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Crítica | O Agente Invisível (1942)

por Iann Jeliel
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O Agente Invisível

No retrospecto da franquia de O Homem Invisível, mencionei algumas vezes o fato de suas continuações não se comportarem como as demais dos monstros da Universal que geralmente buscavam ganchos mirabolantes para dar continuidade. Essas criavam algo mais isolado para ser resolvido dentro do próprio filme, característica que as torna não tão descartáveis assim, pelo menos dá algo diferente a cada filme, embora todos compartilhem de problemas semelhantes. No caso dos spin-offs, esse problema está relacionado ao fetiche do estúdio – não exatamente ao monstro em si – pelo poder da invisibilidade para propagar nas entrelinhas de um tom cômico panfletagens  ideológicas que envelheceram muito mal e engolem completamente uma relação, apenas isolada com a narrativa de entretenimento. Em A Mulher Invisível, a invisibilidade estava diretamente entrelaçada à possibilidade dos efeitos visuais trabalharem um jogo de molde do corpo feminino, insinuando a nudez objetificadora da mulher sem ela estar devidamente nua. E por mais que essa idealização seja deveras problemática, não chega a ser tão escancarada em narrativa, pelo menos não como a de Agente Invisível, que evidentemente trabalha sua relação de invisibilidade como um recurso vencedor de guerras e apropriação territorial.

O caráter de propaganda nem é um problema exatamente, uma vez que boa parte desses filmes da década de 40, especialmente os hollywoodianos, tratavam da relação tensionada do mundo com o nazismo com um repúdio claro, objetivo e justo, afinal, é nazismo. O próprio Chaplin em O Grande Ditador assumia escancaradamente seu objetivo panfletário pró-América e antinazismo, mas ele sabia como articular isso dentro da comédia ao explorar na narrativa diferentes situações que expunham a nocividade nazista e davam o contraponto humanista para “converter” para seu lado. Aí é que está, esse filme não tem nenhum interesse em utilizar o humor para realmente ser uma arma de conversão, ele quer impor seu lado do maniqueísmo de forma que possa humilhar o outro. Tá, mas qual o problema, afinal ele está humilhando o nazismo, né? Sim, o problema não está nessa abordagem, mas em como é executada nos preceitos de storytelling.

Detalhando em pormenores, além de ser chato (e não tem termo melhor que possa usar aqui) acompanhar uma missão de espionagem sob total controle, sem dificuldades para criar algum tipo de tensão, sem ter o desenvolvimento do respectivo agente envolvido, o que junto ao fato de ele não ter dificuldade na missão, faz com que nós não nos importemos de maneira alguma com ele ou com a missão, especialmente porque ela somente glorifica o potencial bélico americano, o grande incômodo no final dessa lambança, se direciona ao mesmo do outro spin-off: a objetificação da mulher. Nesse caso, de forma ainda mais problemática, apesar de não ser exatamente pelos mesmos motivos. O artifício sai do romance, algo comum nos filmes da franquia, o protagonista sempre se depara com algum interesse romântico, o que acaba criando uma barreira dramática no abraçar da  invisibilidade, menos aqui, que é justamente invertido.

No momento em que Griffin Junior – não dá para saber de qual Griffin de outro filme esse é filho, denominado Frank Raymond –  põe os pés no território alemão, uma das alemãs já fica completamente caidinha por ele, por conta de sua beleza, e ele corresponde, então o maniqueísmo do roteiro já desaparece para essa personagem. Na prática, ela é também uma nazista, mas o filme sempre esconde essa informação ou dá n desculpas para torná-la uma vítima do sistema, somente para ser plausível os dois ficarem juntos no final, ou melhor, o agente representante americano roubar o único objeto valioso naquele terreno: a mulher. Digo isso porque existem lá os objetivos da missão, pegar uma informaçãozinha de um aqui, avisar do plano de outro ali, mas no fim o prêmio é a mulher e o percurso para consegui-la é brincar de camper com os nazistas, e o filme se divertindo ao vê-los sendo enganados e amedrontados por alguém que eles não podem ver.

Até há uma ou outra sequência que dá para chamar de criativa nesse sentido, mas é algo isolado… tão isolado que juntas não dão nem para compor uma narrativa minimamente planejada, sobra espaços tediosos de uma história completamente irrelevante. Ao menos poderia ser mais centrada no terror, avançando um passo a mais na proposta humilhadora dos nazistas, mas o conforto do humor era mais acessível para a propaganda chegar a todo mundo. No fim, o homem americano que assistiu a isso na época deve ter ficado bem dividido entre matar nazista ou comprar o passaporte imediatamente para a Alemanha e garantir mulheres tão facilmente como o filme sugeria.

O Agente Invisível (Invisible Agent | EUA, 1942)
Direção:
Edwin L. Marin
Roteiro: Curt Siodmak (Baseado na obra literal de H.G Wells)
Elenco: Ilona Massey, Jon Hall, Peter Lorre, Cedric Hardwicke, J. Edward Bromberg, Albert Bassermann, John Litel, Holmes Herbert, Keye Luke
Duração: 81 minutos

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