Home TVTemporadas Crítica | Justified – 3ª Temporada

Crítica | Justified – 3ª Temporada

Introduzindo uma ameaça externa.

por Ritter Fan
888 views

  • Há spoilers. Leiam, aqui, as críticas das demais temporadas da série e, aqui, de todo o material envolvendo o personagem Raylan Givens.

Depois de estabelecer os conflitos ao redor do subdelegado federal Raylan Givens (Timothy Olyphant) que retorna para sua terra natal na primeira temporada e de mergulhar ainda mais profundamente nas ameaças internas na segunda temporada, Graham Yost olha um pouco para fora do Kentucky e introduz um vilão que vem da máfia de Detroit e que quer se estabelecer no território do protagonista como o novo grande chefão do tráfico de oxicodona (ou apenas oxi, para os íntimos). Não que isso já não tivesse acontecido antes na série, pois já houve entreveros com a máfia de Miami e, claro, com a mineradora representada por Carol Johnson (Rebecca Creskoff), mas, agora, tudo parece partir dessa e convergir para essa nova ameaça exógena.

Neal McDonough, especialista em viver vilões estranhos, encarna Robert Quarles, o tal enviado da máfia de Detroit, com direito ao uso de uma conveniente pistola de manga e hábitos sexuais não muito saudáveis, além de aquele obrigatório passado traumático para explicar sua maldade. Não é um grande vilão, portanto, mais parecendo um recorte de diversos outros bem melhores que vemos por aí, o que acaba representando uma queda em qualidade na série especialmente se compararmos com a magnífica Margo Martindale como Mags Bennett, na temporada anterior. No entanto, Quarles, por logo se revelar um gângster bem menos cheio de si do que ele dá a entender que é, consegue criar interesse suficiente para justificá-lo como alguém que se encaixa nesse mundo particularmente imperfeito em que Raylan Givens vive.

Mais do que isso, Yost tem olhar clínico e sabe que não pode apostar todas as suas fichas em um personagem novo só e Quarles acaba funcionando como a “anomalia” dentro de uma estrutura bem sedimentada de “caipirice vilanesca” que a série oferece em generosa quantidade. Pensando no que já foi estabelecido, então, o showrunner pega peças de seu tabuleiro e as rearruma, de forma a primeiro dar mais destaque ao almofadinha de cabelo platinado e que mora em um trailer Wynn Duffy (Jere Burns) como uma espécie de segundo-em-comando para Quarles e, depois, introduzir Ellstin Limehouse (o excelente Mykelti Williamson) como o açougueiro e chefão de Noble’s Holler, região dominada por afrodescendentes. O maior uso de Duffy e a apresentação e desenvolvimento de Limehouse como uma espécie de “banqueiro” de bandido são os ingredientes que dão o verdadeiro tempero da temporada, já que todos os demais personagens e linhas narrativas conhecidas convergem para lá.

Ao trazer Quarles como um vilão em decadência que precisa se provar a seu chefe e mentor Theo Tonin (Adam Arkin, também diretor da série), ele necessariamente precisa escorar-se nos demais elementos criminosos da região, naturalmente justificando sua conexão com Duffy e Limehouse em razão de seu enfrentamento do bom e velho Boyd Crowder (Walton Goggins) e sua gangue composta agora por Ava (Joelle Carter), cada vez mais abraçando seu lado de gângster, Arlo (Raymond J. Barry), que continua vendo Helen (Linda Gehringer retornando em breve participação especial) em sua mente, Devil (Kevin Rankin) que tenta se bandear para o outro lado e Johnny (David Meunier), sempre traiçoeiro. E, como se isso não bastasse, um ponta narrativa não resolvida da temporada anterior – o destino do dinheiro desaparecido de Mags – funciona não só para trazer Dickie (Jeremy Davies) de volta, como também a jovem Loretta (Kaitlyn Dever), em uma bela maneira de se amarrar todo o conjunto da série até este ponto.

Em meio a isso tudo, é interessante notar como o próprio Raylan tem desenvolvimento acanhado que se limita a sua ex-esposa e quase futura nova esposa Winona (Natalie Zea), agora grávida dele, decidindo deixá-lo novamente em razão de sua incapacidade de mudar e se afastar do perigo. Trata-se de uma discussão interessante, que renderia bons desdobramentos dramáticos, mas, aqui, a escolha é simplesmente retirar a personagem do destaque da série, fazendo com que Raylan volte a ser ainda mais introspectivo, morando no andar de cima de um bar e tendo um caso com a bela dona. Há perfeita lógica no encadeamento dos acontecimentos no lado da vida pessoal do protagonista, mas meu ponto é que o caminho tomado na temporada é simplista demais, sem dar oportunidade tanto para Olyphant quanto para Zea trabalharem seus personagens a contento.

Não que o protagonista, às vezes, não possa abrir espaço para os vilões e para a trama como um todo, mas, aqui, Raylan por muito pouco não se torna um coadjuvante em sua própria série, diversas vezes funcionando muito mais como ponte narrativa do que como alguém organicamente inserido na história para além de suas conexões sanguíneas e de antigas amizades, claro. Se pelo menos Boyd Crowder tivesse subido no palco e tomado o (anta)protagonismo para si, a coisa seria diferente, mas não é o que acontece exatamente, pelo que por vezes é incômodo ver Raylan aparecendo para começar ou encerrar algo, sem efetivamente participar de todo o processo, algo que é bem visível na tentativa de armação de Quarles para cima dele, colocando-o na mira do FBI, uma situação que acaba tão rapidamente quanto começa.

Depois de chegar ao topo com sua segunda temporada, Justified dá uns passos atrás e mostra-se menos do que excelente em seu terceiro ano. Mas isso é normal e acontece nas melhores famílias, especialmente porque o resultado final ainda é muito bom. O importante é seguir em frente e tentar voltar ao topo novamente.

Justified – 3ª Temporada (EUA, de 17 de janeiro a 10 de abril de 2012)
Criação e desenvolvimento: Graham Yost (baseado em obras de Elmore Leonard)
Direção: Michael Dinner, Michael Watkins, Jon Avnet, Dean Parisot, Adam Arkin, Don Kurt, Peter Werner, Gwyneth Horder-Payton, Tony Goldwyn, John Dahl, Bill Johnson
Roteiro: Graham Yost, Fred Golan, Benjamin Cavell, Dave Andron, Taylor Elmore, Jon Worley, Nichelle Tramble Spellman, Ryan Farley, Ingrid Escajeda, VJ Boyd
Elenco: Timothy Olyphant, Nick Searcy, Joelle Carter, Jacob Pitts, Erica Tazel, Natalie Zea, Walton Goggins, Neal McDonough, Demetrius Grosse, Mykelti Williamson, David Meunier, Jere Burns, Raymond J. Barry, Jeremy Davies, Jonathan Kowalsky, David Andrews, Brendan McCarthy, Damon Herriman, Jesse Luken, Abby Miller, Jim Beaver, Jenn Lyon, Peter Murnik, Todd Stashwick, William Gregory Lee, Kevin Rankin, Stephen Root, Adam Arkin, Kaitlyn Dever, Rick Gomez, William Mapother, Max Perlich, William Ragsdale, Stephen Tobolowsky, Linda Gehringer
Duração: 550 min. (13 episódios)

Você Também pode curtir

Este site usa cookies para melhorar sua experiência. Presumimos que esteja de acordo com a prática, mas você poderá eleger não permitir esse uso. Aceito Leia Mais