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Crítica | Halo – 2X08: Halo

Um desfecho sem sal.

por Kevin Rick
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  • SPOILERS. Acompanhe por aqui as críticas dos demais episódios da série.

Alguns leitores têm comentado algo bastante pertinente sobre a mitologia de Halo retratada na adaptação: é uma bagunça sem sentido. É muito fácil para mim e outros espectadores que conhecem os jogos preencher determinadas lacunas e conseguir entender o rumo da história, mas a maneira como os roteiristas continuam tropeçando para dar contexto e significado para a construção de mundo é inacreditável. Depois de duas temporadas e algo em torno de 16 horas de conteúdo, finalmente estamos no principal palco deste universo e, bem, não dá para entender nada do que está acontecendo. O que é o Halo? O que é o Anel? Para que servem aquelas armas? Qual a conexão de Chief com esse local? Quem é a civilização por trás de tudo isso? E qual é a relação desse lugar com os zumbis que apareceram do nada?

Eu sei a resposta de tudo isso, mas a série não oferece conjectura ou coerência para nenhuma dessas perguntas. Parem para pensar: depois de uma duração que poderia render uns 8 longas-metragens, a adaptação sequer criou interesse ou qualquer tipo de relevância para os eventos da história. Não estou dizendo que o roteiro deveria pegar na mão do espectador e mastigar a lore através de diálogos expositivos, como foi feito de maneira impaciente e vomitada de informações em Thermopylae, mas notem a falta de peso desse episódio. Estamos diante de um evento de extinção, de uma guerra interplanetária e de uma tecnologia desconhecida, mas a construção da temporada até chegarmos aqui é tão atrapalhada, tão focada nos temas errados que muito do que acontece aqui não tem importância ou simplesmente é arbitrário. É maluquice para mim termos tido mais tempo investido na busca por Kessler do que na relevância do Halo.

Honestamente, olhando para trás na encheção de linguiça de muitos episódios, fica mais do que claro que a chegada no anel poderia ter ocorrido no meio da temporada, ao invés de termos esse gancho safado. Quer dizer, depois de oito episódios, chegamos em um desfecho em que vimos pouco dos Covenant, que preparou muito mal a importância do Halo e que não criou relação com a maioria do personagens. Afinal, a chegada em Halo é realmente impactante (como deveria ser) ou soa mais como algo casual? Como se importar com a morte dos Spartan-III ou então a vingança boba com o Árbitro? E nem vou falar nada sobre o sacrifício sem sal da esposa de Loren – para mim, todos ele poderiam ter morrido lá dentro, inclusive Kwan e sua conveniência supernatural totalmente arbitrária.

Entendo o interesse da produção em criar um elemento dramático mais vulnerável e íntimo e também entendo mudanças narrativas para adequar o material de origem a essa abordagem, como o bom momento deste episódio quando John precisa decidir entre honra e a missão. Mas tenho a impressão que, para se criar esse tipo de perspectiva do material original, os roteiristas desperdiçaram por completo o lado militarista e o lado da ficção científica, em uma adaptação com potencial de ser excelente, mas que continua sendo um sci-fi razoavelmente emocional e bastante bagunçado em termos de construção de mundo. A apresentação do Flood, uma forma alienígena de parasita, é tão repentina quanto aleatória, na maneira equivocada que a produção continua trabalhando a mitologia da franquia.

Depois de tantas reclamações, deve ser ate difícil entender a razão de não ter um classificação ruim no início da crítica. Acontece que, como citei no texto do episódio passado, o desfecho da temporada tinha tudo para ser um bom clímax de ação, o que se concretizou nas mãos de Dennie Gordon. As sequências espaciais são tecnicamente eficientes e com boa direção para se criar tensão e intensidade, principalmente quando os Spartan-III estão flutuando entre destroços e corpos. Não gosto tanto das cenas de tiroteio dentro nave Covenant, que são basiconas, mas a chegada de Master Chief é foda, assim como seu combate “gamificado” com o Árbitro. Além de ação, porém, o episódio surpreende por suas características de horror, com uma apresentação sinistra e horripilante do Flood, como se estivéssemos em Resident Evil. O trabalho de câmera com a movimentação dos personagens, a iluminação, a performance dos “zumbis” e as cenas gráficas sobre o funcionamento do vírus são todos um destaque à parte do trabalho visual do episódio.

Por mais divertido e bem dirigido que o episódio seja, porém, o grande problema, para mim, é que nada tem significado ou peso, além de tudo soar extremamente aleatório. Ao longo da temporada, faltou paciência e organização para preparar o terreno deste desfecho. A mitologia é uma confusão, além de ser muito sacana passarmos por mais uma temporada inteira para termos tão pouco falado ou representado sobre o Halo, com tudo jogado para outra temporada (que não foi confirmada, vale ressaltar). Estou pouco me lixando para fidelidade, mas é triste ver o potencial da franquia ser desperdiçado em tela com um roteiro que entende a mitologia, mas não parece conseguir desenvolvê-la de uma maneira organizada, sem falar nas várias escolhas equivocadas com muitos personagens – como Soren e Kwan ainda estão na série me surpreende demais, porque eles não servem para nada. Se existe algo a ser pontuado de maneira positiva, é que o final do episódio com o 343 parece, superficialmente, indicar um possível terceiro ano que irá mergulhar na lore da franquia, com o Halo, o Flood e os Covenant ganhando (espero) mais tempo de tela do que coadjuvantes ruins. Não estou com grandes expectativas, mas, no meio da desordem dessa season finale, pelo menos dá para ficar curioso. Vamos ver se a série será renovada ou se tudo foi um gigantesco desperdício de tempo.

Halo – 2X08: Halo | EUA, 21 de março de 2024
Criação: 
Kyle Killen, Steven Kane
Direção:
Dennie Gordon
Roteiro:
David Wiener
Elenco: 
Pablo Schreiber, Shabana Azmi, Natasha Culzac, Bentley Kalu, Kate Kennedy, Charlie Murphy, Danny Sapani, Christina Bennington, Natascha McElhone, Julian Bleach, Karl Johnson, Hilton McRae, Ryan McParland, Gustavo Chiang, Oladapo Oluwatosin Okunlola, Samuel Tamunotoku Gbobo, Caroline Boulton, Claudius Peters, Danielle Fiamanya, Balázs Csémy, Joseph Morgan, Olive Gray
Duração: 52 min.

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