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Crítica | The Mandalorian – Chapter 10: The Passenger

por Ritter Fan
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  • Há spoilers. Leiam, aqui, as críticas dos demais episódios.

Em um episódio que estuda em detalhe os hábitos alimentares do Bebê Yoda, Peyton Reed, diretor dos dois longas do Homem-Formiga – e do terceiro, se nada mudar até lá – imprime seu tom cômico em uma história que, apesar de começar basicamente de onde The Marshall parou, leva Mando até um planeta gelado em uma aventura que é um “Alien light“, ou seja, com um viés de horror, mas sem mergulhar a fundo no gênero. De quebra, The Passenger resgata, por assim dizer, a importância narrativa do pequeno ser verde protegido pelo mandaloriano que já estava se tornando apenas um artifício repetitivo de fofice para vender brinquedo.

Mantendo um passo bem mais acelerado que o capítulo anterior, mas sem ser corrido, mérito da combinação de ótima decupagem e cuidadosa montagem, acompanhamos Mando enfrentando ladrões em seu caminho de volta a Mos Eisley culminando com o primeiro jawa que eu já vi sem figurino de saco de estopa sendo hilariamente catapultado para a órbita de Tatooine com a mochila-foguete em uma daquelas cenas que são 100% telegrafadas, mas que funcionam mesmo assim, seguido de sua partida para uma lua chamada Trask atrás de mandalorianos e levando a tal passageira do título, uma simpática, mas preocupada Dona Sapa (Misty Rosas, que fez a performance física do finado Kuill, voltando à série, com voz de Dee Bradley Baker, figurinha fácil em The Clone Wars e Rebels) que precisa chegar até lá para fecundar seus frágeis ovos. O único detalhe é que Mando não pode recorrer à velocidade da luz e precisa voar “sub-luz” para seu desespero total, algo que o leva a dar de cara com uma patrulha de X-Wings da Nova República que resulta em um pouso forçadíssimo em um planeta congelado, com o restante do episódio passando-se em uma caverna cheia de ameaças aracnídeas.

Claro que planeta gelado + caverna + criaturas ameaçadoras nos remete imediatamente a Luke em Hoth prestes a servir de jantar para o wampa, mas The Passenger apenas usa essa premissa bastante comum em sci-fis para trabalhar belas sequências de ação a partir do momento em que o Bebê Yoda, não satisfeito em comer os ovos da Dona Sapa em uma gag recorrente que é tão engraçada quanto revoltante (são os filhos dela afinal de contas!!!) e que vai até o último segundo de projeção, ainda faz um lanche rápido de filhote de aranha que sai de seu ovo como um facehugger, deflagrando um ataque feroz dos seus irmãos e irmãs e da parente alienígena de Shelob. É por Yodinha ser usado inteligentemente ao longo de todo o episódio – e não apenas como breves segundos fofos que só existem “porque sim” – que eu mencionei que o roteiro de Jon Favreau conseguiu ir além do artifício já cansado de mostrar o bichinho fazendo caras, bocas e orelhas.

A pancadaria que segue daí é outro bom exemplo do CGI que vem sendo utilizado na série. Ele não é onipresente e nem carregado, pesado, daquele tipo que torna tudo artificial como basicamente acontece em toda a Trilogia Prelúdio. Há muita atenção para a mescla de bons, mas simples efeitos em computação gráfica como o da multiplicação das aranhas, com efeitos práticos, inclusive animatrônicos, que completam a impressão de imersão e verossimilhança. Claro que o trabalho prostético na Dona Sapa também está excelente, valendo destacar o ótimo recurso de ela comunicar-se usando os restos mortais do androide Q9-0, com direito ao retorno de Richard Ayoade para emprestar sua voz. Vale também chamar atenção para o delicado trabalho de engenharia de iluminação em todas as sequências da caverna que realça as sombras sem tornar a aventura sombria ou escura demais para mascarar CGI como é tão comum acontecer por aí.

A resolução do perrengue em que Mando se mete em sua jornada não é das melhores, porém. Não só o motor da Razor Crest é consertado com duas soldinhas aqui e ali – esse é o momento em que a montagem falhou em transmitir a impressão de dilatação temporal, mesmo que o congelamento externo do beskar sinalize algo nessa linha -, como também a chegada providencial dos pilotos das X-Wings (vividos por Paul Sun-Hyung Lee e Dave Filoni, o segundo retornando à série como ator e mais uma vez como o piloto Trapper Wolf, de The Prisoner, episódio, aliás, muito referenciado aqui) pareceu-me preguiça de roteiro. E nem digo que a dupla não deveria ter retornado, pois faz sentido que tenha, mas sim o momento escolhido para isso acontecer que poderia ser um pouco menos providencial, além de um pouco menos eficiente em eliminar absolutamente todas as ameaças com meia dúzia de tiros. E, como se isso não bastasse, aquele diálogo do tipo “você pecou, mas eu te absolvo” foi de machucar os tímpanos de ruim.

The Passenger é o exemplo de premissa simples executada com eficiência. Sim, o episódio todo foi uma side quest, basicamente um filler, mas isso faz parte da série – e não só dessa – e seria chato se todo capítulo abordasse a missão principal de Mando. Eu apenas gostaria que Moff Gideon começasse a ser inserido novamente na narrativa, nem que fosse de maneira indireta, talvez com o aparecimento de Death Troopers em Trask ou algo semelhante para evitar que ele mais uma vez seja apenas um final boss.

Ps. 1: Quero um curta-metragem spin-off do Dr. Mandible!

Ps. 2: Que fim levou a armadura de Boba Fett? Espero que ainda esteja na Razor Crest depois de ela ser explodida na speeder bike e de sofrer o diabo ali no compartimento de carga da nave de Mando…

The Mandalorian – Chapter 10: The Passenger (EUA, 06 de novembro de 2020)
Showrunner: Jon Favreau
Direção: Peyton Reed
Roteiro: Jon Favreau
Elenco: Pedro Pascal, Amy Sedaris, Misty Rosas, Richard Ayoade, Paul Sun-Hyung Lee, Dave Filoni, Dee Bradley Baker
Duração: 40 min.

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