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Crítica | The Office (US) – 5ª Temporada

por Davi Lima
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Office

The Office se descolando do espaço de trabalho como determinante para a piada realista de constrangimento, uma transição possível de host de Michael Scott com os principais Jim-Pam e Dwight, e, ao mesmo tempo tornar Scott num personagem ainda mais personagem e menos host. Esse é o grande ponto do quinto ano. The Office sempre é uma série que necessita constantemente de resets, concertos, ou novas propostas tanto para desenvolver sua narrativa dramática dos personagens como para manter nível cômico de imprevisibilidade. De certa forma, quando isso se torna moda, o improviso vira método, mas de um jeito mais complexo, em que há mudanças drásticas que podem dar muito errado, mas podem ser ajustadas de maneira rápida também. Isso reflete a quinta temporada especialmente em colocar os patamares de personagens, escritório e host em dinâmicas mais parelhas.

A inteligência temática de unir todo o escritório numa linha de peso para exacerbar as relações, apressar cliffhangers da última temporada e estabelecer bem o foco tramático mais subdividido entre os personagens é que abre o parque de diversões da comédia. Pam em Nova Iorque, Jim com falta dela (reverso da terceira temporada com o adendo deles estarem namorando), Oscar conversando com Holly Flax, Angela descontrolada com Dwight e Andy, Michael apaixonado, o novo papel de Phyllis para eventos do escritório, e a volta de Ryan. Até a Kelly Kapoor tem sua forte participação. Todas essas subtramas da temporada começam como um reset, resolvendo questões e selecionando quais caminhos querem deixar progredir um pouco mais. O tal timing da piada e o timing do drama, e como Holly está central nesse timing, passa por isso no primeiro episódio Weight Loss que os personagens do escritório, cada um de sua forma bem específica, quer emagrecer para ganhar um prêmio da empresa Dunder Mifflin, e quem administra isso é a nova chefe do RH chamada Holly no lugar de Toby, o grande antagonista de Scott.

Paul Feig, diretor desse primeiro episódio, é certeiro para iniciar essas quebras de cliffhangers de maneira formal, digo, pelo método de montagem que esse episódio vai incrementando pelas passagens de tempo e a temática dos personagens não conseguirem perder peso. Esse episódio é fundamental para entender a mudança da linguagem para o resto da temporada, em que a cada semana e dia contado em tela, estampado, o espectador foca nas mudanças dos personagens, e é exatamente nisso que o showrunner Greg Daniels quer trilhar. Holly, por incrível que pareça, é uma trava positiva e negativa, especialmente para o host Michael Scott, em que ele começa a se tornar um personagem a parte de seu papel de apresentador de fato por causa dela. Business Ethics, o episódio central para entender isso, assim como a temporada, parece desenvolver um realismo entre esses dois personagens, Holly e Michael, para aproximá-los.

A partir disso o falso documentário cresce e o ambiente realista do escritório vai se tornando um público de novo. É uma causa e efeito, mas que se prende quando se perde a triunidade. Isso de certa forma é usado a favor dos dramas da temporada, em que o exemplo de Michael parecer mais consciente e maduro, quando ele tem um insight de resoluções de conflito para si quanto a Jan e Holly, como no episódio Baby Shower, evidencia a “desincronia” de Jim e Pam claramente quanto a sitcom dramática. Há uma quebra da unidade câmera-Jim/Pam-host, em que a câmera é complacente com Holly, tirando ela do papel de desafio amoroso para Michael, e o resto inverte, em que o host quer ter sua sitcom romântica.

Assim, o escritório e seus personagens parecem crescer como corpo quando o host foca mais em seu romance, quando se cria um objetivo concreto narrativo dele. O fator Dwight tem uma punch line bem mais enfática no começo dos episódios por causa disso, em que sempre há uma piada de introdução com um humor ainda mais exaltado nessa temporada para um público cativo da série. E se o óbvio é o reset constante com essas peças desarrumadas,  por outro lado a forma que a série de Greg Daniels se comporta é mais explícita quanto a isso pelo seu caráter episódico de sitcom e sua abordagem interna de sequência dramática. Isso pode parecer repetido ao se entender tal coisa nas temporadas anteriores, no entanto, a quinta temporada espaça tal obviedade, seja com mais episódios, não episódios longos como na quarta temporada, seja pelo enfoque nos personagens, que possibilita um rejuvenescimento de proposta da série focada nos comportamentos em relação ao ambiente homônimo.

