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Crítica | Fear the Walking Dead – 6X09: Things Left to Do

por Ritter Fan
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  • Há spoilers. Leia, aqui, as críticas de todos os episódios da série e, aqui, de todo nosso material do universo The Walking Dead.

Na seção de comentários da crítica anterior, disse a um leitor que June não era nada sem John dentro de um contexto em que eu queria indicar que nenhum dos personagens remanescentes de Fear the Walking Dead é realmente cativante para mim. Pois bem, não tenho problema nenhum em fazer um mea culpa e afirmar categoricamente que, depois de Things Left to Do, June é minha nova personagem favorita da série. Não tinha como ser diferente, pois uma personagem que, sem falar muito, mostrando-se atormentada pelo assassinato sem sentido do marido, acaba com toda a lenga lenga e choradeira do roteiro estourando os miolos da vilã simplesmente merece todo meu respeito e admiração, especialmente quando a sequência seguinte é ela colocando o chapéu de cowboy de Dorie e caminhando com a pistola dele para fora do acampamento utópico de Morgan-Que-Voltou-A-Ser-Paz-e-Amor. Só faltou tocar Bad to the Bone no momento…

Aliás, essa cena final, apesar de memorável, só não é melhor porque Virginia é uma vilã que nunca realmente disse a que veio. Sua vilania era meio que default, no sentido de ela ser má porque sim, sem uma contextualização maior, sem atos que realmente demonstrassem isso e pela psicose dela em relação a Morgan que criava toda a artificialidade da rivalidade entre eles. Por mais que eu gostasse de Colby Minifie no papel, a grande verdade é que sua personagem era uma hesitante colagem de características vilanescas genéricas e pouco engajadoras que resultaram em um protótipo de vilã que mais batia cabeça episódio sim, episódio não do que realmente justificava o ódio que todos fora e dentro de suas comunidades nutriam por ela. Não que Andrew Chambliss e Ian Goldberg tenham se notabilizado na criação de vilões, vide a velha louca da 4ª temporada e o mais do que genérico vilão falastrão Logan da 5ª temporada, mas eu ainda tinha um fiapo de esperança que “Ginny” fosse ser muito mais do que ela foi, notadamente com esse final cheio de chororô novelesco de revirar os olhos até das câimbras na linha do ela-não-é-minha-irmã-e-sim-minha-filha e tudo-o-que-fiz-foi-por-ela.

De certa forma, o fim da novela mexicana com um tiro nas fuças foi também um alívio. Pronto, ninguém mais fala nesse assunto e pronto, a morte de John Dorie não passou em branco como Morgan queria que passasse (e não, aquele papinho do “vamos deixá-la viver sofrendo por tudo o que ela fez na vida” simplesmente não cola a essa altura do campeonato). Tudo bem que Dakota continua viva e, pelo visto, será adotada pela comunidade de Morgan como aconteceu com Charlie, mas no mínimo esse paupérrimo arco de Virginia acabou. Espero muito que June, agora badass total, de certa forma emulando a frieza da em-tese-finada Madison (não tenho mais esperanças, mas vai que…), ganhe destaque e seja desenvolvida nessa linha desgostosa que ela demonstra, potencialmente unindo-se a Strand que, diga-se de passagem, é outro que não desapontou aqui ao revelar que já havia arregimentado seu próprio exército e que tem planos para potencialmente ser o sucessor de Virginia, mas com muito mais relevância para a série como um todo. Mais uma vez, agora é esperar que os showrunners trabalhem a prata da casa e não inventem mais vilões que  caem de paraquedas e que ficam patinando sem mostrar a que veio.

Mas vejam, não achem que eu sou frio e quero mortandade geral. Não é isso. Eu entendo o raciocínio paz-e-amor de Morgan e eu compreendo que, se é para recomeçar a civilização, ela não pode ter como ponto de início a decapitação de uma pessoa, por mais odiada que ela seja. Isso seria a reversão completa à Lei de Talião e também já passamos e muito desse ponto no universo The Walking Dead em geral. Meu problema, portanto, não está com a filosofia, mas sim com a forma como ela é executada. Basta notar como, em Things Left to Do, a sucessão de diálogos com lágrimas ou tons exasperados foi enfurecedora, isso sem contar o quão rapidamente todos estavam dispostos a considerar Dorie como uma baixa normal, mesmo que Morgan tenha sem momento rememorando o amigo. Uma coisa é a civilização, outras coisas bem diferentes são os sentimentos de cada membro dessa civilização. Sentir raiva, vontade de matar e de trucidar faz parte da vida e, mesmo que não levemos isso a a cabo no cotidiano – ou assim eu espero – os sentimentos precisam estar presentes e não suprimidos completamente como os roteiros costumam fazer a não ser no momento exato de uma morte importante (alguém se lembra do cervejeiro, por exemplo?).

June é, portanto, a válvula de escape desse episódio que tinha tudo para ser insuportavelmente modorrento mesmo sendo repleto de ação (todo os três HALs da avaliação se devem ao “momento June”). Espero que a ideia, agora, seja fazer com que os eventos destes dois últimos episódios funcionem como uma injeção de energia na série, com a alteração da dinâmica e o encaminhamento para um final decente, algo que FTWD não tem há tempos (End of the Line não conta, pois ele parece um episódio solto se levarmos em consideração os eventos anteriores).

Fear the Walking Dead – 6X09: Things Left to Do (EUA, 18 de abril de 2021)
Showrunner: Andrew Chambliss, Ian Goldberg
Direção: Michael E. Satrazemis
Roteiro: Nick Bernardone
Elenco: Lennie James, Alycia Debnam-Carey, Maggie Grace, Colman Domingo, Danay García, Garret Dillahunt, Austin Amelio, Alexa Nisenson, Rubén Blades, Karen David, Jenna Elfman, Colby Minifie, Demetrius Grosse, Michael Abbott Jr., Zoe Margaret Colletti, Devyn A. Tyler, Christine Evangelista, Peter Jacobson, Cory Hart, Raphael Sbarge
Duração: 50 min.

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