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Crítica | Bumblebee

por Gabriel Carvalho
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“Bumblebee, nossa guerra continua. Você deve proteger a Terra e o seu povo.”

Transformers, pentalogia comandada por Michael Bay, nunca esbanjou simplicidade, contendo planos absurdamente delirantes – e incompreensíveis -, desenhos complicados demais para os personagens, durações desnecessariamente estendidas, entre outros equívocos da um conjunto cinematográfico com alguma identidade, mas sem ser verdadeiramente competente por causa disso. Já Bumblebee (Dylan O’Brien) é um personagem simples – pelo menos no que tange a sua aventura particular -, e a simplicidade, sem a obrigação por transformar o gênero de ação em um épico grandioso, um drama complexo, abarrotar a obra de inúmeros personagens ou expor qualquer narrativa cheia de intelectualidade, queimando neurônios gratuitamente, possui a capacidade de ser uma das maiores virtudes de uma produção milionária como essa, porque diminui os riscos, enfoca-se no conteúdo que torna mais importante a demais questões secundárias e impulsiona os acertos, caso existam e sejam partes de um conjunto auto-consciente.

O revigorante Bumblebee seria, nesse caso da simplicidade, “apenas” uma história sobre o relacionamento construído entre o personagem-homônimo, após ser enviado por Optimus Prime à Terra, derradeiramente perdendo a memória e a capacidade de comunicação no meio do caminho, e a jovem Charlie Watson (Hailee Steinfeld), garota com poucos amigos e muita cara fechada, inquietada com a vida. Ao mesmo tempo, o longa desenvolve-se paralelamente sobre uma premissa “maior” – menor, diante da importância que o roteiro e a direção percebe a esse enredo -, envolvendo a guerra entre os Autobots e os Decepticons, enquanto a chegada de dois antagonistas ao Bumblebee ameaça o paradeiro de Optimus Prime. A essa simplicidade, o roteiro de Christina Hodson é uma argumentação que encaminha o projeto aos seus prós e contras, porque, embora nunca procure desenvolver uma história com maiores dimensões, optando, contudo, por personagens à beira do genérico, a roteirista compreende a intenção do projeto por si.

O longa-metragem nunca desmerece o que está acontecendo entre o robô e a garota, muito pelo contrário, sufocando completamente a narrativa acerca de “salvar o mundo”, o que é mais interessante para o cerne dessa nova abordagem à franquia não esquecer das suas propostas. As problemáticas apresentadas aos protagonistas, no entanto, diante dessa situação complicada que a obra apresenta em seu argumento, poderiam se concentrar em apenas um personagem, o que se configuraria como um acerto tanto para a questão dos extraterrestres quanto para a questão dos militares. John Cena, a exemplo, comporta um carisma inexorável que desmonta qualquer superficialidade dos arquétipos que interpreta. O seu papel incorporaria, caso fosse essa a decisão da roteirista, as proposições narrativas do péssimo coadjuvante que o acompanha. Já os robôs antagonistas poderia ser simplificados e transformados em apenas uma única criatura, entretanto, com grande presença, carisma de sobra – para convencer o exército – e poderosa personalidade.

Seria muito complicado Bumblebee diminuir, quase que integralmente, o gênero de ação do seu escopo, criando consequentemente uma aventura que contrastasse o dever – responder ao pedido de Optimus – e a vontade – continuar com a sua amiga – quase como E.T. – O Extraterrestre. O mesmo cineasta à frente do excelente Kubo e as Cordas Mágicas, Travis Knight comanda, portanto, um tratamento menos ansioso pelas desventuras grandiosas que, anteriormente, Michael Bay nunca conseguiu capturar com a mesma sagacidade que demais narrativas com viés épico conseguiram, sabotando o seu projeto, nas cinco oportunidades, mas diferentes proporções, quando um cansaço monstruoso acabava sendo obrigatório a um espectador descontente com aquela insanidade. As cenas de ação, aqui, não são sublimes, entretanto, os personagens mais vistosos – a exemplo, o ótimo design do Bumblebee -, assim como a opção por muito menos cortes e menos explosões – não as inexistências, contudo – contribuem para uma diversão gostosinha.

O princípio dessa produção – e provavelmente também para outras posteriores, caso a jogada através das prequelas seja um sucesso comercial – são as narrativas nunca antes contadas na saga, situando-se, portanto, em meados da década de 80, quando Shia LaBeouf, o protagonista original, ainda era um mero pequeno ser humano engatinhando e comendo terra e, afortunadamente, não conseguiria salvar o mundo de ameaças extraterrestres. A opção temporal, em decorrência dessa necessidade por uma opção temporal, está acordada a origem dos brinquedos originais – os anos 80 -, porém, investe nos conformes de um atrelamento a um dispositivo sacana para convencer que algum charme está inerente a obra. quando, na verdade, o cineasta em comando parece compreender apenas alguma percepção estereotipada da década. A exemplo, a conclusão do bom Clube dos Cinco é exibida, carregando um convencimento simplista de identidade, duas vezes para o espectador compreender a referência a uma cena do clássico.

Já os pôsteres de Os Caçadores da Arca Perdida e O Enigma do Outro Mundo estampam o quarto de um coadjuvante interpretado por Jorge Lendeborg Jr., personagem que nem precisava existir. Bumblebee possui grandes problemas justamente com a década em que se passa, insistindo em músicas desgastadas pelo cinema – ninguém mais merece uma certa canção sendo novamente reprisada. A captura a alguma verdade nessa conversa entre gerações – a comunicação entre pessoas que não podem teoricamente se comunicar de modo pleno – apenas acontece quando as músicas se dispõem, em certo ponto, a servirem narrativamente ao longa, emancipando sentimentalmente alguns personagens. Uma certa época é a inspiração para a existência de Bumblebee, entretanto, a ingenuidade dos responsáveis pela obra os permitiu orquestrarem as inspirações apenas como um encontro sem significado a uma identidade iconográfica, escanteando uma determinação menos rasa de como manufaturar esse serviço ao nostálgico.

O relacionamento entre Bumblebee e a personagem de Hailee Steinfeld, jovem artista, também cantora, enormemente mais interessante que outras personagens femininas desse universo, escaladas por um prévio cineasta imensamente fetichista, é, por fim, o coração do projeto. Steinfeld convence o espectador de sentimentos exprimidos através de um texto expositivo, ora vergonhoso – as patricinhas são deploráveis -, envolvendo um passado que é transmitido ao espectador burocraticamente, esquecendo a possibilidade de existir um misto de emoções exploradas narrativamente de modo orgânico. Hailee permite funcionar. Já quando nos termos da própria franquia em que se encontra, quase o chão do poço cinematográfico, o sucesso é ainda considerável. Uma das poucas prequelas que conseguem ser melhores que a saga-mãe, ainda ansiando ser um recomeço à franquia – uma jornada a um cinema, senão muito significativo ou mais arrojado, muito mais espirituoso, movido pela proposta de reinventar-se um pouco mais.

Bumblebee – EUA, 2018
Direção: Travis Knight
Roteiro: Christina Hodson
Elenco: Hailee Steinfeld, Dylan O’Brien, Jorge Lendeborg Jr., John Cena, Angela Bassett, Justin Theroux, John Ortiz, Peter Cullen, Jess Harnell, Jason Ian Drucker, Abby Quinn
Duração: 114 min.

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