Esse é o reset, ou melhor, a quebra de expectativa comportamental que The Office faz ainda melhor quando coloca os personagens em outros patamares dramáticos. Por isso o escritório tem que seguir junto, já que ele foi colocado como cenário para Jim, Pam, Dwight e Michael como principais. E nesse novo método de focar nos personagens, um exemplo mais fatídico disso é o episódio Employee Transfer como filler escancarado, sustentando o insustentável drama de Michael com Holly enquanto Andy e Dwight imitam Jim e Dwight numa guerra de imitação.

Se o filler é um sintoma da temporada, especialmente relacionada a trava positiva e negativa da dita Holly Flax para Michael Scott virar um personagem de verdade no show que ele apresenta, Dwight e Jim no começo da temporada já tem outra relação sem a Pam no escritório. Jim durante essa temporada é cada vez mais protagonista, fugindo da essência de The Office com Michael como centro das atenções. Mas, na verdade, isso é uma consequência necessária para que o chefe assuma seu papel dramático, mostrando dinâmica nova dentro do que já existia: Jim e Dwight. A parte deles, desfocando mais Scott como apresentador, junto ao fator falso documentário das entrevistas recomeça a chamar atenção, outra essência interna da série.

No entanto, sem dúvida o que mais surpreende nessa temporada, fora as boas subtramas dos personagens que acarreta mais entrevistas, é como Michael Scott cada vez chega a subverter subestimas em sua narrativa própria de rancor com Dunder Mifflin em relação a Holly, a vilã passional para um apresentador se manter no personagem. A relação de Scott com Dunder era uma, na terceira temporada, em que ele escolheu Jan. Agora, após uma quarta temporada de variações de chefia numa proporção dramática de Jim, Scott e Ryan, o host agora aparece mais como personagem, já que seu papel no show como chefe começa a se relacionar com a Dunder, não o escritório de Scranton apenas. 

Por isso episódios como The Surplus e Prince Family Paper dividem tão bem Michael do escritório, ou melhor, dos personagens. O espectador percebe como as narrativas se divergem para o plano de que Michael tinha o conflito com Dunder e qual a consequência disso em relação aos personagens que trabalham num escritório que é da empresa Dunder de papéis. É esse roteiro que  representa muito bem que existe uma dinâmica diferente de Michael com a sua família The Office. No episódio The Surplus Jim e Pam, o sitcom romântico que a câmera adora, criam uma concorrência pelo macguffin duplo  da escolha da cadeira ou da copiadora para evidenciar novas dinâmicas, que excita bastante a relação deles que volta após o hiato grande deles separados no começo da temporada, e coloca Michael perdido. Esse caso se conecta reversamente com o episódio Prince Family Paper, pois Michael decide para os personagens do escritório que Hilary Swank “is hot” como decisão final desse episódio, mesmo quando ele estava em outra história, sem poder de decisão sobre a pressão que tinha em The Surplus.

Esses pontos ordinários já são conhecidos em The Office, em como são pontos que a série cria situações cômicas com muito pouco, o de sempre numa sitcom, mas em relação ao espaço do escritório. No entanto, esses pontos agora estão voltados aos comportamentos dos personagens, o que torna o foco do host em personagem um diferencial entre eles. Se a série sempre usa o realismo como confronto a fantasia cômica de situações extraordinárias, agora não depende do contexto, e sim como os personagens nessa temporada são confrontados por algo externo. Com a quebra do duelo nada realista de Dwight e Andy por Angela, o que torna engraçado por ser bobo diante de algo sério como adultério, os episódios seguintes tem consequência direta e dramática dos comportamentos de Dwight que quer ser o chefe de segurança do escritório, e Michael tem a crise de realismo. 

