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Crítica | American Horror Story: Delicate – 12X09: The Auteur

Escrevendo um novo mundo.

por Felipe Oliveira
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Parece que a cada temporada se torna inevitável o questionamento do que ainda mantém o público de American Horror Story, considerado que a cada temática da série antológica tem sido sinônimo da queda de qualidade, e Delicate se faz o exemplo de que, se Ryan Murphy soubesse utilizar o que tem em mãos, o seu mais longo show na TV não ficaria apenas na promessa. Por um lado, ver uma cena de conexão com Rosemary’s Baby em Little God Man soava desconexo, mas Delicate estabelece uma realidade em que os eventos do filme clássico fazem parte dessa história, como se as ações de Siobhan tocassem a trama de um terror psicológico, até então, uma ficção do cinema.

Um passo ousado, digamos, mas Murphy não sabe lidar com elementos e construção, ao menos não de maneira convincente de que está contando uma história de terror com detalhes que vão além do que mais uma versão derivada do drama e terror psicológico da maternidade – e se pudesse ser uma história maior do que a do filme que influenciou essa temática? Chegar ao centro das revelações que Delicate carecia se mostra o ponto chave de comprovação de que AHS não atinge seu potencial, mesmo que possua as peças para ser uma série de terror alternativa e conceitual, mas como seria se não ficasse apenas na promessa?

Olhando de um ponto de vista isolado, The Auteur é tudo o que uma temporada precisa: uma season finale com respostas, mas pensando em tudo o que foi posto como peças de um quebra-cabeça sombrio, precisaria, no mínimo, fazer sentido. Enquanto que na cabeça de Murphy um episódio com as vilãs explicando suas ações para a fraca protagonista Anna seria satisfatório, ver um leque de atrizes com gestões e expressões ensaiadas e caricatas como se isso as fizessem parecer como bruxas completando a frase uma da outra não foi nada menos que constrangedor. Até mesmo a performance de Kim Kardashian, destaque da temporada, foi reduzida a uma interpretação inferior por um texto que quer assumir muita coisa em pouco tempo.

Há muitos elementos e simbolismos aqui que tentam atingir reflexões como o exemplo do clã geracional de bruxas estarem criando uma ordem matriarcal, de força e poder feminino tirando os homens da equação. Voltando alguns episódios, parecia que toda repressão que Anna sofria era causada por seu marido, e que o clã estaria cobrando um acerto de contas, enquanto que, a informação inesperada da relação de Siobhan com Dex se mostra mais uma apelação sem sentido pois, em que momento tivemos um flerte sobre a possibilidade de triângulo amoroso ou obsessão entre os personagens para que a revelação de maternidade tivesse mesmo algum impacto? Embora a intenção fosse de que sempre teria um pedacinho de Siobhan sendo gerado, mas todas as informações se tornam fracas por nada ter sido tão bem explorado.

O episódio foca em apresentar e articular ideias interessantes mas nem o fato de tentarem usar a relação de Dex e Anna como só mais um exemplo da ordem contra o machismo e patriarcado ser o objetivo do clã, consegue ter seu impacto – por isso, o arco da traição aos 45 do segundo tempo né, Murphy? Com tantas discussões que The Auteur provoca mas não atinge nada, vamos voltar para o paralelo entre Delicate e O Bebê de Rosemary: se por uma lado a história cria sua versão que explica e estende de alguma forma o final do filme de Polanski, para onde foram os bebês demônios, sem falar que para gerar as criaturas, eram concedidos desejos? E se cada bruxa parteira do clã é uma mãe que se uniu, depois de várias décadas o clã possui menos de 10 cabeças sendo que recebem imortalidade?

São muitos detalhes que no final não fazem sentido, mas Murphy deixa pra imaginação que poderia ser interessante ter esse reflexo sobre um clã de bruxas criando uma ordem para eliminar de vez o machismo do mundo, e Siobhan estava só começando ao usar a fertilização in vitro como ponte de magia. Entre muitas promessas e os males sofridos por mulheres sendo ressignificados como forma de poder feminino, The Auteur encerra mais uma temporada de AHS, com o festival de intenções, conceitos, representações e pouca entrega de terror que só Murphy sabe fazer.

The Auteur (American Horror Story: Delicate – 12X09: The Auteur – EUA, 2024)
Direção: Gwyneth Horder-Payton
Roteiro: Halley Feiffer
Elenco: Emma Roberts, Matt Czuchry, Kim Kardashian, Julie White, Annabelle Dexter-Jones, Michaela Jaé, Cara Delevingne, Debra Monk, Dominic Burgess, Juliana Canfield, Denis O’Hare, Billie Lourd, Leslie Grossman, Reed Birney.
Duração: 31 min.

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