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Crítica | Skull: A Máscara de Ahanghá

por Leonardo Campos
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Várias indústrias cinematográficas ao redor do planeta já investiram em narrativas com assassinos mascarados e trajados com fantasias de todo tipo, mas os Estados Unidos são considerados os pioneiros no subgênero slasher, modalidade transformada continuamente desde os primeiros filmes do segmento, situados na década de 1970. Aqui no Brasil, há algumas incursões num tom menos industrial e mais experimental, mas Skull: A Máscara de Ahanghá, quando lançado, mostrou-se um pleno exercício do slasher em território brasileiro, um espetáculo de sons, imagens e dramas humanos que permitem ao filme ser um destaque nessa atual fase da nossa cinematografia focada em estabelecer o terror como gênero próprio do cinema nacional. Ao longo de seus 90 minutos, o filme não é uma obra-prima da dramaturgia, mas não deve em nada aos comparativos que geralmente fazemos com os exemplares estrangeiros. Mortes, sangue, gritos, violência explícita e uma mulher no protagonismo contra a criatura misteriosa: essa é a estrutura desse slasher, uma produção que avança bastante no atual projeto de emancipação do terror no cinema do Brasil.

Sob a direção de Armando Fonseca, cineasta que teve como apoio o texto de Kapel Furman, Skull: A Máscara de Ahanghá traz como narrativa uma estrutura simples. Na trama, uma investigadora analisa a antiga máscara que nomeia o filme, artefato que representa o vassalo de um deus pré-colombiano, encarnado na contemporaneidade e em busca de vingança. Material místico perdido em sua travessia por gerações, a máscara é como um talismã, pronto para ser utilizado e assim, permitir que uma trilha de sangue e violência se estabeleça com quem cruzar o caminho de seu usuário. Num determinado dia da atualidade, alguém encontra o artefato, acontecimento que anima o empresário Tack Waelder (Ivo Muller), um homem que busca poderes ao dominar o tal objeto macabro. Inicialmente, a história se passa brevemente na Amazônia, para depois, se deslocar para os espaços agitados da metrópole paulista.

Para conseguir se apossar do conteúdo encontrado num canteiro de obras da região, o empresário que representa o necessário clichê da elite econômica opressora precisará enfrentar a astúcia da investigadora Bruna Tristão (Natallia Rodrigues), policial construída de maneira dúbia pelo roteiro, responsável aqui por investigar as mortes ligadas ao artefato. Complexa em sua construção, a personagem divide espaço em cena com mais duas curiosas figuras ficcionais: o padre Vasco Magno (Ricardo Gelli) e o ex-guerrilheiro Manco Ramirez (Wilton Andrade), todos a enfrentar Skull, interpretado por detrás da máscara e nos trejeitos eficientes por Rerik Jr. Assim, em sua linha narrativa agitada e intensa, o filme espalha uma trilha de corpos por São Paulo, enquanto a investigadora tenta encontrar uma resolução para os crimes e os demais, lutam para resguardar as suas vidas incautas, ameaçadas pela presença do monstro captado com eficiência pela direção de fotografia de André Sigwatt, figura aterrorizante que em seus ataques, ganha o acompanhamento da trilha sonora de Fernando Arruda e do design de som de Bruno Yudi.

Ademais, a direção de arte de Lize Borba é um trunfo, juntamente com os figurinos de Maithe Chasseraux, os efeitos visuais deslumbrantes de Raphael Borghi e a maquiagem da dupla formada por Jessica Andrade Monge e Bruna dos Santos. Produzido pela Fantaspoa Produções, Skull: A Máscara de Ahanghá é um filme que clama por vários reajustes dramáticos, mas consegue ficar acima de muitas produções do nosso cinema, só por evitar os diálogos teatrais e a perspectiva artificial das encenações. Aqui, o elenco atua para cinema, deixando de lado os vícios de uma cultura que infelizmente se perpetua em alguns dos nossos esquemas de produção: a entoação teatral, poética e inadequada do texto, algo que atrapalha a fruição do ritmo das narrativas e tornam as coisas um tanto artificiais, quase na caricatura. Para os interessados no subgênero, não faltam referências. O monstro em tela é a cara do Jason, de Sexta-Feira 13, salvaguardas, claro, as devidas proporções. A explosão de uma cabeça traz a inevitabilidade metalinguística com Scanners, do David Cronenberg, momentos que juntamente com a morte de um casal no momento íntimo de um ato sexual, revelam que os realizadores do filme entendem de referencialidade e das regras básicas do slasher.

Skull – A Máscara de Ahanghá — Brasil, 2020
Direção: Armando Fonseca, Kapel Furman
Roteiro: Armando Fonseca, Kapel Furman
Elenco: Rurik Jr., Tristan Aronovich , Gilda Nomacce, Ivo Müller, Natallia Rodrigues
Duração: 90 min.

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