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Crítica | Vingadores: A Cruzada das Crianças

por Luiz Santiago
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Assim como um péssimo alguém tornou Titeuf popular no Brasil em 2018, um alguém péssimo tornou os Jovens Vingadores e a já esquecida Cruzada das Crianças populares em 2019, desta feita, com um caso de censura (misto de cortina de fumaça + antecipação ideológico-eleitoral + homofobia) em plena Bienal do Livro no Rio de Janeiro. Esta famigerada história da Marvel Comics, publicada originalmente entre 2010 e 2012, é uma estranha passarela entre dois momentos de “sumiço por um tempo” da Feiticeira Escarlate, que desapareceu após os terríveis acontecimentos de A Queda e Dinastia M, tornou-se o centro das atenções aqui, e desapareceria novamente, em uma busca por suas raízes e eventualmente encontrando novas origens (leia-se: a Marvel tentando contornar seus problemas com os direitos autorais dos personagens…).

Com título inspirado na quase lendária e muito romanceada Cruzada das Crianças (1212), esta minissérie de nove edições e um Especial teve roteiro de Allan Heinberg e começa, de forma tensa, nas páginas da Uncanny X-Men #526, em um conto de oito páginas chamado Reconstrução. Basicamente temos aí os heróis (e Magneto) remodelando Utopia enquanto uma conversa sobre os Jovens Vingadores vem à tona, acompanhada da possibilidade de parentesco entre Magneto, Célere e Wiccano, o que impressiona e enche de ideias o mutante manipulador de metais. É uma introdução rápida que cria uma interessante base de laços familiares e fraternos, dando abertura para uma busca que colocará muita gente em perigo, basicamente um alerta para o que de fato seria a minissérie Cruzada das Crianças.

Sem uma equipe fixa de Vingadores naquele momento e com os X-Men em um estágio delicado de existência, após as consequências da frase-feitiço “chega de mutantes“, os Jovens Vingadores tiveram uma rápida escalada de importância no Universo Marvel. No cerne da presente aventura, eles começam combatendo os Filhos da Serpente, mas logo a história avança para algo completamente diferente, seguindo o seguinte rastro: Wiccano usa seus poderes de forma perigosa demais para um mago de sua idade. Os Vingadores ficam morrendo de medo de que ele esteja “fadado a repetir o efeito Wanda“, então, a história de A Queda e Dinastia M é recapitulada e um conflito ético-moral se apresenta, com Wiccano tomando a iniciativa de ir atrás de Wanda, no que é acompanhado, meio que abruptamente, pelos amigos de equipe. É a partir daí que o título Cruzada das Crianças passa a fazer sentido e o verdadeiro tema da história é lançado.

Vingadores - A Cruzada das Crianças #1 (2010) - plano crítico apresentação dos personagens

Fazendo as devidas apresentações.

A principal impressão que nós temos ao longo da leitura é que o roteiro dá voltas demais e força demais a barra para criar algo grandioso em cima de uma coisa demasiadamente simples. Tudo bem que se tratando de Wanda Maximoff e com Magneto, Mercúrio e Doutor Destino em cena, as coisas não seriam exatamente simples, mas uma parte bem grande da história se importa mais em criar situações de luta que valem mais pelo choque, pela demonstração de algo que todos nós já sabemos (Ciclope é um babaca) e por uma construção de tema principal que demora tempo demais para dar frutos e quando dá, rapidamente se perde — o que definitivamente atrapalha a nossa relação mais simpática com a história.

No meio de tantos momentos bonitos que o roteiro nos traz, em meio a interessantíssimas discussões éticas sobre vingança, prisão e punição de alguém que fez algo ruim (mesmo sem ter controle do que estava fazendo), o leitor precisa lidar com desvios pelo fluxo temporal, diálogos transversais que muitas vezes irritam (Hulking tendo que falar o tempo inteiro que vai salvar o namorado) e umas idas e vindas dos heróis mais velhos que atrapalham o ritmo da história, nublam o protagonismo dos Jovens Vingadores e algumas vezes tornam situações de batalha bem menos interessantes, porque alteram demasiadamente o equilíbrio entre as forças. Não fosse a ótima arte de Jim Cheung (finalizada por Mark Morales) essas cenas teriam ainda menos força sobre nós.

No todo, a mensagem da série é bonita, destaca a importância da família e dos amigos em empreitadas difíceis, da mesma forma que mostra que esses grupos podem ser os deflagradores de coisas muitos ruins, se não tivermos o equilíbrio emocional necessário para lidar com algumas situações. Infelizmente o roteiro se perde em divagações e não sabe segurar por muito tempo boas cenas com os personagens mais jovens — vejam no final, por exemplo. Exceto pela fofíssima cena de afeto entre Wiccano e Hulkin, tudo ali, inclusive a homenagem, me soou vergonhosamente enlatado. No conjunto, trata-se de uma obra importante para a Marvel, pelo tratamento que dá à Feiticeira Escarlate, e é claro que tem seus momentos engraçados, tocantes e que nos deixam cheios de expectativa. Mas isso apenas o bastante para que o título termine levemente acima da média. Parece que a Cruzada das Crianças na ficção também repetiu as indefinições da Cruzada histórica. E pior: ao mesmo tempo como tragédia e como farsa.

Uncanny X-Men #526: Rebuilding (EUA, 2010)
Roteiro: Allan Heinberg
Arte: Olivier Coipel
Arte-final: Mark Morales
Cores: Justin Ponsor
Letras: Joe Caramagna
8 páginas

Avengers: The Children’s Crusade / The Children’s Crusade – Young Avengers (EUA, 2010 – 2012)
No Brasil: 
Coleção Oficial de Graphic Novels Marvel #66 (Salvat, 2016) e Vingadores Especial #1 e 2 (Panini, 2012)
Roteiro: Allan Heinberg
Arte: Jim Cheung / Alan Davis
Arte-final: Mark Morales, Jim Cheung / Mark Farmer
Cores: Justin Ponsor / Javier Rodriguez
Letras: Cory Petit
Capas: Jim Cheung, Justin Ponsor / Alan Davis, Mark Farmer, Javier Rodriguez
Editoria: Tom Brevoort
264 págnas

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