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Crítica | Ring: Espiral

por Leonardo Campos
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A realização de filmagens simultâneas de produções oriundas do mesmo universo cinematográfico não é novidade em no contexto industrial. Do lado de cá, especificamente no esquema estadunidense, a saga de Laurie Strode e Michael Myers foi anunciada como ainda não finalizada, tendo dois filmes, Halloween Kills e Halloween Ends como as obras que encerram a clássica jornada que desde 1978, tornou-se parte integrante do nosso imaginário slasher. Não sabemos se foi realizado como divulgado em notas na imprensa, mas a ideia era filmar as duas sequências de uma só vez. Como dito, a proposta não é novidade e a franquia japonesa Ring, da mitológica saga da menina do poço, Sadako, fez algo semelhante, com um orçamento sem a mesma pompa do exemplo supracitado.

Antes de compreender a história de bastidores, vamos ao filme. Sob a direção de Jôji Iida, cineasta guiado pelo roteiro inspirado nos personagens de Koji Suzuki, Ring – Espiral é uma produção underground tratada como a continuação não-oficinal do primeiro filme. Amontoado de situações absurdas, a trama repleta de reviravoltas nada orgânicas e pouco impacto por causa de sua letargia. Ao partir do desfecho de Ring – O Chamado, testemunhamos a morte do ex-marido da protagonista, vida ceifada pela maldição de Sadako. É quando conhecemos o Dr. Ando Hitsuo (Koichi Sato), homem que enfrenta uma profunda depressão. Ele vive o luto pela perda do filho num afogamento e, pasmem, tem um chumaço do cabelo do jovem, retirado enquanto tentava salvá-lo da situação que terminou em tragédia.

Hitsuo se torna um homem em colapso, quase um suicida, alguém que não chega às vias de fato por falta de coragem. Numa atmosfera de mistério mais voltado ao cientificismo que propriamente o terror, a narrativa investe em teorias insanas sobre a presença de Sadako em nosso plano. Observe. Certo dia, no auge de sua melancolia, o personagem recebe uma ligação que o intimida a realizar uma necropsia. Ao chegar, ele percebe que o cadáver é do homem morto no final do primeiro filme, uma pessoa que possui ligação com seu passado, pois ambos estudaram Medicina juntos. No procedimento, ele descobre a motivação da morte, um tumor na garganta e uma mensagem no estômago, algo que sabemos, será parte de uma investigação em busca da decifragem do conteúdo que encaminhará a história para um novo patamar.

Agora, somos informados que Sadako é um vírus. O mesmo tumor é descrito no laudo de outras pessoas, as que sabemos fazer parte do esquema maligno da menina amaldiçoada. Ao assistir a tal fita VHS que nesta produção, ganha apenas um breve destaque, a pessoa é infectada pela retina. O seu vírus, por sinal, traz alguns elementos da varíola. Dessa mirabolante trajetória aos demais desdobramentos, a história faz uma menção ao grupo de teatro onde Sadako vivenciou algumas experiências no passado. Será esse o gancho para as abordagens de Ring – Zero. Numa luta intensa para eliminar os planos da entidade de se propagar e ainda ter seu DNA distribuído para o surgimento de clones que dominarão o planeta, a produção segue o seu ritmo com diálogos subjetivos, cercados por situações ainda mais nebulosas.

Com direção de fotografia sombria, Hakoto Watanabe enquadra esta história mirabolante em sua estrutura dramática, mas visualmente simples. O design de som de Masaji Hojoi mantém a padronização oriental para o gênero terror, sem excesso de ferrões sonoros em prol da fabricação de sustos fáceis. A trilha sonora de La Finca é atmosférica, sem grandes rompantes, constantemente em insinuações. Mais uma vez, o design de produção de Iwao Saitô se faz presente num terror oriental, eficiente e sutil, como nas demandas anteriores, da mesma maneira que os efeitos visuais de Hajime Matsumoto, setor bastante cauteloso nas aparições da entidade que por sinal, surge num padrão totalmente diferente dos anteriores, quase nunca apresentada como o monstro que cristalizado no bojo da cultura pop.

Ademais, a tal história envolvendo a transformação de Ring – Espiral em um filme underground é o seu desaparecimento por um longo período, motivado pela produtora que resolveu esconder o produto, considerado fiasco na época de seu lançamento. Basicamente, a Asmik Ace realizou a sequência ao mesmo tempo em que produzia o primeiro filme. A ideia era ganhar dinheiro em torno de uma publicidade diferenciada. Os dois filmes seriam lançados ao mesmo tempo. O que se esperar disso tudo? O óbvio: quem pagar para assistir o primeiro e gostar provavelmente dedicaria algum tempo para ver o segundo filme, já disponível. Correto? Não, errado. O magnetismo com o primeiro filme se estabeleceu, mas Ring – Espiral não agradou por causa de sua trama confusa e “escalafobética”. Tornou-se cult e objeto de análise para cinéfilos corajosos e críticos curiosos, tal como quem vos escreve.

Ring: Espiral (Rasen) — Japão, 1998
Direção: 
Jôji Iida
Roteiro: Jôji Iida, Kôji Suzuki
Elenco:Kôichi Satô, Miki Nakatani, Hinako Saeki, Shingo Tsurumi, Shigemitsu Ogi, Yutaka Matsushige, Daisuke Ban, Naoaki Manabe, Naoto Adachi, Eri Kakurai
Duração: 95 min.

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