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Crítica | Pixar na Vida Real – 1ª Temporada

por Davi Lima
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Usando a estrutura televisiva de programas baseados em practical jokes, ou como é muito conhecido no Brasil, pegadinhas alá SBT, a primeira temporada da Pixar na Vida Real captam pessoas passando pelas ruas de Nova Iorque que se deparam com a teatralização de narrativas ou de personagens dos longa metragens de animação da Pixar. São micro histórias semi integradas ao ambiente urbano em variações quanto às possibilidades verossimilhantes de cada universo dos filmes. Pois esse é o centro de entretenimento da série, evidenciar como a Pixar sempre foi pautada na realidade para fundamentar suas animações, seja com humanos ou não.

A partir disso, com essa teatralização em praças, calçadas e ruas, os processos de conexão com o público, em reações e interações, progridem no conhecimento ou no reconhecimento das pessoas do que se conta nas pegadinhas urbanas. Dentro da ambiguidade da montagem, do que se escolhe ou não mostrar nos curtas, por vezes não se sabe quem reconhece a cena de Toy Story 2, a marca da Monstros S.A, ou mesmo a personagem Merida num campo de arco e flecha. A brincadeira é sempre essa, algumas mais roteirizadas do que outras, o que torna a teatralização desconexa. Exemplo ruim é a falsa suspensão de descrença de trabalhadores da Marine Life Institute tentando empolgar as reações das pessoas quanto a um polvo num carrinho de bebê como na cena de Procurando Dory. Enquanto um bom exemplo, que flui mais naturalmente, acontece com o episódio que Merida na recriação da cena do filme Valente quando ela prova aos homens seu valor e foge de um casamento. A atriz ruiva vai para a realidade de um treinamento de arco e flecha, discursando sua história enquanto agia como a personagem acertando todos os alvos e causando estranhamento de conflito temporal e visual, como qualquer cosplay fora de uma convenção ou Comic Con da vida.

Isso acontece porque tudo nessa produção se baseia nas reações das pessoas, essa é a estrutura audiovisual que a televisão tanto ensinou sobre truques e pegadinhas com o público alheio na rua, sempre buscando as reações como base. No entanto, a base cultural de conhecimento dos filmes da Pixar e plausibilidade de um Wall-E existir, uma empresa futurista como BnL produzir fast food processadas em liquidez, ou uma empresa de eletricidade a base de gritos e risadas como fonte alternativa fazendo marketing, coloca o estilo de pegadinhas para uma reflexão de discursos e sobre como a realidade se retroalimenta em suas produções cinematográficas. 

Assim, seja a brincadeira dos irmãos gêmeos para provar que o personagem Flecha, de Os Incríveis, em live action rodeia um prédio em menos de 10 segundos, ou do show de atores que tentam se submeter às mudanças emocionais num palco ditado pela máquina de controle das emoções em Divertida Mente; há um padrão e criatividade que tornam a semi integração da Pixar com a realidade: a experiência. A exemplo disso, dificilmente representações de Carl ou Russell do filme Up – Altas Aventuras integram a relação com filmes da Pixar como a empresa fictícia BnL com uma lojinha de amostra grátis na calçada, um Wall-E entregando uma aliança para mulheres, quase pedindo casamento ao sair de uma caixa de lixo. Mas sem dúvida, principalmente, não fazem como Miguel e sua abuelita Elena do filme Viva: A Vida é uma Festa, que por meio da música tratam diretamente com a realidade de pessoas tocando e cantando a música Remember-me nas praças nova-iorquinas, como qualquer outro grupo musical das ruas. 

Desse modo, a série de curtas de Reality-TV de pegadinhas demonstra como a Pixar no cerne de seus filmes apresenta muita verossimilhança, algumas mais explícitas que outras. Mesmo com uma base cômica televisiva, a série ainda alcança êxtase emocional e dramática surpreendentes com as reações da população de Nova Iorque, seja pela capacidade integrativa do teatro da produção, seja pela base humanística emocional que tanto a Pixar investe em seus filmes.

Pixar na Vida Real – 1ª Temporada (Pixar in Real Life, EUA, 2019 – 2020)
Criação: Charlie Todd
Direção: Charlie Todd
Elenco: David Greenberg, Stephanie Linas, Curtis Retherford, Zihan Zhao
Duração: Aprox. 44 min. (11 episódios)

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