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Crítica | Simbad e o Olho do Tigre

por Rafael Lima
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As aventuras do marinheiro Sinbad, personagem clássico das Mil e Uma Noitesque contam as incríveis viagens do navegador ao redor do mundo, foram um prato cheio para o produtor e diretor de efeitos especiais Ray Harryhausen, devido as criaturas fantásticas que sempre dão as caras nas histórias de Sinbad. Em 1977, Harryhausen já havia produzido dois filmes estrelados pelo marujo (sem conexão direta um com o outro), Sinbad e a Princesa (1957) e A Nova Viagem de Sinbad (1973). O sucesso deste último incentivou Harryhausen e a Columbia Pictures a visitar pela terceira e última vez o mundo de Sinbad, fechando a sua “trilogia” com Sinbad e o Olho do Tigre.

Na trama, Sinbad (Patrick Wayne) e sua tripulação chegam ao reino de Charak, para que ele possa pedir ao seu amigo, o Príncipe Kassim (Damien Thomas) a mão da Princesa Farah (Jane Seymour) em casamento. Mas Sinbad logo descobre que Kassim foi transformado em um babuíno no dia em que seria coroado Califa, por sua maléfica madrasta, a feiticeira Zenobia (Margaret Whiting), que pretende colocar o seu filho Rafi (Kurt Christian) no trono. Fugindo do reino com Farah e o transformado Kassim, Sinbad deve procurar a ajuda do lendário alquimista Melanthius (Patrick Troughton) e viajar aos confins do mundo para trazer o seu amigo de volta e livrar Charak de Zenobia e Rafi.

Escrito por Beverley Cross (habituado ao gênero, tendo escrito Jasão e Os Argonautas e posteriormente Fúria de Titãs) e dirigido por Sam Wanamaker, Sinbad e o Olho do Tigre, possui uma estrutura muito simples. Basicamente acompanhamos uma corrida entre a tripulação de Sinbad e a feiticeira Zenobia até a terra de Hiperbórea, único lugar onde o príncipe pode ser libertado de sua maldição. 

Essa simplicidade não é um problema por si só. O problema é que a trama insere muitos elementos narrativos sem fazer questão nenhuma de esconder a função meramente dispositiva desses elementos, de modo a descartá-los sem cerimônia quando não mais precisam dele. Um grande exemplo é Minoton, o Minotauro de bronze criado pela vilã no começo do filme, que é dispensado em uma cena absolutamente descartável após se criar toda uma expectativa em torno dele. O mesmo pode ser dito sobre o enorme troglodita que Sinbad e seus amigos encontram ás portas do clímax da narrativa, que também está lá para cumprir uma função meramente mecânica. Claro, é plenamente compreensível que a exemplo de outros filmes produzidos por Harryhausen, Sinbad e o Olho do Tigre seja meramente uma desculpa para exibir as criaturas em Stop Motion criador por seu produtor, mas não podemos deixar de nos incomodar ao perceber o quão pouco o personagem título tem a fazer dentro da história, afinal, os personagens precisam ter um mínimo de carisma para que torçamos por eles.

A direção de Sam Wanamaker parece não conseguir imprimir o dinamismo que certas cenas exigem, vide o ataque das criaturas demoníacas de Zenobia a Sinbad e seus amigos no começo do filme ( que parece emular fortemente a clássica cena dos esqueletos do já citado Jasão e os Argonautas). Uma outra passagem envolvendo o ataque de uma morsa gigante também revela uma certa dificuldade da direção em lidar com os efeitos especiais, criando uma ação confusa e pouco empolgante.

De fato, mesmo o grande carro-chefe do projeto, que são os efeitos especiais de Harryhausen, parecem não ter envelhecido bem. Muitos dos efeitos visuais da obra e das criações em Stop Motion do artista continuam impressionantes, como o babuíno Kassim, que interage diretamente com os personagens reais; ou a abelha gigante que ataca Melanthius em determinado ponto da narrativa. Entretanto, outros como o minotauro servo da vilã e o próprio tigre de dentes de sabre com quem Sinbad tem que lutar no clímax da narrativa surgem um pouco mal acabados e pouco integrados aos cenários, ficando bem aquém de outros trabalhos do mago dos efeitos especiais. Outros efeitos como a transformação da vilã em uma gaivota soam fracos mesmo dentro do contexto da  época.

Sinbad e o Olho Do Tigre possui os seus bons momentos e até consegue divertir em alguns pontos. Mas personagens pouco carismáticos em uma trama que se estende por mais tempo que deveria, acabam tornando o filme de Sam Wanamaker um pouco cansativo e estéril emocionalmente.

Sinbad e o Olho do Tigre (Sinbad and The Eye of the Tiger) – Inglaterra. 1977
Direção: Sam Wanamaker
Roteiro: Beverley Cross
Elenco: Patrick Wayne, Taryn Power, Margaret Whiting, Jane Seymour, Patrick Troughton, Kurt Christian, Nadim Sawalha, Damien Thomas, Bruno Barnabe, Bernard Kay, Salami Coker, David Sterne
Duração: 113 min. 

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