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Crítica | Superman & Lois – 1X13: Fail Safe

por Ritter Fan
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  • Há spoilers. Leiam, aqui, as críticas dos demais episódios.

Creio que muita gente tenderá a encarar Fail Safe como um filler, mas, pessoalmente, interpreto o episódio como sendo a prova final do quão surpreendentemente madura é Superman & Lois. Não tem muita série baseada em quadrinhos por aí, especialmente da CW, que se preocupa tanto em lidar com as consequências de um grande momento de ação, no caso os eventos de O Mother, Where Art Thou?, epilogados em A Brief Reminiscence In-Between Cataclysmic Events, especialmente considerando que boa parte do drama da família Cushing já foi abordado em Through the Valley of Death. Todd Helbing trata sua história de maneira adulta, séria e sem apelar para novidades ou momentos grandiosos de ação para empilhar em cima do que já aconteceu e isso é absolutamente refrescante.

É bem verdade que há alguns segundos de pancadaria na captura de Leslie Larr e aquele final em que Tal-Rho se entrega ao plano do pai de se tornar o Erradicador, seja lá o que isso signifique, mas esses momentos foram desimportantes – ainda que bem conduzidos e certamente essenciais para o encerramento da temporada, mesmo que, pessoalmente, eu preferisse que eles acontecessem no próximo capítulo -, quase que notas de rodapé em uma abordagem humana que capilariza inteligentemente o que vimos acontecer com Kyle no episódio anterior. Seria muito fácil, muito conveniente e, diria, totalmente esperado, se o assunto fosse varrido para debaixo do tapete e esquecido, como se nunca tivesse acontecido. Afinal, se isso acontece nos quadrinhos corriqueiramente, porque não poderia acontecer aqui, especialmente considerando que a série, volta e meia, como já mencionei, apropria-se da linguagem dos quadrinhos para desatar nós mais complicados?

É ao resistir à tentação de ampliar as apostas pirotécnicas a cada novo episódio e de repisar e desenvolver assuntos importantes que Superman & Lois se distancia de suas colegas de multiverso, e Fail Safe, ao voltar com a discussão clássica que Alan Moore popularizou em Watchmen, que pergunta “quem vigia os vigilantes?” e concluindo que sim, o Superman precisa ser controlado ou que pelo menos a humanidade precisa ter chance caso ele se volta de verdade para o mal, Helbing mostra que não está para brincadeiras. E a solução do roteiro de Jai Jamison e Kristi Korzec foi engenhosa, pois faz o próprio Kal-El reconhecer que ele sentiu prazer em perder o controle de seus poderes e que, por isso, precisa de algo para bater de frente com ele caso o pior aconteça, faz o General Samuel Lane preocupar-se com seu genro em razão dessa atitude, algo que ele aplaudiria não muito tempo atrás, coloca Lois Lane em estado de desespero pelo marido e, no final, entrega as chaves do projeto 7734 para John Henry Irons, abrindo avenidas e mais avenidas para que essa linha narrativa seja novamente explorada no futuro da série.

Mas o melhor é que a pergunta posta originalmente pelo poeta Juvenal é apenas um dos assuntos desenvolvidos no episódio. Além dela, vemos o continuado desespero de Kyle e Lana para limpar o nome da família, inicialmente recebendo a promessa de ajuda do prefeito que, claro, como todo bom político, só pensa em seu próprio umbigo. Como se isso não bastasse, também notamos como essa mesma situação reverbera em Sarah, igualmente recebida com desconfiança por seus colegas e, improvavelmente, mas de maneira bem construída, em Jonathan, que é basicamente manipulado pela jovem por quem ele se sente atraído que quer obter detalhes sobre o que aconteceu, o que o leva à decepção e a um passo mais próximo de Irons.

E a cereja nesse apetitoso bolo é uma rápida lição de integridade jornalística, algo que falta tanto em nosso mundo real e algo que sempre automaticamente conectamos à Lois Lane, inegavelmente uma repórter investigativa exemplar, acima de qualquer suspeita. Mas será que é mesmo? Novamente, de maneira muito esperta e até óbvia (mas aquele tipo de óbvio que só é óbvio depois que alguém fala), o roteiro relativiza essa questão e coloca à frente da jornalista algo que deveria ser evidente para nós também: a Lois que sabe da identidade do Superman e que é filha do general que comanda o Departamento de Defesa dos EUA é, por natureza, uma figura conflitada. De um lado, como esposa e filha, ela precisa guardar os segredos que, de outro lado, como repórter, ela simplesmente tem a obrigação de revelar. Mal comparando, ela é como o Duas-Caras, só faltando aquela moedinha para fazer cara ou coroa.

Fail Safe é um episódio que seria um mero filler em qualquer outra série do gênero, mas, em Superman & Lois, ele representa a verdadeira essência da proposta do showrunner em lidar com problemas humanos e terrenos do mais poderoso super-herói da Terra. Uma verdadeira e agradabilíssima surpresa que continua evidenciando o nível de qualidade desta improvável temporada.

Obs: Superman & Lois entrará novamente em hiato, retornando dia 10 de agosto de 2021.

Superman & Lois – 1X13: Fail Safe (EUA, 20 de julho de 2021)
Criação: Greg Berlanti, Todd Helbing
Direção: Ian Samoil
Roteiro: Jai Jamison, Kristi Korzec
Elenco: Tyler Hoechlin, Elizabeth Tulloch, Jordan Elsass, Alex Garfin, Erik Valdez, Inde Navarrette, Wolé Parks, Dylan Walsh, Emmanuelle Chriqui, Michele Scarabelli, Fred Henderson, Fritzy Clevens-Destiny, Dylan Kingwell, Wern Lee, Tayler Buck
Duração: 44 min.

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