Enquanto Stanley, o centro realista, sempre é um fator determinante para Michael e para a série em sua direção do escritório, e paralelamente o romance de Jim e Pam se torna cada vez mais out of script, mas sem “subtramatizar” problematicamente; Michael é a amplitude de tudo, em como a Dunder Mifflin precisa se separar dele, um casamento para que o filho, a filial de Scranton, seja dele. Esse é o realismo inesperado, quando Michael tanto se incomoda com a demissão de Holly, a trava da série, que se torna positivo dramaticamente, como Dwight é punido por criar uma das melhores aberturas de The Office no episódio Stress Relief, quando o escritório passa por um treinamento de incêndio.

Após os episódios Lecture Circuit de Michael se sobrepondo a vontade a empresa de papéis, indo em outra filial por interesses próprios de encontrar Holly, não ensinar porque impressionantemente sua filial em Scranton é a mais rentável para outras filiais, e Pam é importante nisso por seguir a mesma ideia de que a empresa não é mais importante, e sim as pessoas do escritório, incluindo Jim em relação ao seu emprego. Voltando-se ao episódio Prince Family Paper no caso temático paralelo a Hilary Swank da discussão capitalista e uma empresa pequena de uma família que veio de um país comunista, isso provoca dúvidas realistas a Michael em meio a comédia de erros em sua relação com Dunder Mifflin. Com o episódio do Convite Dourado, a referência a Fantástica Fábrica de Chocolate, o clímax com ela se completa. Mais uma vez, a forma como a série de falso documentário tem a câmera e o David Wallace, o centro mais realista que um Stanley, muda tudo. 

Então chega-se a um ponto que fica tenso climático, que o Idris Elba, Charles Minner, o novo chefe do episódio homônimo dirigido por Paul Feig também, diretor decisivo, é um ator convidado que parece deslocado, não efetivo ao contexto, e, por isso funciona tão bem como antagonista realista, quase um vilão clássico que apaixona o público. Na cena do episódio posterior chamado Two Weeks (tempo para Michael chispar da filial de Scranton), quando Michael Scott está no chão e a câmera segue a linha baixa de seus olhos, em que um bom tempo se passa com ele desesperado chamando todo o grupo do escritório desenvolvido para ganhar mais visibilidade, fica ainda mais intenso o desespero contrário a comédia inicial do chefe pedir demissão, tornando Charles um realismo perigoso para a fantasia do host fragilizado. 

Desse jeito, o desespero real que The Office coloca para o espectador quando o apresentador do escritório não tem seu escritório é o que torna a série um falso documentário que usa a sitcom para o público, ou de maneira simultânea. Tanto que Ryan é o estagiário quando se precisa e o personagem Vikran, assim como a avó de Michael, não apoiam a loucura de Michael. É esse realismo que diferencia e possibilita ainda mais a imprevisibilidade da série, exatamente no momento em que o host não apenas tem uma narrativa própria como desarranja a raiz dorsal, desestrutura tudo e ainda consegue fazer um escritório. 

Logo, evidencia-se que o programa precisa de Michael, assim como Michael precisa de alguém do escritório, como a Pam. É muito engraçado acompanhar como Michael Paper Company não funciona, mesmo com o host. É um descolamento que evidencia a óbvia fantasia, mas a Dunder não compreende esse gênero impregnado em Michael. Jim e Pam são os fios que compreendem isso, e a fotografia se torna mais dramática, não tanto realista, no escritório mais novo do Michael, pois é totalmente um ambiente anormal que necessita um pouco de magia para ser levado a sério.

E então, quando o programa chama o apresentador de volta e ele traz seus personagens de volta para o programa, como Ryan e Pam, Charles já não entende mais nada, o convidado se perde na fantasia cômica, especialmente entre Jim e Dwight, entre a pessoa e o trabalhador. É uma temporada que trabalhou muito bem os testes de Michael ir embora, de Michael ter sua narrativa fora do escritório e como o escritório não é só um espaço, e sim um povo, mini povo que realmente está em um programa de humor enquanto trabalha. Essas exclusões, esse descascar das camadas, pincelar os significados é um percurso de desenvolvimento e o que o falso documentário permite, em vista que o público do host se torna protagonista, e o host também vira personagem.

