Home TVMinissériesCrítica | Star Wars: Histórias do Submundo

Crítica | Star Wars: Histórias do Submundo

Muito faroeste para a redenção de Ventress e a queda de Cad Bane.

por Davi Lima
4,5K views

Histórias do Submundo

No mesmo estilo antológico de Histórias dos Jedi e Histórias do Império, Dave Filoni apresenta Histórias do Submundo, em seis curtas-metragens lançados em mais um 4 de maio. Submundo, em Star Wars, refere-se, normalmente, ao mundo dos gangsters, caçadores de recompensa e tudo que envolve regiões urbanas com mais criminalidade e personagens falíveis, como Asajj Ventress e Cad Bane, protagonistas dessa antologia.

O formato da crítica espelha a divisão de episódios, em que, mesmo sendo uma antologia, preserva uma continuidade a cada três capítulos e muda de personagem central em mais três episódios, como uma antítese aos anteriores. A nota é uma média bem arredondada da avaliação dos episódios como um todo.

Dada a introdução desse material de lançamento para o aniversário de Star Wars: que a força esteja com você!

A reintrodução de Ventress é uma boa maneira de fazer um retcon no cânon, sem mexer no livro aclamado pelos fãs, valorizando o que está estabelecido e, ainda assim, criando algo novo que pode ser aproveitado no audiovisual após a compra da Disney. Para quem não lembra, o livro Dark Disciple apresenta o criador de O Caminho, uma célula de Jedi refugiados, chamada Quinlan Vos, que treina e se apaixona por Asajj Ventress — criação original de Genndy Tartakovsky (Laboratório de Dexter, Samurai Jack, Star Wars: Clone Wars, Hotel Transilvânia).

Como mostra o início do episódio Um Caminho a Seguir, ela faleceu numa batalha, mas agora tem a oportunidade de reviver graças às Irmãs da Noite. A história começa bem por explorar um antítese clássica de Star Wars, trabalhada de forma mais refinada em Star Wars Visions no episódio O Duelo: personagens entre o caminho Sith e o caminho Jedi. O modo de viver, o sabre de luz e a Força de Ventress indicam uma Jedi fugindo do Purgo Jedi, mas seu estilo de luta remete a uma Sith. Por isso, a finalização do episódio é tão especial: ela se apresenta ao jovem Jedi chamado Lyco, sobrevivente do Purgo, que, durante todo o episódio, acredita que ela é uma Jedi.

Assim como Paulo de Tarso, perseguidor dos discípulos de Jesus da seita O Caminho (coincidência? Acho que não), que se converte e começa a pregar aos não judeus sobre Jesus, Ventress, com uma nova chance de ajudar O Caminho dos Jedi, sem o desejo de amar Quinlan, assume a missão de levar Lyco para junto de outros Jedi fugitivos.

A sequência da aventura de Ventress evoca o espírito clássico de Star Wars. Cada vez mais, a volta de Asajj parece episódica e aventuresca, no estilo de Episódio I — Qui-Gon e o padawan Obi-Wan. É bem ao estilo George Lucas, e ainda mais ao estilo de Filoni, que recria isso com seus personagens. O segundo curta Amigos lembra bastante um episódio de The Clone Wars, mas o corte seco e o fade-in final limitam a aventura a algo que poderia ser um episódio maior e sequenciado, não apenas curtas isolados.

Se em Histórias do Império havia cortes temporais, aqui isso é apenas um detalhe formal para estrear os episódios separados. No máximo, a qualidade dramática de Amigos reside na pergunta recorrente: é possível confiar em Ventress, mesmo após Dark Disciple? Ainda assim, essa questão parece tardia ou uma repetição do que vimos em The Bad Batch, mas numa narrativa mais “starwarsiana”, meio faroeste, meio episódio de série de TV procedural, dividido em três partes.

Finalizando a tríade de episódios sobre Ventress, Filoni entrega uma espécie de faroeste mais moderno, com uma velhice reflexiva, próximo dos filmes recentes de Clint Eastwood, como Os Imperdoáveis, Gran Torino e Cry Macho. Infelizmente, Filoni não leva seus curtas a uma política mais afiada anti-guerra, como sugere o início da história. Acaba sendo uma recapitulação dos senhores das Guerras Clônicas buscando pacificação — alguns com os Jedi, outros pela velha idade.

