Home FilmesCríticasCatálogos Crítica | O Caçador de Diamantes (1933)

Crítica | O Caçador de Diamantes (1933)

Uma história de bandeirantes.

por Luiz Santiago
237 views

As filmagens de O Caçador de Diamantes começaram em 1931 e terminaram em 1932. O registro do filme na Cinemateca Brasileira coloca-o como sendo uma produção de 1933 (ao que parece, o ano de validação da fita era dado quando de sua passagem pela avaliação da censura), mas ele estreou oficialmente em 15 de janeiro de 1934, no Rio de Janeiro. Dirigido por Vittorio Capellaro, a obra mistura elementos romantizados da História do Brasil Colonial — e o destaque, claro, está no período das Bandeiras — com eventos da ópera O Guarani, de Carlos Gomes (1870), o que por tabela também traz algumas piscadelas para o homônimo livro de José de Alencar.

Vendida como “uma epopeia das bandeiras dos fins do século XVIII“, a trama se passa em São Paulo, no ano de 1656, e classifica-se como uma obra de aventura costurada por um romance, trazendo uma direção surpreendentemente competente em alguns momentos. Na obra, D. Luiz e D. Fernando são jovens valorosos que se aventuram pelo sertão do país em busca de ouro e pedras preciosas. Ambos também são apaixonados pela mesma mulher, a jovem D. Maria, e esse fato acirrará os ânimos e fará com que os planos de uma bandeira única sejam frustrados: D. Fernando seguirá acompanhado de dois personagens que são o alívio cômico do filme, mais um indígena mestiço; enquanto D. Luiz seguirá com um time maior e mais bem organizado, aparentemente destinado a conseguir o que quer.

O espectador encontrará neste filme de 1933, os mais diversos horrores sociológicos e históricos, começando pela maneira como os povos originários são mostrados na tela. O mesmo padrão racista e questionável de abordagem se vê no tratamento aos escravizados, mas aqui há uma mescla de etnias que torna a trama até um tanto irreal (às vezes não parece que se passa em território brasileiro), aproximando-a das narrativas aventurescas e igualmente racistas de Hollywood na década de 30, vendo povos nativos de qualquer lugar como indivíduos “etnicamente exóticos“, conceitualmente inferiores e dignos de pena, abrindo as portas para o paternalismo e justificativas de domínio desses povos pelos “bastões da civilização“, como se autointitulam os europeus e/ou os seus descendentes.

É possível destacar neste filme o bom trabalho da direção de arte e a boa noção de ritmo cênico do diretor Vittorio Capellaro. Embora seu trabalho não seja exemplar ao longo de todo o filme (especialmente após a partida dos homens para o interior), ele lida bem com cenas internas e externas, consegue bons cortes e interessantes mudanças de plano, fazendo com que o filme tenha uma característica até mais europeizada, um tantinho diferente do estilo de direção (mais despojado, livre e até experimental) de obras marcantes do Brasil em safras próximas, como Lábios Sem Beijos (1930), Limite (1931) e Ganga Bruta (1933), por exemplo.

A história de O Caçador de Diamantes começa com um encaminhamento sólido e visualmente impressionante, mas aos poucos perde os seus melhores traços, abrindo espaço para um romance batido e para arroubos heroicos dos homens brancos. Trata-se, contudo, de uma produção interessante do cinema brasileiro da década de 30, e vale a pena ser vista tanto para debate histórico, quanto para o contato do espectador com uma produção nacional distinta daquelas comumente encontradas em nossas telonas naquele momento. Não é um bom filme, mas tem bons momentos, o que não torna a sessão um completo desperdício.

O Caçador de Diamantes (Brasil, 1933)
Direção: Vittorio Capellaro
Roteiro: Vittorio Capellaro, Niraldo Ambra
Elenco: Elmo Califontes, Reginaldo Calmon, Benevenuto Capellaro, De Carlos, Corita Cunha, Luigi Golfi, Nobre Jocoso, Sérgio Montemor, Rubens Rocca, Irene Rudner, Francisco Scollamieri
Duração: 85 min.

Você Também pode curtir

Este site usa cookies para melhorar sua experiência. Presumimos que esteja de acordo com a prática, mas você poderá eleger não permitir esse uso. Aceito Leia Mais