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Crítica | Mágico Vento – Vol. 4: A Besta

Um capítulo perdido da franquia dos "vermes malditos"?

por Luiz Santiago
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No início dessa aventura, Ned Ellis e seu amigo Poe estão patrulhando uma região em busca de um grupo de indígenas que andam saqueando e aterrorizando pequenos acampamentos de colonos. Parece mais uma cavalgada de reconhecimento do que de enfrentamento, mas eles acabam encontrando-se com esses nativos logo após trocarem algumas palavras com três mulheres que estão fazendo uma parada na região. Elas viajam em direção às terras mórmons, a alguns quilômetros do local, para a casa do irmão de uma delas. O tiroteio de abertura do quadrinho é bom e dá um “falso tom” para o que será toda a trama, que sai do recorrente enfrentamento entre colonos e nativos ou inimigos humanos em geral para um cenário de weird western, onde o vilão é um misterioso animal do interior da terra.

Durante a leitura, foi praticamente impossível não me lembrar dos graboides de O Ataque dos Vermes Malditos, comparando-os com a besta que ganha destaque a partir de certo ponto da história. O roteiro de Gianfranco Manfredi estabelece também uma problemática secundária para contextualizar melhor o caso da besta, colocando o preconceito de Poe em relação aos mórmons em evidência e fazendo um pequeno estudo do modo de vida desses indivíduos. É uma história com abordagem bastante honesta a respeito desses religiosos, especialmente durante a sua polêmica trajetória no século XIX, nos Estados Unidos. Ou seja, o texto fala de atitudes violentas de alguns grupos mórmons (o Massacre de Mountain Meadows, ocorrido em setembro de 1857, é literalmente citado), mas também de atitudes benevolentes e compassivas de outros, sem generalizações.

É verdade que trabalhos com qualquer tipo de ajuntamento ou prática religiosa mais restrita em regras e mais fechada a forasteiros sempre vai trazer um certo ar de desconfiança, e é justamente isso que o roteiro de Manfredi explora aqui, em benefício da história. Gosto bastante da maneira como o texto dá a devida importância aos conflitos humanos, mesmo tendo a tal besta como o grande destaque do volume. É o combate a ela que deixa o leitor em grande expectativa, mas o trajeto até essa batalha consegue ser ainda mais interessante que o clímax de toda a trama. O flashback para a vida das mulheres que Mágico Vento e Poe acompanham até a terra dos mórmons é excelente, o mesmo valendo para o que mostra o chefe daquela comunidade de religiosos conversando com os indígenas e conhecendo a história da besta.

Minha impressão é que o final desse enredo foi pensado para deixar os personagens plenamente em paz após um período de intensas provações e mortes. É um final alegre, com as questões sendo resolvidas coerentemente, mas que particularmente não me chamou a atenção em nada. Aliás, eu tenho dificuldade para amarrar bem histórias que possuem um largo componente de ação e violência e, em seu encerramento, parecem esquecer-se por completo de tudo o que foi vivido, entrando de braços abertos no modo romântico. Parece que o leitor perdeu umas cinco páginas de quadrinho até ali. Já comentei que o clímax, a batalha contra a besta, não foi assim tão marcante quanto o enredo sugeria, mas é claro que é um momento emocionante da aventura e deixa os olhos do leitor passando nervosos de um quadro para o outro, admirando o movimento do bicho e a fuga dos humanos que Pasquale Frisenda desenha tão bem.

Existe uma linha de choque cultural em evidência nessa HQ, e isso é representado na interação de Poe com os mórmons e também desses religiosos com os indígenas. O último estágio dessa situação é quando o líder da comunidade quer matar a besta com a “Espada de Labão” e parte para vigiar, sozinho, o local de escavação de petróleo, a fim de usar de sua “arma divina” contra o que ele acreditava ser o próprio demônio. Esta é uma faceta da trama que me agradou bastante e que é muito bem costurada aos conflitos principais. O final romântico e repentinamente ajustado à paz não me agradou muito, mas deriva de uma leitura com um bom desenvolvimento, bons flashbacks e algumas boas cenas de ação.

Mágico Vento – Vol.4: A Besta (La Bestia) — Itália, outubro de 1997
N o Brasil: Editora Mythos, 2002 e 2018
Roteiro: Gianfranco Manfredi
Arte: Pasquale Frisenda
Capa: Andrea Venturi
100 páginas

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