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Crítica | O Caçador de Ratos

Um mistério de roedores.

por Luiz Santiago
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Na pequena nota exibida ao final de The Rat Catcher, podemos ler o seguinte: “nos anos 40, Dahl morou no Wisteria Cottage. Sua principal ocupação: escrever ‘Claud’s Dog’, um ciclo de contos inspirados na região e seus moradores. ‘O Caçador de Ratos’ é um deles.”. Nesta sua adaptação do material original, Wes Anderson aproximou-se bastante de um filme de terror, colocando no personagem-título os trejeitos e a expressão de um roedor, ao mesmo tempo em que o representava um grande especialista em exterminar ratos através dos mais diferentes métodos.

Neste curta-metragem, Ralph Fiennes tem destaque não apenas como o escritor Roald Dahl, mas interpreta muitíssimo bem o papel do “homem-rato”, numa participação mais relevante do que em seus papéis adicionais anteriores, neste projeto de curtas assinados por Wes Anderson: o badalado A Maravilhosa História de Henry Sugar, e o delicado e ótimo O Cisne. Este papel do ator mistura a estranheza de uma boa maquiagem, cabelo e figurinos a uma representação um tanto doentia de um homem que trabalha com dedetização, tudo combinando com o desenvolvimento da história na trilha do terror.

Não se trata, porém, de um terror típico, que fique claro. O aspecto de “narração de um conto” segue como essência da adaptação, mas a montagem, a trilha sonora e o ritmo interno da fita são muito mais ágeis do que nos outros curtas da tetralogia, dando a ele uma força diferente. A longa conversa sobre o extermínio dos ratos, aqui, é apenas a superfície de uma (possível) interpretação sobre o que é aceitável e o não aceitável em uma sociedade. Aquilo ou aqueles que devem fazer parte do grupo, contra os que precisam ser atraídos, através dos mais distintos métodos, para que sejam definitivamente extirpados do meio social — considerando aí diversas justificativas plausíveis.

O incômodo dos observadores (muito bem interpretados por Richard Ayoade e Rupert Friend) diante dos hábitos nojentos do “homem-rato”, não passa de uma visão passiva para os acontecimentos, às vezes expressando-se verbalmente, mas nunca fazendo algo prático. Os ratos, afinal, precisam ser eliminados, e o caçador, por mais reprovável que seja, é um “mal necessário” que desperta, por algum tempo, bastante curiosidade. O desenvolvimento da história, portanto, nos permite vê-la para além de um simples controle de praga urbana, e justamente pela relação com o caçador de ratos, torna esses significados das entrelinhas ainda mais assustadores.

O problema da película está na reticência anticlimática da conclusão. Nem a direção de Wes Anderson consegue criar um bom sustentáculo para o fato de que os ratos daquele lugar não estão comendo a aveia envenenada. O texto não traz nenhuma indicação que supra essa dúvida. A imagem também não. Portanto, o curta fica com uma abertura narrativa desnecessária, o que é ruim porque este é o tipo de enredo tão fechado em si e tão cheio de sentido interno, que uma indefinição dessas, justamente no encerramento, tem a capacidade de enfraquecer consideravelmente toda a realização. Não fosse essa conclusão frágil, eu certamente veria neste aqui, o curta mais interessante da tetralogia, por exemplo. Mas mesmo que não o seja, uma coisa é certa: existem muito mais elementos interessantes em O Caçador de Ratos, em termos de assinatura da direção para a criação da história, do que nos curtas citados anteriormente.

O Caçador de Ratos (The Rat Catcher) — EUA, 2023
Direção: Wes Anderson
Roteiro: Wes Anderson (baseado em obra de Roald Dahl)
Elenco: Ralph Fiennes, Richard Ayoade, Rupert Friend, Eliel Ford, Benoît Herlin, Till Sennhenn
Duração: 17 min.

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