- Há spoilers. Leiam, aqui, as críticas de todos os episódios da série e, aqui, de todo nosso material do universo X-Men.
Dividido em duas partes, o quarto episódio de X-Men ’97 é a entrada mais esquisita da temporada até aqui. De início, é um pouco estranho termos um seguimento que não aborda os eventos do episódio passado sobre a clone de Jean Grey, usando uma desculpinha esfarrapada de que eles estão na ONU lidando com a representação de Genosha, mas, na contramão dessa crítica, gosto da ideia dos coadjuvantes ganharem mais atenção, como ocorre aqui com Jubileu. Em termos narrativos, não é exatamente uma transição suave, só que não é de todo ruim termos um tratamento mais solto entre capítulos, em um senso de continuidade menos rígido.
A questão é que o segmento no Mojoworld é fraquinho demais. Assim como aconteceu com o Sr. Sinistro, o Mojo é um antagonista subutilizado ao longo da aventura e acaba deixando pouca expressão para além do seu “vilão da semana”. A premissa em torno do videogame também me soa subaproveitada, na maneira que o roteiro parece mais interessado em alguns acenos nostálgicos para acontecimentos da série original do que necessariamente em se aproveitar dessa plataforma com criatividade. A impressão que fica é que nem tivemos uma “fase” propriamente dita durante o bloco, com os personagens meio que perambulando pelo universo sem muita direção narrativa. Até acho que a Jubileu é uma personagem carismática e que o arco batido de coming-of-age com o Mancha Solar é genericamente simpático, até para essa juventude trazer um pouco de leveza para as dinâmicas maduras dos outros X-Men (falando nisso, cadê os outros estudantes?!), mas o saldo final de todo o segmento para mim é no máximo razoável e não chama muita a atenção, seja pelo desperdício da premissa e do vilão, seja pelo desfecho um tanto anticlimático com aquele kamehameha fajuto.
A culpa parcial desse desperdício pode ser da duração limitada do segmento, que ficou espremido em um pouco mais da metade do episódio para dar espaço à segunda parte com Tempestade e Forge. A questão é que o segmento de Ororo recuperando seus poderes sofre do mesmo problema, tendo que comprimir muita coisa em poucos minutos. Em um instante estamos conhecendo Forge e a história tem uma introdução paciente para o problema central da trama, mas logo depois a narrativa vai se atropelando entre reviravoltas desajeitadas, Forge dizendo que ama a Ororo e acabamos com uma apresentação atabalhoada do Adversário, um vilão demoníaco que faz parte da mitologia xamã de Forge, em uma edição atrapalhada no ato final do segmento. Obviamente que pelo título do segmento e pelo gancho vamos ter uma segunda parte desse conflito, mas a sucessão de eventos aqui é muito repentina, inorgânica e meio bagunçada mesmo.
Entendo que a produção queria fazer um capítulo mais solto da história principal e até não fico muito preocupado com o nível de qualidade do restante da temporada, mas é inegável que a proposta não funcionou com a destreza requerida. Acabamos com dois segmentos muito estranhos e que não se comunicam tão bem entre si e nem com os episódios iniciais da temporada, em uma espécie de mixórdia que entretém pela sua própria esquisitice com um universo de videogame controlado por um ser que se alimenta de audiência e uma coruja-demônio que veio devorar o desespero de Ororo. Quem sabe se com mais tempo ou mais criatividade esses segmentos poderiam ter sido melhores, mas, da minha perspectiva, tudo acaba sendo corrido, trivial e sem muito sentido. Espero que tenha sido apenas um desvio equivocado, até porque a temporada é curta para termos outros episódios com esse tipo de abordagem.
X-Men ’97 – 1X04: Motendo / Lifedeath – Part 1 (EUA, 03 de abril de 2024)
Desenvolvimento: Beau DeMayo
Direção: Chase Conley
Roteiro: Beau DeMayo, Charley Feldman
Elenco: Ray Chase, Jennifer Hale, Alison Sealy-Smith, Cal Dodd, J. P. Karliak, Lenore Zann, George Buza, A. J. LoCascio, Holly Chou, Isaac Robinson-Smith, Matthew Waterson, Adrian Hough
Duração: 31 min.
