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Crítica | Titãs – 2X06: Conner

por Gabriel Carvalho
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“Krypto, acho que estamos no Kansas.”

Contém spoilers.

Como apresentar um novo personagem, especialmente um tão super quanto o em questão, no meio de uma temporada já em andamento? Dentre as características que possui, coesão, no caso, é uma que a série protagonizada pelos Titãs raramente consegue acertar. Numa oportunidade do passado, por exemplo, ela inseriu um episódio avulso a tudo que estava sendo construído no dado momento. E mais tarde, no término do seu primeiro ano, simplesmente esqueceu-se da existência daquele desvio bem inesperado – relacionado, na ocasião, à dupla Columba e Rapina. Dessa vez, novamente nos remetendo a tais equívocos cometidos antes, a apresentação de Conner (Joshua Orpin), personagem igualmente conhecido como Superboy nos quadrinhos, surge como uma outra digressão na caminhada da série. Em primeiro lugar, a mitologia heróica do jovem nada tem a ver com o universo até então introduzido. Desse modo, personagens principiantes são quem ganham espaço, como se o Exterminador, antagonista maior da trama principal, nem mesmo existisse. No seu lugar, outros contrapontos aos protagonistas são contemplados, vide a sombra de Luthor. Esse ”garoto” – o Experimento 13 para ser mais exato -, portanto, desponta externamente ao enredo primordial. E, no mais, para – aparentemente – piorar a sua situação, Conner surge como um anti-clímax, justo depois de um gancho absurdo ter terminado o quinto capítulo da segunda temporada

Entretanto, mesmo sem ter um terreno promissor para isso, as consequências geradas por esse pretexto por sorte não rendem, como era esperado, consequências realmente problemáticas. Em contrapartida às expectativas mais negativas, o que o episódio conquista é uma surpresa positiva. Embora a presumida costura entre este novíssimo super-herói e a queda para a morte de Jason Todd (Curran Walters) não ter me agradado enquanto hipótese, ao menos antes, a sua execução aqui, contudo, possui um outro valor. Quando tal personagem, que um dia seria conhecido como Superboy, impede a queda de um alguém em apuros, o que está sendo concretizado não possui envolvimento com a pessoa em perigo, não necessariamente. Na resolução do gancho passado, que retorna para encerrar esse capítulo, pouco importa o Robin em si, porém, o significado da ação de resgate para o protagonista do episódio e apenas ele. Conner encontra-se, no caso, em uma jornada particular, contada passo-a-passo nesta sua introdução. Que seja parte de um completo acaso o garoto, após uma sucessão de eventos, estar exatamente perto do prédio onde os Titãs enfrentavam o Exterminador. Como o ponto de vista está centrado nele e não na ação dos demais personagens, a coincidência opera bem, especialmente por se encerrar com uma outra reviravolta repentina, mas que permanece a manter o enfoque, apesar disto, neste garoto recém-apresentado.

Por isso, uma competente apresentação, antecedendo qualquer outra coisa mais secundária, é um ponto que precisaria ser orquestrado. Logo, vê-se uma necessidade por contextualizar, no episódio em questão, o Laboratório Cadmus, seus cientistas e, portanto, seus experimentos – o que então acontece, em meio a uma simplificação que não pode ser confundida com simploriedade. É desse ambiente, mostrado rapidamente na cena pós-créditos do episódio conclusivo do ano anterior, que Conner se emancipa, juntamente do cão Krypto – que parece não ser do planeta Krypton, como na sua origem clássica. Com os dois, existe uma gama de novas informações surgindo, sem qualquer correlação com o Batman e cia, mas com o Superman e seu arqui-inimigo Lex Luthor. Pois esse Superboy é um clone que mistura o material genético de Clark Kent com o de Luthor. Fora o embate moral entre seres antagônicos que mora em sua mente, o garoto, em paralelo, é alguém que não conhece a si mesmo, inexperiente perante o mundo. Joshua Orpin, portanto, é certeiro na sua condução de uma personalidade bem ingênua, ainda que pontualmente agressiva – percebem como há muito mais honestidade nessa ambivalência de humores do que nos ataques pouco convincentes de Rachel? Poucos personagens, no mais, completam um episódio de confrontos simples, contudo, verdadeiros. Mercy Graves (Natalie Gumede), por exemplo, é uma personagem genérica, mas que atua como ponte, entre a trama do Superboy e a presença oculta de Lex Luthor.

Da objetividade com que orquestra seus confrontos – um experimento que escapa e precisa ser recuperado -, o episódio consegue retirar profundidade de camadas subjacentes, como na questão científica – é correta a prática de clonagem humana? Ou seja, o certo e errado são questionados por Conner, em meio aos genes de seres antagônicos – e mais do que genes. Até a ação é parte de um aprendizado gradual de poderes – e a computação gráfica é boa, inclusive a em Krypto. Sem meramente tirar da manga outro personagem para compor elenco, propósitos mais sinceros existem. Estes são, no caso, estudar o garoto e também estudar as pessoas que permitiram Conner existir. Clark Kent e Lex Luthor encontram-se presentes, nem que seja indiretamente, pois suas origens são revistas em prol de uma conversa entre elas e a de Conner. Na comparação que as moradias originais de cada um deles ganha, por exemplo, a casa de Kent soa ser bastante convidativa, ao passo que a de Luthor não – porém, mesmo assim, a do próprio protagonista consegue ser a pior. Esse sexto episódio da segunda temporada, por consequência, é o momento mais puro da série nos termos de pensar o que torna um ser super-poderoso um herói. Enquanto o amado Superman representa a utopia humana – as referências ao herói são sempre revestidas de encantamento -, Lex é apontado, pelo seu próprio pai, como alguém desde a infância problemático.

Logo, o Bem e o Mal são contrapostos de uma maneira maniqueísta, o que não seria um problema, caso isto não errasse na complexidade de Eve Watson (Genevieve Angelson), a criadora do clone. Em contraste a demais representações, a mulher, por sua vez, tem um caráter incerto. Ela possui um papel crucial na formação de Conner, quase sendo referida como mãe pelo garoto, apesar de certas escolhas no seu passado a corroer. O seu desenvolvimento, entretanto, é extremamente errático, porque o episódio não consegue propor, sem se perder, nuances para suas discussões. Posições são tomadas em primeira instância para que, em uma outra, sejam contrariadas – como quando ela aponta que não existe experimento científico ruim e, posteriormente, depois de nada substancial ter acontecido, aponta o contrário. Embora seja interessante a série estar pensando esses assuntos, retornando ao core do sub-gênero, isso não significa que a perfeição termina sendo alcançada. De qualquer forma, permanece existindo um tratamento mais classicista das raízes do estudo de super-herói nesse sentido, desde a temática do protagonista que precisa descobrir quem é ao tema clássico de John Williams, composto para o Superman, que é sugerido várias vezes ao longo do episódio. Por esse caminho de pensamento, o capítulo ser um desvio na trajetória da série até o momento combina um tanto com o deslocamento inerente ao personagem.

Titãs – 02X06: Conner – EUA, 11 de outubro de 2019
Criação: Akiva Goldsman, Geoff Johns, Greg Berlanti
Direção: Alex Kalymnios
Roteiro: Richard Hatem
Elenco: Joshua Orpin, Natalie Gumede, Genevieve Angelson, Peter MacNeill, Brenton Thwaites, Curran Walters, Anna Diop
Duração: 45 min.

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