Home TVTelefilmes Crítica | South Park (Não Recomendado para Menores)

Crítica | South Park (Não Recomendado para Menores)

Só tem valor se for falado em redes sociais.

por Ritter Fan
764 views

Depois de dois especiais girando ao redor da COVID e outros dois abordando as Guerras do Streaming, com um quinto falando sobre diversidade, o sexto telefilme da franquia parte do pacote milionário que Trey Parker e Matt Stone negociaram com a Paramount lida com redes sociais e sua capacidade infinita de influenciar jovens e adultos. O assunto é muito relevante em um mundo cada vez mais conectado, em que as pessoas consomem informação como jujubas coloridas em um pote, mas a dupla criadora de South Park ainda não conseguiu encontrar ritmo nesses especiais, por vezes justificando a minutagem alongada, mas, por outras, sucumbindo à repetições nesse formato novo exclusivo do canal de streaming Paramount+, que leva à fadiga narrativa muito rapidamente.

South Park (Não Recomendado para Menores) está nessa segunda categoria, ou seja, é muito claramente um episódio padrão da série de algo como 20 minutos que é esticado para ganhar um semblante de algo maior, mais robusto, sem realmente encontrar uma justifica boa para esse inchaço. Não que a mensagem passada – ou seja, o quão perniciosas podem ser as redes sociais – não tenha valor e não precise ser marretada na cabeça de muita gente (todo mundo?), mas é que o roteiro escrito mais uma vez por Trey Parker esgota o que tem para dizer na metade da duração do especial, fazendo com que todo o resto acabe sendo o proverbial cachorro que corre atrás do rabo.

Na história, as crianças de South Park têm uma nova mania: a bebida energética Cred, a mais recente coqueluche das redes sociais, com todos os alunos da escola fazendo de tudo para mostrar que é fã do produto, inclusive e especialmente caçando sabores “raros” em um frenesi imparável cada vez maior. Só aí o especial já fala muito, pois não só lida com o poder dos chamados “Influenciadores Digitais” que consegue ser ainda maior e mais profundo do que a publicidade “velha guarda”, como critica fortemente o chamado fandom, em que fãs que revertem à etimologia da palavra – fanáticos – tornam-se monstros obsessivos que só sentem, respirem, falam e vivem aquilo que gostam e nada mais, gerando competição idiota, demonstrações de conhecimento completamente imbecis e assim por diante, não muito diferente de quando qualquer franquia cinematográfica de apelo pop é discutida por aí.

A história secundária e também menos interessante é a de Randy Marsh criando sua própria página do OnlyFans em que ele faz vídeos pelado da cintura para baixo, o que leva sua esposa, horrorizada, a também criar sua própria página nessa rede social. É, para todos os efeitos, a mesma coisa que a narrativa envolvendo as crianças, só que com uma pegada decididamente mais adulta e supostamente ousada que, porém, se perde ainda mais em repetições cansadas que tentam chocar, mas que só conseguem mesmo diluir a importância do assunto. Novamente, não deixa de ser relevante e as duas histórias paralelas têm diversos aspectos de convergência, mas o roteiro não consegue justificar o tempo dedicado a cada uma delas. Talvez – apenas talvez – se Parker tivesse seccionado as duas histórias em dois especiais diferentes, mas não seguidos, ele conseguisse explorar de maneira mais significativa os temas que queria tratar. Do jeito que ficou, ele curiosamente pareceu pisar no freio o tempo todo, sem realmente ir até o fim e olha que não era por falta de tempo.

Mesmo assim, South Park (Não Recomendado para Menores) é 100% recomendado para menores. Na verdade, precisamos de mais material assim para mostrar aos nossos jovens e tentar reconstruir uma cultura perdida que, agora, passou a existir na base do que é visto a partir da tela do celular, com aprovação de supostos influenciadores que nada mais são do que a geração seguinte da publicidade paga. Não tenho dúvidas dos aspectos positivos das redes sociais, mas, quando deixamos de ver as coisas pelo que elas são, é necessário parar um pouco, dar um ou dois passos atrás e recalibrar nossa forma de pensar. Trey Parker ajuda nesse processo com seu especial, mas infelizmente erra na forma como conduz sua lição, como um professor que não tem conteúdo suficiente para preencher todo o tempo de sua aula e parte para repetições e divagações.

South Park (Não Recomendado para Menores) (South Park (Not Suitable for Children) – EUA, 20 de dezembro de 2023)
Direção: Trey Parker
Roteiro: Trey Parker
Elenco: Trey Parker, Matt Stone, April Stewart, Kimberly Brooks, Jessica Makinson, Chris Borkovec, Betty Boogie Parker, Cleopatra Stone, Jacob Grahame-Smith, Lucas Alvarado, Clara Del Tredici, Manuelle Del Tredici, Nina Fikre, Demien Garner, Kayla Holmes, Grace Petty, Jai Young, Janai Young
Duração: 47 min.

Você Também pode curtir

Este site usa cookies para melhorar sua experiência. Presumimos que esteja de acordo com a prática, mas você poderá eleger não permitir esse uso. Aceito Leia Mais