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Crítica | Pantera Negra 2099 (Marvel Knights)

por Luiz Santiago
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SPOILERS!

Mas o que é isso, Robert Kirkman? O que é isso?“. Esta seria a reação mais simpática de um leitor ao terminar esse arremedo de roteiro escrito pelo co-criador de The Walking Dead. Ambientada na Terra-2992, no ano de 2099, a trama começa no castelo do Doutor Destino, na Latvéria, onde presenciamos o início de uma nova Era para o ditador. O leitor se pergunta qual é o sentido de uma introdução do ponto de vista externo, especialmente quando se trata de uma história com única edição de 24 páginas. Em outras situações, o início distanciado poderia fazer sentido. Mas aqui não é o caso.

Num ato de paciência, o leitor espera que Kirkman faça valer o tempo perdido e aguarda a aparição de Wakanda, onde K’Shamba, príncipe herdeiro ainda não coroado (e ao que tudo indica, ainda não iniciado no sagrado rito do Pantera Negra) nos é apresentado. Por mais simples que se proponha a trama, é de praxe a execução de um bloco narrativo forte para o protagonista o mais cedo possível, dentro de um enredo, pois é esse bloco que deverá levar a trama adiante, lidando aqui e ali com problemas adicionais. O que acontece, porém, sem mais nem menos, é uma invasão a Wakanda feita pelos robôs de Doom, que tomam conta do país inteiro. Sim. É isso mesmo que vocês acabaram de ler.

Agora vamos olhar para esta construção de texto da maneira mais crua possível. Fase um: Lucien assume o manto do Doutor Destino. Fase dois: K’Shamba é acordado para uma reunião de emergência do Conselho Nacional, os atuais regentes do país. Fase três: no meio da reunião, sem nada decidido e sem uma única base de justificativa (a citação de K’Shamba de que os anciãos não estavam governando bem o país não toca sequer a superfície de justificativa para uma invasão latveriana) os Doombots chegam à super-protegida Wakanda, tomam o lugar e… bem, é disso que a história irá se tratar. Da resolução de uma invasão, a rigor, uma “aventura à distância”. E este princípio é algo muito incomum para um título da Marvel Knights, que por excelência se dispõe a apresentar ao público formas diferentes de construção para versões alternativas de personagens.

composição visual wakanda invadida por doutor destino doombots pantera negra

Doombots por todos os lados, em uma Wakanda invadida. Uma das piores composições visuais que eu já vi. Cadê a harmonia? Cadê o sentido visual disso? Algo que dê imponência à invasão e não crie uma bagunça estética!

Por mais purista que possam parecer as minhas reclamações em relação à harmonia do painel cheio de Doombots em Wakanda, desenhado por Kyle Hotz e colorido por Jose Villarubia (as cores são boas, o problema é o desenho mesmo), a questão não é que “a arte não possa ser caótica“. Mas a coisa precisa fazer sentido dentro de uma proposta visual. E esse painel horroroso não faz sentido nem mesmo dentro da proposta horrorosa dessa invasão criada por Kirkman. Ainda bem que este é o único momento visual da trama que nos faz revirar os olhos. Mesmo não sendo nada que irá nos arrancar suspiros de inspiração, o trabalho de Hotz até que segue bem a maior parte do tempo, todavia, o infame painel de Doombots não tem como perdoar de jeito nenhum. Da mesma forma que não dá para perdoar a grande quantidade de elipses dessa aventura. Talvez por preguiça do autor e por prudência do desenhista a obra tenha adotado um tom praticamente de “sugestão de ação” em determinado ponto da Resistência, onde os wakandianos veem surgir novamente o Pantera Negra.

E então chega o final e nos perguntamos: “tá, e daí?“. Nosso impulso imediato é tentar buscar algum sentido na jornada forçada do roteiro para nos entregar — de forma não dita, mas sugerida — o clichê de que “Doom sempre vence“. Convenhamos que se isso fosse inserido em uma história onde o Pantera Negra de fato tivesse destaque, o domínio mental, a semente do medo, o contato telepático (?), a destruição por dentro… tudo isso ganharia um outro peso e traria a conclusão medonha, cínica e instigante que tal sugestão nos dá. Mas em uma história breve onde o foco é tortuoso, a passagem do tempo parece feita por um Time Lord bêbado e o destaque para o protagonista é apenas um eco genérico, essa colocação foi apenas mais um motivo para fazer desta uma das piores revistas do Pantera Negra.

Black Panther 2099 (Marvel Knights) — EUA, 2004
Roteiro: Robert Kirkman
Arte: Kyle Hotz
Cores: Jose Villarubia
Letras: Dave Sharpe
Capa: Pat Lee, Dreamwave Studios
Editoria: Tom Brevoort, Andy Schmidt, Nicole Wiley, Molly Lazer
24 páginas

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