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Crítica | O Guardião do Tempo (Timecop – quadrinhos)

por Ritter Fan
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Diversas propriedades – licenciadas como Alien e RoboCop ou “nativas” como Concreto – que hoje os leitores conectam com a Dark Horse Comics começaram a ser publicadas pela editora como parte de antologias lançadas mensalmente, em estratégia semelhante à adotada com sucesso pela Marvel Comics nos anos 60 e 70. Na verdade, a primeira publicação da editora, em 1986, ano de sua fundação, foi a longeva Dark Horse Presents que, em 1992, ganhou uma “companheira” simplesmente intitulada Dark Horse Comics (aparentemente, eles não quiseram gastar dinheiro imaginando um título menos óbvio) e foi nos três primeiros números dessa segunda publicação no formato de antologia que O Guardião do Tempo, ou, no original, Timecop, nasceu.

Nasceu e morreu em termos de quadrinhos, vale dizer, pois, dois anos depois, sua adaptação cinematográfica homônima estrelada pelo belga Jean-Claude Van Damme viria para fazer enorme sucesso (o maior do ator até hoje, aliás) e, com isso, ofuscar a HQ que nunca viria a ganhar continuação, contando apenas uma história bem simples de 21 páginas (sete em cada edição) que introduz Max Walker, um policial do tempo que viaja para o passado atrás de bandidos que tentam usar a tecnologia para benefício próprio. No caso, ele precisa lidar com um vilão que viajara para um momento bem específico de 1993, na África do Sul, de maneira a roubar um gigantesco diamante que estava prestes a ser descoberto.

Obviamente, o conceito estava longe de ser novo mesmo em 1992, tendo sido ostensivamente usado apenas três anos antes em De Volta para o Futuro Parte II. A criação de Mark Verheiden usa até mesmo um transporte em alta velocidade para ser a máquina do tempo, no caso uma espécie de cápsula em um trilho que acelera em direção a uma parede. No entanto, o que o roteirista escreve parece ser, apenas, um embrião de uma ideia, por mais nobre que seja sua tentativa de lidar com questões socioeconômicas relevantes como os diamantes de sangue, obtidos a partir da exploração de mão de obra quase escrava e o regime do Apartheid. É que os temas não ganham qualquer desenvolvimento decente, permanecendo no campo das ideias somente, com os espaços das páginas sendo usados muito mais para a ação propriamente dita, recheado pelas bravatas do protagonista, o que faz parte do jogo, claro.

Mas esse jogo desaponta justamente porque o próprio conceito de viagem do tempo, um dos artifícios mais bacanas da ficção científica, fica essencialmente em segundo plano, com o texto de Verheiden focando em exposição atrás de exposição (algo que é usado até como gancho da segunda para a terceira parte, com a promessa de que as “explicações acabaram”, ou coisa do gênero) e uma linha narrativa que coloca Walker lutando contra um “robô ajudante” do vilão, em uma escolha que tira todo o “gosto” da cobiça humana da história. Faltou estofo narrativo, alguma coisa que trouxesse uma roupagem um pouco mais sofisticada para a premissa, o que, admito, poderia estar nos planos do autor para as edições futuras que nunca viram a luz do dia e que provavelmente foram inseridas por ele no longa cinematográfico cujo roteiro ele mesmo escreveu.

A arte de Phil Hester sofre de “noventismo agudo” no que se refere a Max Walker que materializa visualmente os diálogos rasos de Verheiden com ombreiras exageradas, ridículos e gigantescos óculos de lentes vermelhas e um colete alienígena demais, especialmente se lembrarmos que o “presente” da história é apenas o ano de 2007. O “tira do tempo”, em tradução literal, parece muito mais uma versão de Flash Gordon ou Buck Rogers do que um policial de um futuro bem próximo da época de publicação da história. Sei que faz parte do estilo da época, mas não precisava. De resto, a ambientação nos anos 30, por seu turno, funciona, assim como a presença dos humanos coadjuvantes nas duas incursões de Walker em 1933, mas, em razão do espaço, é tudo muito corrido e superficial.

Timecop tem ideias simples, mas boas, que são infelizmente executadas no estilo mais econômico possível para muito claramente servir de “teste de conceito” para uma futura franquia que, como sabemos, foi exatamente o que aconteceu. Teria sido interessante ver mais das ideias de Verheiden nos quadrinhos, mas, pelo visto, ele se contentou com o filme do Van Damme de 1994. Ou, claro, ele só tinha mesmo essas poucas ideias e mais nada…

O Guardião do Tempo (Timecop – EUA, 1992)
Contida em: Dark Horse Comics #1 a 3
Roteiro: Mark Verheiden
Arte: Phil Hester
Arte-final: Chris Warner
Cores: Rachelle Menashe
Letras: Clem Robbins
Editora: Dark Horse Comics
Data original de publicação: agosto a outubro de 1992
Páginas: 21

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