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Crítica | Matando Generais: A Produção de Os Doze Condenados, de Dwayne Epstein

Melhor ficar só com o filme mesmo...

por Ritter Fan
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No subtítulo completo do livro Matando Generais, o autor Dwayne Espstein afirma que Os Doze Condenados é o filme mais icônico de Segunda Guerra Mundial, algo que é por si só algo polêmico, mas não completamente divorciado da realidade se lembrarmos que a longa obra de Robert Aldrich conta com um elenco composto por nomes como Lee Marvin, Charles Bronson, Telly Savalas, Ernest Borgnine, Donald Sutherland, John Cassavetes, Jim Brown, Clint Walker, Ernest Borgnine, dentre outros, uns já veteranos no ofício, outros em começo de carreira e se aceitarmos que sua premissa – soldados condenados por crimes graves formando uma unidade militar em missão secreta para assassinar oficiais nazistas do alto escalão de forma a comutarem suas penas – inegavelmente prende a atenção. E a proposta de um mergulho profundo na produção do longa-metragem de 1967, começando com a ideia para a história que resultou no romance que E. M. Nathanson publicou dois anos antes até seu lançamento nos cinemas americanos vem para não só provar essa afirmação, como, também, para costurar uma interessante história de bastidores. Ou, pelo menos, esses deveriam ser os objetivos do livro de Epstein.

O problema é que esses objetivos nunca são verdadeiramente alcançados. Nem de longe, diria. A escolha do autor em debruçar-se sobre o filme parece ter sido algo natural considerando que ele, em 2017, publicou uma biografia de Lee Marvin (Lee Marvin: Point Blank), mas Matando Generais (o título – Killin’ Generals – vem da última frase de Charles Bronson no longa) acaba sendo uma espécie de versão estendida de um repositório daquilo que Epstein não conseguiu inserir em seu livro anterior, resultando não exatamente em um making of literário como tanto outros que temos por aí (Filme, de Lillian Ross, Tubarão: Diário de Bordo, de Carl Gottlieb e Leave the Gun, Take the Cannoli, de Mark Seal são apenas alguns deles), mas em uma compilação de anedotas sobre o processo criativo do filme que até começa de maneira promissora com a indagação sobre a alegada base verídica da história que, infelizmente não leva a lugar nenhum a não ser um completamente desnecessário e extremamente detalhado resumo do romance de Nathanson que, de tão cansativo, muito sinceramente, me tirou toda a vontade de lê-lo e isso sem que Epstein sequer consiga justificar essa sua escolha de dezenas e dezenas de páginas com cada detalhe do que acontece por lá, já que ele não traça quaisquer comparativos de valor entre material fonte e adaptação.

Quando, finalmente, o autor e pesquisador começa a falar da produção propriamente dita, ele começa a enfrentar dois dilemas principais: como falar do extenso elenco, do diretor e dos produtores sem criar resumos da vida de cada um deles e como tornar interessante uma produção em que, ao que tudo indica, nada de realmente interessante aconteceu. Sobre o primeiro dilema, Epstein dirige sua mira para o ator cuja vida ele domina, Lee Marvin, dedicando um enorme e desproporcional espaço a ele, falando dos demais, não tenham dúvida, mas sempre retornando a Marvin como seu porto seguro. E, curiosamente, Ernest Borgnine, um dos grandes nomes da época, ganha duas ou três menções esparsas e perdidas no livro, com se elas tivessem sido inseridas quando alguém lembrou o autor de que ele também aparecia no filme.

Sobre o segundo problema, não é, evidentemente, culpa de Epstein que a produção, pelo que parece de seu livro, não enfrentou nada grave o suficiente para torná-la chamativa. Tudo o que o autor consegue falar sobre o assunto é que tempo não ajudou muito (surpresa, surpresa, já que as filmagens em locação foram na Inglaterra), sem desenvolver absolutamente mais nada. Na verdade, da mesma maneira que ele fala do tempo sem realmente dizer o que ele trouxe de negativo, ele fala de outros problemas, admito, mas todos eles sem costura com a produção e com o que ele “anuncia” como os percalços pelos quais ela passou. Até mesmo o orçamento estourado e um tempo de filmagem muito superior ao originalmente planejado ele apenas joga no livro como se esses não fossem os pecados capitais de qualquer produção que certamente dão pano para manga para um desenvolvimento maior do que só citá-los sem trabalhar as consequências.

Ou seja, por mais boa vontade que Epstein possa ter tido, ou ele não foi tão a fundo quanto deveria, ou ele foi e não achou nada relevante, caso em que ele, talvez, tivesse que encerrar seu projeto de escrever o livro. Há uma terceira alternativa, claro, mas essa é muito maldosa, mas que eu me sinto obrigado a dizer: que o autor simplesmente não soube comunicar de maneira eficiente suas pesquisa sobre a produção de Os Doze Condenados, fazendo de seu livro a reunião do resumo da obra que inspirou o filme com uma minibiografia de Lee Marvin cercada de curiosidades sobre o restante do elenco e alguma coisa sobre o making of em si.

Matando Generais não é, sinto dizer, um livro interessante do gênero, com Dwayne Epstein falhando em cumprir sua promessa de mostrar que Os Doze Condenados realmente é o filme mais icônico que se passa na Segunda Guerra Mundial. Tudo o que o leitor encontrará na obra, aliás, leva à conclusão oposta ou pelo menos faz parecer que esse status ousadamente afirmado por Epstein não passa de um devaneio de alguém que parece gostar muito do filme, mas sem realmente conseguir explicar o porquê.

Matando Generais: A Produção de Os Doze Condenados (Killin’ Generals: The Making of The Dirty Dozen, the Most Iconic WWIII Movie of All Time – EUA, 2023)
Autor: Dwayne Epstein
Editora: Citadel Press
Data de publicação: 25 de abril de 2023
Páginas: 256

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