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Crítica | Asterix e a Volta às Aulas

por Ritter Fan
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Asterix e a Volta às Aulas é o único álbum da contagem oficial das aventuras de Asterix e Obelix que não conta uma história única. Ele é, na verdade, uma compilação de 14 historietas escritas tanto por René Goscinny quanto por Albert Uderzo – e sempre desenhadas por Uderzo – ao longo dos anos, começando em 1966, e publicadas em diferentes revistas, dentre elas a Pilote, National Geographic e Elle.

Como havia enorme interesse dos fãs em ter acesso a esse material de forma organizada, as histórias foram reunidas no formato tradicional de álbum pela primeira vez em 1993, mas com tiragem de apenas 500 mil exemplares (só para fins de comparação, A Rosa e o Gládio, publicado em 1991, teve tiragem de 2 milhões de exemplares) e 10 histórias, além de vendido como parte de um pacote também com fitas VHS com os animações de Asterix. Em 2003, o álbum ganhou quatro novas histórias por Uderzo, uma nota dos editores e o título Asterix e a Volta às Aulas que vem da primeira historieta após a página de apresentação com Abracurcix em uma coletiva de imprensa e uma republicação com toda a pompa e circunstância e tiragem de 1,1 milhões de exemplares, sendo então inserido oficialmente como o 32º álbum da lista de álbuns canônicos da série.

Feita essa contextualização necessária, vale apenas afirmar que não será meu objetivo comentar cada uma das 14 histórias do álbum, já que algumas são extremamente curtas, deixando pouco espaço para uma análise crítica, com várias tendo sido criadas para contextos específicos que as tornam naturalmente mais limitadas, como por exemplo Lutécia Olímpica, encomendada pela prefeitura de Paris como parte da campanha da Cidade Luz para sediar as Olimpíadas de 1992. Como também é de se esperar de qualquer compilação dessa natureza, especialmente considerando que as histórias foram escritas ao longo de décadas e às vezes somente por Goscinny ou Uderzo e outras pelos dois, que haja uma certa oscilação de qualidade entre elas. No entanto, é alvissareiro notar que essa oscilação é mínima e, mesmo considerando os objetivos diversos de cada pequena história, uma delas contando sobre o nascimento de Asterix e Obelix e introduzindo seus respectivos pais (que voltariam em Asterix e Latraviata), a leitura é gostosa e agradabilíssima como um todo sem nenhuma delas destacando-se negativamente.

No entanto, se não há um destaque negativo, certamente há destaques positivos. O primeiro deles é justamente Volta às Aulas, a história de abertura escrita por Goscinny que coloca Asterix e Obelix às voltas com sua tarefa anual de catar todas as crianças da aldeia para forçá-las a ir à escola, até que Panoramix descobre que Obelix não sabe sequer o ano da Batalha de Gergóvia, com resultado hilário, claro. Outra história memorável é Primavera Gaulesa, escrita pelo próprio Uderzo, mas ainda sob orientação de Goscinny, que conta uma simpática fábula sobre as estações do ano e a demora da chegada da primavera. Aliás, Uderzo, que nunca realmente conseguiu escrever uma obra-prima nos álbuns de tamanho regulamentar de Asterix e Obelix, escreveu uma pequena obra-prima especialmente para a republicação do álbum em 2003, Cocoricóquix, o Galo Gaulês, que coloca o galo que ele sempre desenha em suas histórias e que, claro, representa a França, contra uma águia valentona que representa Roma. Simples e genial história com participação exclusiva dos animais da aldeia, incluindo, claro, Ideiafix.

Duas outras histórias merecem, talvez, destaque máximo. A primeira delas é Asterix Como Jamais Visto que faz gozação com sugestões fictícias de leitores sobre como Asterix e Obelix deveriam ser. É a primeira vez que vemos os irredutíveis gauleses desenhados em estilos diferentes, um realista, outro no estilo de Peanuts, outro como se fosse Flash Gordon e assim por diante em um hilário e auto-referencial exercício narrativo que Goscinny e Uderzo muito claramente se divertiram fazendo. A segunda história é a penúltima do álbum, Obelisc’h, em que Goscinny e Uderzo se inserem em uma narrativa passada nos dias atuais (mais precisamente na década de 60, quando ela foi escrita) em que eles descobrem a existência de um marinheiro que é descendente direto de Obelix. Uma verdadeira pérola metalinguística.

Asterix e a Volta às Aulas é, sem dúvida alguma, uma refrescante e bem-vinda fuga do formato tradicional dos álbuns da série que torna acessíveis ao público em geral as pequenas histórias escritas por seus autores ao longo dos anos. De certa forma, ele, também, deixa um gosto agridoce na boca do leitor já que o álbum seguinte – O Dia em que o Céu Caiu – seria o último escrito por Uderzo, marcando o que acabaria sendo oito anos de ausência de material novo sobre os amados gauleses.

Asterix e a Volta às Aulas (Astérix et la Rentrée Gauloise – França, 1993/2003)
Roteiro: René Goscinny, Albert Uderzo
Arte: Albert Uderzo
Editora original: separadamente em diversas edições da Pilote (incluindo uma da Super Pocket Pilote), uma da National Geographic, uma da Elle e uma da Jours de France; compilação original de 1993 pela Rombaldi e pela Gaumont Vidéo e a de 2003 por Les Éditions Albert René
Editora no Brasil: Editora Record
Páginas: 56

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