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Lista | Top 10 – As Melhores Paródias de Filmes e Gêneros Cinematográficos

Corra que as paródias estão aqui!

por Ritter Fan
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O Cinema sempre foi profundamente autoconsciente e a maior prova disso é que paródias de filmes e de gêneros cinematográficos existem desde que o cinematógrafo foi inventado, com a primeira delas sendo, até onde me consta, O Pequeno Roubo do Trem (The Little Train Robbery), de 1905, que, com crianças no elenco e trens em miniatura, mirou e acertou na sensação O Grande Roubo do Trem (The Great Train Robbery), de 1903. Com a estreia de Corra que a Polícia Vem Aí!, nova versão do clássico homônimo de 1988 que se originou de uma série de TV cancelada e que gerou duas continuações, eu (Ritter Fan) e meus colegas Luiz Santiago e Kevin Rick resolvemos mergulhar nesse vasto subgênero cinematográfico para criar um Top 10, uma tarefa dificílima na medida em que as discussões se alongaram, mas que resultou em um razoável consenso com base em algumas regrinhas.

A primeira delas é que, obviamente, só foram elegíveis longas-metragens (não curtas e não médias metragens!) que parodiam filmes específicos ou gêneros cinematográficos em geral (e não toda e qualquer paródia, portanto). Para abrir espaço para obras variadas, elegemos, quando foi o caso, apenas um filme de determinado diretor, ator ou produtor. Com isso, por exemplo, citamos apenas um filme de Mel Brooks, cineasta que construiu sua carreira em cima de paródias e poderia sozinho, muito facilmente, povoar a lista quase toda.

Com isso, vamos à lista, começando pelas Menções Honrosas, os filmes que foram “cortados” durante a discussão que a gerou, em ordem alfabética do título em português: Austin Powers: 000, um Agente Nada Discreto (paródia de filmes de espionagem, especialmente da franquia James Bond), Cliente Morto Não Paga (paródia de filmes noir), Marte Ataca! (paródia de filmes de ficção científica, especialmente dos de invasão alienígena), Pandemônio (paródia de musicais) As Patricinhas de Beverly Hills (paródia de filmes de adolescente), Quando as Metralhadoras Cospem (paródia de filmes de gângster), Quem Vai Ficar com Mary? (paródia de comédias românticas), Ricky Bobby: A Toda Velocidade (paródia de filmes de esporte), Todo Mundo Quase Morto (paródia de filmes de horror, especialmente dos de zumbi), Vou Te Pegar Otário (paródia do blaxploitation).

Agora sim, vamos à lista principal, na ordem de lançamento dos filmes (e mandem as listas de vocês!):
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Meu Nome é Joe
(Limonádový Joe aneb Konská opera – Checoslováquia, 1964)

  • Paródia de faroeste.

O mais interessante aqui é como o diretor brinca com elementos técnicos para dar vida ao escárnio, utilizando de maneira orgânica e com precisão a câmera lenta, a montagem à la stop-motion, os closes excessivos, o musical como identificação cômica de personalidade (o pai dizendo de maneira dúbia para seu filho Hogo Fogo ao final do filme: “Nosso negócio precisa de todos os tipos de talento”) e até as imersões dos fotogramas em mono-tonalidades a exemplo do Primeiro Cinema, porém, com licenças dramáticas excelentes: quadros em sépia para interiores e blocos narrativos comuns; azul para noite; vermelho para libido e tonalidades como amarelo, laranja e limão para diferentes situações, geralmente como passagem abrupta (assim como abrupta é a mudança de opinião dos habitantes da cidade) de uma atmosfera para outra.

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Monty Python em Busca do Cálice Sagrado
(Monty Python and the Holy Grail – Reino Unido, 1975)

  • Paródia de épico histórico, filme religioso e filmes sobre as lendas arturianas.
  • Representa boa parte do conjunto da obra do Monty Python.

As excelentes interpretações da trupe, a direção de arte tão peculiar quanto o roteiro, os figurinos que são uma mescla da Idade Média Central (a história se passa no ano 932) e das suposições indumentárias típicas dos contos do Rei Arthur, a trilha sonora entre o militar/épico e o suspense e as excelentes animações que servem de ponte entre os esquetes; tudo isso faz de Em Busca do Cálice Sagrado um filme delicioso de se assistir. Apesar das quebras que o roteiro traz, esta é uma obra que abraça todo tipo de consideração secular, desde críticas sociais aos libertários e anarco-sindicalistas até comportamentos religiosos e fanáticos típicos dos anos 70 no Reino Unido. O espectador ainda tem bons momentos de quebra da quarta parede e uma maneira muito inteligente do grupo em inserir a metalinguagem no filme, novamente, como recurso de continuidade, que mesmo não funcionando todas as vezes, jamais deixa de ser engraçado. Esta é uma daquelas sagas que só humoristas muito bons e completamente loucos poderiam colocar nas telonas e fazer o público rir, às vezes de nervoso, às vezes pelo exotismo das situações e, na maioria das vezes, por estar diante de comédia fina, violenta e absurda de qualidade incomparável.

