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Crítica | O Jogador (1992)

por Pedro Pinho
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Lentes longas; zoom out e zoom in; pessoas entrando e saindo de reuniões, sem cortes, caminhando de um lado para o outro; ternos, gravatas, conversas sobre filmes. Uma caótica e, no entanto, elucidativa cena de abertura tem a mão de seu diretor. Estamos espiando esse mundo impenetrável de pessoas geniais, importantes, e de repente Anjelica Huston aparece batendo papo com John Cusack. Essa é Hollywood! Dezenas de escritores roteiristas tentam fazer seu pitching ser ouvido e aprovado, e tentam fazê-lo de modo a impressionar os produtores e os figurões da indústria.

Mas que indústria é essa, como viemos parar aqui? Estamos nos anos noventa, e Robert Altman tenta fazer com que seus filmes sejam relevantes novamente. A Nova Hollywood, movimento no qual tivera uma participação marcante, ainda que tardia, estava morta e enterrada há mais de vinte anos, e ninguém lembrava que seu divertido M.A.S.H. tinha sido um dos filmes americanos mais lucrativos da década de setenta. Steven Spielberg e George Lucas haviam sepultado as histórias autobiográficas e finais ambíguos e rezado sua missa fúnebre com Tubarão e Star Wars, descartando as ambições artísticas do cinema nos Estados Unidos dos anos anteriores. Nos anos noventa, o cinema blockbuster já estava em um estágio bastante avançado, e o meio estava prestes a descobrir a revolucionária tecnologia do Computer Generated Imagery (CGI), abrindo precedentes para Matrix e O Exterminador do Futuro 2 tomarem conta das salas de cinema.

Era uma indústria em sua forma literal, e é para ela que Altman direciona seu perscrutador e irônico olhar cinematográfico. O Jogador segue Griffin Mill, um executivo de estúdio desconfiado sobre perder seu posto após alguns fracassos de bilheteria, e que também começa a ter sua vida ameaçada por mensagens anônimas em cartas e documentos de telefax. Griffin supõe ser um escritor dispensado o autor das ameaças direcionadas a ele, o que ele entende como um grande mal entendido. Afinal, não é culpa dele que apenas alguns roteiros possam ser aprovados pelo orçamento de seu estúdio. Alguém tem que fazer o papel do insensível que vai descartar roteiristas, e de ouvir vários pitchings ao dia mesmo sabendo que não poderá dizer “sim” a todos. “25 words or less” diz Griffin aos roteiristas que tem uma ideia para um filme – esse é seu lema, como no jogo de tabuleiro famoso nos Estados Unidos.

Griffin é um jogador, e ele está ameaçado, sua vida corre perigo. Mas não é culpa dele que alguns roteiros não atendem as expectativas de Hollywood. Nem todos os roteiros têm comédia, drama, cenas de sexo e um final feliz. Nem todos são interpretados por Julia Roberts, Bruce Willis e Susan Sarandon. Não significa que eles sejam ruins, Griffin adora ir ao cinema assistir aos “filmes de arte”, ele adora Ladrões de Bicicleta, mas não é esse tipo de coisa que Hollywood faz, e isso não é culpa dele.

Mas será que Griffin está certo? É mesmo um roteirista o responsável pelas ameaças a sua vida? Será que é a quebra de padrões da indústria, a falta de um segundo ato bem definido, que interpela sua vida com intimidações? Essas são importantes questões levantadas por Altman para seu expectador, durante boa parte da exibição do filme. E embora a conclusão, por pouco, se perca no rabbit hole da metalinguagem, suas observações não ficam menos claras ou pontuais.

O Jogador (The Player) – Estados Unidos, 1992.
Direção: Robert Altman.
Roteiro: Michael Tolkin.
Elenco: Tim Robbins, Greta Scacchi, Fred Ward, Whoopi Goldberg, Peter Gallagher, Brion James, Cynthia Stevenson, Vincent D’Onofrio, Dean Stockwel, Richard E. Grant, Sydney Pollack, Dina Merrill, Angela Hall, Lyle Lovett, Leah Ayres, Paul Hewitt, Randall Batinkoff, Jeremy PIven.
Duração: 124 min.

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