O episódio Casual Day é apenas o disfarce de que está tudo bem para mostrar que está tudo errado ainda com essa proposta antes de acabar a temporada. O host impôs ao seu público novos participantes de volta, mas ainda é um público que durante várias temporadas agora se tornou protagonista também, não só serviçais de um escritório. Até Toby tem agora um passado de frade, e Michael agora tem duas bases de sustento na série: antes da Dunder e depois da Dunder. É um host completo agora. Não dá mais para ignorá-lo. Por isso o Café Disco só funciona quando Dwight e Michael se ajudam de novo, quando Angela mexe o pé, quando definitivamente tudo volta à harmonia com o chefe impulsionando. Ele não impõe e dá certo, na verdade acontece, Erin (nova secretária) e Kelly se movimentam. E é assim, Michael Scott não é mais o definidor, ele também é personagem, ele perdeu Holly, ele perdeu a Dunder, ele agora tem que dançar junto, não só mandar eles dançarem.

Se todas as outras temporadas tinham resets e refreshs, essa temporada tem manifestações, manifestação de Michael com Dunder, manifestação de Jim para casar com Pam, desde comprar a casa a planejar casar, manifestação de Dwight com Angela, enfim, manifestações para que os personagens fossem mais centrais do que o ambiente do escritório, tanto que essa temporada teve bem mais momentos no próprio ambiente do escritório, mesmo quando tivesse montagem paralela de escritório/local externo. office office office office office office office

Em meio a toda essa transformação, o último episódio de temporada é terreno neutro e de resolução, quase um epílogo, especialmente pensando em Holly e Michael em um piquenique promovido pela Dunder Mifflin para definitivamente cessar conflitos. Diferente das outras temporadas, a quinta parece fechar todas as suas narrativas, colocando o host voltando a ser host, meio que abandonando sua narrativa individual de romance, enquanto Jim e Pam, com a câmera, deixam em silêncio o segredo. É um final perfeito que mostra como os trabalhadores do escritório estão mais time, como jogando vôlei, sem depender do espaço, como foi trabalhado durante a temporada. E é interessante ver Stanley rindo de Michael, isso significa muito o avanço e desenvolvimento dos personagens após o grande conflito da quarta temporada. O episódio 100, esse último da quinta temporada, é digno de uma série que consegue apostar em avanços, sempre buscando sair do comodismo. Claramente a filial de Buffalo perdendo o emprego e Scranton quase ganhando de Nova Iorque no vôlei é o que representa muito como Dunder Mifflin não é o mais importante.

The Office – 5ª Temporada (The Office, EUA, 2008 – 2009)
Criação: Greg Daniels, Ricky Gervais, Stephen Merchant.
Direção: Ken Whittingham, Randall Einhorn, Jeffrey Blitz, Greg Daniels, Paul Lieberstein, Jason Reitman, Paul Feig, Jennifer Celota, David Rogers, Stephen Merchant, Dean Holland, Asaad Kelada, Ken Kwapis, Steve Carell.
Roteiro: Greg Daniels, B.J. Novak, Mindy Kaling, Paul Lieberstein, Justin Spitzer, Lee Eisenberg, Lester Lewis, Steve Carell, Ryan Koh, Aaron Shure, Charlie Grandy, Anthony Q. Farrell, David Rogers, Lester Lewis, Brent Forrester, Warren Lieberstein, Halsted Sullivan.
Elenco: Rainn Wilson, Steve Carell, John Krasinski, Jenna Fischer, Mindy Kaling, Leslie David Baker, Brian Baumgartner, Angela Kinsey, Kate Flannery, Phillys Smith, Creed Bratton, Oscar Nuñez, B,J Novak, Craig Robinson, Paul Lieberstein, Melora Hardin, Rashida Jones, Ed Helms, Hugh Dane, Amy Ryan, Idris Elba, Michael Schur, Robert R. Shafer
Duração: 23 minutos (em média) cada episódio – 26 episódios na temporada, com 2 com duração de mais de 40 minutos.

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