Home TVEpisódio Crítica | Doctor Who – 12X03: Orphan 55

Crítica | Doctor Who – 12X03: Orphan 55

por Luiz Santiago
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Escrito pelo mesmo autor de O Sapo Não Lava o Pé It Takes You AwayOrphan 55 é um episódio complicado e que já descobri que está sendo odiado pelos motivos mais estapafúrdios possíveis, alimentando aquela ideia de que quando a gente está disposto a odiar algo, a própria existência desse “algo” já é o bastante (eu tenho a minha lista curta de coisas assim, sei bem do que estou falando). Embora a jornada de Chris Chibnall à frente da série dê munição para esse tipo de pensamento, um pouco mais de sensatez e pé no chão poderia ajustar as reclamações para aquilo que o episódio realmente tem de problemático. E dentre essas coisas não estão os humanos mutantes e nem um trágico futuro possível do nosso planeta.

Ed Hime começa seu rap com um toque cômico e ainda assim solene, pelo humor afetado da Time Lady após a ‘revelação’ do Mestre em Spyfall – Part Two. A equipe está faxinando a TARDIS após a nojeira causada por uma espécie em época de acasalamento para quem eles, pelo visto, deram carona. Os diálogos são rápidos, Graham aparece todo pimpão com os cards promocionais que acumulou da máquina de café da nave e então a Doutora e seus companheiros são teletransportados para o Tranquility Spa, no planeta Orphan 55. A apresentação do problema/divertimento é bem feita, a direção de Lee Haven Jones é inacreditavelmente caprichada (algo que me faria sentir imensa raiva dele na segunda metade do episódio, simplesmente por passar de uma ótima direção para o piloto automático) e a interação do time da TARDIS com esse lugar de férias que logo se torna um problema também merece grande destaque (pedaços de The Leisure Hive e The Mysterious Planet me vieram à mente).

E aí chegamos a uma das estranhas reclamações: como isso se encaixa na linha do tempo da série? A resposta é: se encaixando! A Doutora deixa bem claro que o que se vê aqui é um futuro possível da Terra, com humanos mutantes. E convenhamos, reclamar disso em Doctor Who é estupidez pura e simples, porque já vimos humanos mutantes num futuro possível da Terra poluída em The Curse of Fenric; já vimos uma versão paralela da Terra ser devastada na obra-prima Inferno, e até na Nova Série já vimos uma versão modificada da Terra e dos humanos em Utopia, ou seja, hatear a mutação do Homo Sapiens e a mudança do planeta ainda tendo a indicação de que este é apenas um dos futuros possíveis me parece choro de bebezão que quer colocar problema onde não existe problema.

O mesmo se dá com a temática do episódio, que ao mesmo tempo segue a base de muitas histórias isoladas da série (com premissa + início ótimos) e traz em seu bojo uma mensagem de alerta para impactos negativos da humanidade sobre o meio ambiente, assunto que nós vemos aparecer sob os mais diversos patamares no show, desde The Moonbase, na Era do 2º Doutor, passando por The Green Death (3º Doutor) até citações leves ou trabalhos diretos com essa temática de desequilíbrio da flora/fauna/terra/águas/ar do planeta que aparecem na Nova Série em diversos momentos, como em Planet of the OodThe Waters of Mars, The Hungry Earth/Cold BloodIn the Forest of the Night e já na fase atual do programa, em Arachnids in the UK. A mensagem em relação ao meio ambiente, portanto, nunca foi ausente na série e nunca foi um problema para a série. O que ocorre — e este é o meu maior impasse com o presente episódio — é a questionável abordagem do tema. E não por ser ESTE tema. Qualquer assunto importante que é mal entregue, mal abordado ou jogado ao didatismo acaba sendo um problema. Aqui, não estamos lamentando o conteúdo, mas a forma.

O trabalho que o roteiro faz brincando com a ideia de base sob ataque num planeta que ainda não sabemos, mas é o nosso (referenciado muito mais De Volta ao Planeta dos Macacos do que o glorioso clássico dirigido por Franklin J. Schaffner) é inicialmente feito de modo aplaudível. A forma como Haven Jones filma o ataque do Dreg é absolutamente assustadora, com cortes rápidos e se valendo de uma bela fotografia, variando cores de cena para cena, mas com a menor incidência possível de luz sobre o monstro, um tipo de mistério que o deixa ainda mais assustador, perdendo-se depois, quando vemos os corpos pálidos, ridículos e um pouco menos assustadores em seu próprio habitat. À medida que o texto amplia o seu alcance e insere novos personagens, as coisas começam a cair de qualidade. O mecânico e o filho de cabelos verdes, por exemplo. Eu trocaria ambos por um tratamento inteligente do roteiro colocando a Doutora descobrindo como sair daquela situação. E o que dizer do irritante e inútil casal de velhinhos? É o tipo de camada de um enredo que a gente olha e tenta entender o que deu na cabeça do escritor para colocar isso no papel. O tempo gasto com essa bobagem poderia facilmente ser utilizado para desenvolver uma relação dupla realmente interessante e que merecia mais tempo de tela: Bella (Gia Lodge-O’Meally) & Ryan e depois Bella & Kane (Laura Fraser).

Após a ágil e ótima luta contra os Dregs e o teletransporte da equipe para a TARDIS, chegamos ao maior problema do episódio para mim: aquele discurso final da Doutora. A atuação de Jodie Whittaker é muito boa, a mensagem é absolutamente necessária e interessante, mas minha gente, o que foi aquilo pelo amor de Deus? O diálogo da Doutora com a gang de repente se torna uma pregação que claramente se dirige ao público, num longo fôlego em torno de um tema que o próprio roteiro já tinha deixado extremamente claro. Eu não consigo entender o por que o autor achou necessário bater na mesma tecla, agora de maneira mais formal e com ar de palestra para o espectador. A pior e mais vergonhosa forma de se entregar uma mensagem, especialmente quando é uma repetição. O discurso até o futuro possível da Terra poderia pegar qualquer outro ramo possível envolvendo o grupo, com algum tipo de demonstração prática, mas o final mastigado foi um legítimo banho de água fria em todo o restante, ainda com um corte ameaçador e mais didático para um Dreg após o “ou…” da Doutora. Vergonhoso. E uma pena. Porque o cerne do capítulo foi bem explorado e, à parte problemas menores, garantiu uma boa diversão.

Doctor Who – 12X03: Orphan 55 (Reino Unido, 12 de janeiro de 2020)
Direção: Lee Haven Jones
Roteiro: Ed Hime
Elenco: Jodie Whittaker, Bradley Walsh, Tosin Cole, Mandip Gill, Laura Fraser, Gia Lodge-O’Meally, James Buckley, Julia Foster, Amy Booth-Steel, Will Austin, Colin Farrell, Lewin Lloyd, Spencer Wilding
Duração: 45 min.

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