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Alta Ansiedade
(High Anxiety – EUA, 1977)

  • Paródia de filmes de suspense, especialmente os de Alfred Hitchcock.
  • Representa quase a totalidade da filmografia de Mel Brooks.

Mas Brooks vai além das obviedades. Sim, claro que ele cria sua própria versão das célebres cenas do chuveiro em Psicose, do ataque dos pássaros em Os Pássaros e da vertigem no campanário de Um Corpo que Cai, pois é irresistível abordar esses momentos inigualáveis do cinema, mas o que realmente importa em Alta Ansiedade, o que faz o longa dar alguns passos adiante do que poderia apenas ser uma sucessão de esquetes de filmes de terceiros que qualquer Saturday Night Live poderia executar de maneira tão eficiente quanto, é que tudo, absolutamente tudo no longa – direção de arte, fotografia, trilha sonora, montagem – faz esforço para emular Hitchcock como se o diretor britânico estivesse trabalhando sob efeito de esteroides.

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Apertem os Cintos, o Piloto Sumiu
(Airplane! – EUA, 1980)

  • Paródia de filmes desastre, especialmente os da franquia Aeroporto.
  • Representa quase a totalidade das obras dos irmãos David Zucker, Jerry Zucker e Jim Abrahams.

No que diz respeito ao humor, o destaque está em como o roteiro é hábil em criar situações absurdas, por exemplo, mostrando crianças agindo como adultos, velhinhas falando gírias para negros ou um boneco inflável dirigindo o avião. Mas a maior graça está no fato de os personagens encararem esses momentos com seriedade total. Por isso, vale destacar a habilidade incrível do elenco em manter frieza nos momentos cômicos, principalmente na figura do gênio do humor Leslie Nielsen. Dono de um carisma imenso, ele consegue arrancar risadas mesmo com o semblante sempre sério.

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Isto é Spinal Tap
(This is Spinal Tap – EUA, 1984)

  • Paródia de documentários e filmes sobre celebridades e sobre as indústrias do entretenimento.
  • Representa quase a totalidade da filmografia de Christopher Guest.

Mas porque Isto É Spinal Tap é tão bom? Há várias respostas para essa pergunta que podem passar pelos precisos aspectos técnicos da direção de Reiner, pelo inacreditável elenco capitaneado por Michael McKean (sim, o Chuck de Better Call Saul) e pela direção de arte feita com orçamento pífio (o filme custou dois milhões de dólares), mas que é irretocável. No entanto, a grande verdade é que a excelência da obra decorre da maneira absolutamente perfeita como ele encara o estrelato em geral e as bandas de rock (ou de qualquer estilo musical) em particular. Não há documentário ou filme de ficção que consiga lidar tão bem com temas tão comuns ao meio musical. Isto É Spinal Tap é como se fosse uma cápsula atemporal que reúne, em 82 minutos, tudo o que podemos querer saber sobre os bastidores da fama em uma obra que brinca com (não zomba) e ao mesmo tempo respeita o mundo artístico.

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Heróis Fora de Órbita
(Galaxy Quest – EUA, 1999)

  • Paródia de filmes de ficção científica, especialmente os da franquia Star Trek.

A inteligência do roteiro está no uso da metalinguagem para trabalhar todo o conceito do filme, transformando-o em algo que parte de uma abordagem semi-documental para ficção científica pura em questão de minutos, mas sempre de maneira muito próxima ao espectador e, vou repetir, ao fã em geral. Afinal, não há nada mais meta do que o filme abrir em uma convenção anual dedicada a Galaxy Quest, uma série de TV igual em cada minúcia, inclusive no título, a Star Trek, que não é mais produzida há 18 anos. Mas os fãs continuam tão ou mais ardorosos que antes, passando para seus filhos os mesmo gostos. O elenco, por sua vez, que muito claramente nunca mais teve alguma participação em série ou longa metragem de monta, vive de fazer aparições pagas nessa e em outras convenções, alimentando a adoração dos fãs em um ciclo vicioso muitas vezes pouco sadio.

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Kung-Fusão
( 功夫 / Gōng Fū – Hong-Kong/China, 2004)

  • Paródia dos filmes de artes marciais.