Assim são as histórias de faroeste, com cowboys chegando a conclusões semelhantes em tempos diferentes, a partir dos desafios comuns que a guerra esconde: buscar água, proteger a criança, ajudar um jovem a seguir seu caminho. É uma grande mistura de filmes de faroeste, mas no clima infantojuvenil que Filoni deseja preservar, limitando alguns dramas redentivos poderosos da história de Ventress.

No lado de Cad Bane — Lee Van Cleef de Star Wars, apresentado em Star Wars: The Clone Wars — temos uma história mixada de faroeste urbano de narrativa mais clássica, de quando Clint Eastwood era ator, com drama policial sobre “irmãos separados pelo dinheiro”, com um viés de cinema de gângster americano. Colby e Niro são amigos que roubam comida nas ruas, até que um investidor cowboy — a persona de Cad Bane no futuro — investe nos garotos a seu favor.

Apesar de ser clássica, e até clichê, é uma narrativa envolvente e dolorosa, por conta do aspecto palpável e falho dos personagens. Enquanto Ventress vive uma jornada de constante sacrifício e travessia abnegada, Colby, que se tornará Cad Bane, inicia sua história com o dinheiro, a perda da inocência e da amizade. Nessa trilogia de episódios sobre Cad Bane, diferente da de Ventress, há uma passagem de tempo, mas sem explicações enciclopédicas para detalhar como Cad arranjou esse nome ou aprendeu a atirar — como em Solo: Uma História Star Wars.

O drama policial remete ao cowboy e ao xerife, ambos amigos, que agora, em lados opostos, rivalizam moralmente e pelo espaço onde sempre viveram. Nesse sentido, a trama de Bane é bem mais chamativa e consistente, por lidar com um personagem em construção e com algo mais dinâmico, envolvendo ação e realismo (pobreza, orfandade, etc.). Ventress, que de Sith virou gângster e depois Jedi, tem uma história menos acessível, mas esperançosa, bem ao contrário de Cad Bane.

Ao fim, temos uma trilogia de episódios sequenciais sobre a redenção de uma Sith, enquanto a outra trilogia de blocos temporais sobre a tragédia paterna que Star Wars adora. No último curta chamado Uma Boa Ação, o conflito entre Niro e Colby remete ao faroeste com todos os códigos visuais possíveis, em que a vila com fenos é a cidade esvaziada, e o enfileiramento dos atiradores é a revanche amarga diante de um segredo familiar. Isso dá camadas ainda mais dramáticas ao pistoleiro que Filoni tanto preza como marca do Western em Star Wars, enquanto para a antiga aprendiz de Conde Dookan se deixa o sentimento de apenas uma aventura a mais para seu arco de redenção, mesmo que de boa qualidade.

PS: The Bad Batch, na relação de Omega com Cad Bane, ganha novos tons numa reassistida da série — Filoni é esperto. Além disso, ambas as trilogias de Histórias do Submundo são um bom exercício “georgelucasiano” de gênero cinematográfico, algo bastante praticado durante The Clone Wars. Vai além de apenas adicionar conteúdo ao cânon; é uma valorização de personagens não humanos — uma Zabrak de Dathomir e um Duros do planeta Duro. E o CGI funciona mais para explorar o realismo dessas raças do que das raças humanas, não é, Ritter? Rsrsrs. Para entender melhor essa referência, leia a crítica de Histórias do Império.

Star Wars: Histórias do Submundo (Star Wars: Tales of the Underworld – EUA, 04 de maio de 2025)
Criação: Dave Filoni
Direção: Nathaniel Villanueva, Steward Lee, Saul Ruiz
Roteiro: Matt Michnovetz
Elenco (vozes originais): Nika Futterman, David W. Collins, Lane Factor, Corey Burton, Philip Anthony-Rodriguez, Artt Butler, Helen Sadler, Steve Blum, Dawn-Lyen Gardner, Tony Amendola, A.J. LoCascio, Tudi Roche, David Acord, Oscar Camacho, Michael Bell, Daniel Ross, Ellie Araiza, Al Rodrigo, Eric Lopez
Duração: em média 90 min. (seis episódios de 15 min. aproximadamente)

Você Também pode curtir

Este site usa cookies para melhorar sua experiência. Presumimos que esteja de acordo com a prática, mas você poderá eleger não permitir esse uso. Aceito Leia Mais