilão, o magnata James Sullivan (Richard Armitage, ator que ainda não disse a que veio, mas que tem uma das vozes mais marcantes da atualidade), que parece a amálgama de todos os vilões-tão-exageradamente-sinistros-que-são-engraçados que já singraram as telonas e telinhas.

Mas a grande verdade é que a história não sustenta a duração do filme que estica toda ponta narrativa que pode e basicamente repete as sequências de ação sempre com pequenas variações e um incremento de exageros e gritarias, com a direção de Jo Sung-hee tentando emular a decupagem cinética de Michael Bay, mas sem a mesma eficiência, confundindo muito mais do que dando tempo para o espectador realmente admirar o CGI que a obra mantém de maneira uniformemente boa ao longo de seus 137 minutos. E o mesmo vale para os cenários físicos, notadamente o bagunçado, mas convincentemente vivido espaço do interior da Victory, nave dos lixeiros protagonistas, com mecanismos de voo diferenciados controlados pelo normalmente descalço Tae-ho e uma sala de máquinas no estilo “caldeira de locomotiva” comandada no braço por Tiger Park em sequências energéticas que criam uma bela interação entre os tripulantes, mas que, como tudo no filme, acontece por vezes demais, desgastando o potencial muito rapidamente.

Curiosamente, apesar da duração mais do que alongada, quase não há espaço para os relativamente poucos personagens saírem de sua unidimensionalidade ou oferecerem algo mais do que os típicos histrionismos de filmes orientais de ação. Mesmo a esperada conexão que os quatro tripulantes da Victory estabelecem com a pequena androide vem artificialmente, como se o roteiro escrito a seis mãos tivesse receio de engajar o espectador em algo mais do que o básico para permitir que a trama ande. Na verdade, o que realmente parece é que as reviravoltas ditam a narrativa e não o contrário, tornando a obra escrava de suas próprias necessidades e aquebrantando a fluidez.

Diria até mesmo que Nova Ordem Espacial fica em um desconfortável meio termo entre um potencial bom filme mais curto e uma potencial boa série mais longa. Ao não ser econômico com a redução do que tem de supérfluo para focar um pouco no lado humano em um longa de duração acanhada e ao também não ser perdulário para investir de vez em subtramas bem desenvolvidas que poderiam ocupar alguns episódios mais ritmados, o longa estaciona em uma órbita genérica, mesmo que mereça aplausos por entregar visuais realmente impressionantes especialmente em razão do pouco que custou. É, no final das contas, mais uma vez, a famosa forma sobre substância que até tem seus momentos inspirados, mas que, no agregado, é só a mesma coisa novamente.

Nova Ordem Espacial (Seungriho – Coréia do Sul, 05 de fevereiro de 2021)
Direção: Jo Sung-hee
Roteiro: Yoon Seung-min, Yoo-kang Seo-ae, Jo Sung-hee
Elenco: Song Joong-ki, Kim Tae-ri, Jin Seon-kyu, Yoo Hae-jin, Richard Armitage, Kim Mu-yeol, Park Ye-rin
Duração: 137 min.

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