Um dos maiores méritos de Kung-Fusão é precisamente assimilar as influências e os estereótipos ao seu redor de maneira extremamente consciente. Trata-se de uma obra que entende com clareza sua proposta e suas limitações, subvertendo muitas vezes os próprios limites em função de uma busca ainda maior do espectro fantasioso-humorístico. Tudo isso pois é exatamente essa questão que o filme aborda: um conto fantástico envolvendo kung-fu e a procura de si mesmo em meio à jornada.

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Team America: Detonando o Mundo
(Team America: World Police – EUA, 2004)

  • Paródia de filmes policiais e de praticamente todos os filmes americanos dos anos 80 que colocavam os EUA como força salvadora do mundo.

Com uma sequência inicial que basicamente destrói Paris e sequências que são o sonho molhado de preconceituosos que provavelmente não perceberão a crítica e a ironia, como a que Gary é “transformado” em um muçulmano “típico” com pele parda, tufos de cabelos desgrenhados colados no rosto de qualquer jeito e um enorme turbante de toalha, o filme é uma sucessão de momentos absurdos costurados ao redor de infindáveis clichês do gênero que orgulhariam Jerry Bruckheimer, inclusive mortes hilariamente dramáticas e uma sequência de montagem para o treinamento acelerado de Gary que é autoconsciente sobre o que ela é. E, claro, há a obrigatória sequência de sexo entre bonecos que, ironicamente, foi o único ponto de contenda entre a produção e a Motion Picture Association, responsável, dentre outros, pela classificação indicativa das obras cinematográficas dos EUA, deixando muito claro que mostrar sexo com bonecos de plástico sem genitália não pode, mas explodir cabeças, crivar corpos de balas e cometer todo o tipo de violência explícita em cena está totalmente liberado.

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Trovão Tropical
(Tropic Thunder – EUA, 2008)

  • Paródia de filmes de guerra e de filmes sobre Hollywood.

Trovão Tropical é um filme que parece irreal. Uma comédia crua e politicamente incorreta sobre as vaidades de Hollywood com alto orçamento e elenco de grife que parece impensável de sair do papel, mas que de alguma forma ganhou a luz do dia para manifestar todas as fofocas e documentários que já vimos de bastidores caóticos de produções caras com artistas complicados. Ben Stiller, que dirige e coescreve o filme, constrói uma sátira que é ao mesmo tempo absurda e extremamente lúcida sobre o funcionamento da indústria cinematográfica, usando a história de um elenco de egos inflados que se perde no meio de uma selva real para gravar um épico de guerra falso.

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O Que Fazemos nas Sombras
(What We Do in the Shadows – Nova Zelândia, 2014)

  • Paródia de filmes de horror, especialmente os de vampiros.

Uma das preocupações que os diretores-roteiristas tiveram foi a de brincar com todos os clichês conhecidos a respeito dessas criaturas da noite, desde o fato de não poderem ver crucifixos, de terem a capacidade de hipnotizar pessoas, de terem que ser convidados para entrar em algum lugar e, a melhor parte de todas, comportarem-se ou personificarem famosos vampiros do cinema, a começar pelo erguer-se de Viago, no início do filme, aludindo a Drácula de Tod Browning (1931) ou mesmo pelo tipo de vampiro que cada um representa, elemento que dá ao texto uma camada de conflito entre amigos de diferentes épocas, amigos com personalidades e histórico diferentes vivendo e uma casa da Nova Zelândia. Não só toda a situação é hilária como também recebe bom tratamento visual e mesmo dramático por parte dos cineastas.

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Hors Concours

O Trapalhão no Planalto dos Macacos
(Brasil, 1976)

Provavelmente vocês concluirão que eu direi agora que O Trapalhão no Planalto dos Macacos é uma dessas fitas para mim, que eu a vi quando criança e que, revendo para redigir a crítica, não sobrou pedra sobre pedra. Mas não. Não é o caso aqui. Com um misto de vergonha profunda e felicidade intensa, confesso que saí surpreso da minha volta ao passado longínquo, quando os filmes dos Trapalhões eram tão aguardados por mim quanto hoje eu aguardo um filme de Christopher NolanDennis Villeneuve ou David Fincher. Os tempos mudaram, mas, pelo visto, nem tanto, pois a paródia tosca, trash e na fronteira do tenebroso de O Planeta dos Macacos com Renato Aragão, Dedé Santana e Mussum, este no primeiro longa com o grupo, divertiu-me agora mais do que tinha direito e minha admissão disso, aqui, é quase como uma tentativa de expiar um pecado, de pedir clemência por um crime indesculpável.

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