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Crítica | Pequenos Grandes Heróis

por Ritter Fan
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Já vou começar dizendo que se Robert Rodriguez decidir fazer um filme solo de Guppy (Vivien Blair), a filha de Sharkboy (JJ Dashnaw substituindo Taylor Lautner) e Lavagirl (Taylor Dooley), eu serei o primeiro na fila para assistir. A menina – a menor de todo o grande grupo de crianças que protagoniza o segundo longa nesse mesmo universo -, apesar de não se exatamente uma boa atriz mirim, é diversão pura, parecendo que ela está todo o tempo no meio de uma infinita brincadeira comandada por adultos com câmeras e claquetes. É, sob qualquer ponto de vista, o ponto alto do novo projeto de Robert Rodriguez que, como disse na crítica de As Aventuras de Sharkboy e Lavagirl, é um daqueles poucos diretores que parecem poder fazer o que querem, quando querem.

E devo dizer também que, no intervalo de 15 anos entre os dois longas, valendo notar que o segundo não é exatamente uma continuação do primeiro, mas sim um outro filme que se passa no mesmo universo, Rodriguez soube reconhecer e corrigir os problemas de seu pequeno clássico infantil. A tosqueira continua intacta, vale dizer, mas o cineasta soube criar estrutura para sua história, mesmo recorrendo a um desfile básico de clichês do gênero, com mensagens positivas que são dolorosamente explicadas em detalhes para quem não entendeu (e crianças não são tão tapadas assim para terem a necessidade de ter tudo bem explicadinho desse jeito, mas tudo bem…). A ideia básica é mostrar que as crianças são o futuro, como efetivamente são, algo que Rodriguez faz retirando os super-heróis adultos desse seu universo em razão de uma invasão alienígena e forçando que seus filhos, cada um com um poder mais inútil do que o outro, tenham que tomar seus lugares.

A única despoderada, Missy Moreno (YaYa Gosselin), filha do espadachim e líder dos Heroicos Marcus (Pedro Pascal, que esteve em todas em 2020!), repete o papel do pai e, aos trancos e barrancos, consegue converter o grupo disfuncional de crianças em uma equipe que trabalha junto. A diversão vem de um roteiro bem mais afiado que não se faz de rogado em cutucar a essência dos super-heróis adultos a que estamos acostumados, não deixando pedra sobre pedra, seja lidando com uniformes e máscaras que só atrapalham, seja abordando a picuinha existente entre eles. É, por assim dizer, a versão jocosa, bobinha e leve – BEM LEVE – de Watchmen (não interpretem como sacrilégio a menção dessa HQ clássica aqui!).

Rodriguez reuniu uma tropa grande de talentos mirins para o filme e, por isso, as performances (bem) limitadas acabam mais “escondidas” e diluídas aqui do que no tenebroso filme anterior, focado em apenas três péssimos atores. Mesmo que haja, claro, destaque para Missy, a grande verdade é que as demonstrações de poder dos demais – especialmente de Noodles (Lyon Daniels), A Capella (Lotus Blossom), Slo-Mo (Dylan Henry) e dos gêmeos Rewind (Isaiah Russell-Bailey) e Fast Foward (Akira Akbar), além de, lógico, Guppy – impedem repetição e morosidade e sequer que prestemos muita atenção nos dotes dramatúrgicos de cada um. Claro que os diálogos forçadíssimos não ajudam em nada e muito menos a leitura deles com teleprompter, mas, no conjunto geral da obra, a coisa funciona razoavelmente bem.

Como disse, Rodriguez mantém a tosquidão visual do primeiro filme, com as melhorias devidas para não ficar muito na cara que ele está economizando onde pode. Para compensar isso, há que se reconhecer a criatividade e a variedade na equipe adulta de super-heróis, seja em razão dos uniformes, seja em razão da manifestação de poderes, mesmo que eles fiquem quase que integralmente no banco de reservas, ou melhor, na prisão alienígena. Os jovens também ganham poderes muito variados, alguns cujas manifestações são o suprassumo da criatividade em filmes de baixo orçamento, como correr em câmera lenta (genial a jogada aqui), girar os dedos para frente ou para trás ou desenhar o que o futuro reserva em um tablet.

Com muita leveza e originalidade, mensagens óbvias, mas bonitas e sempre relevantes, alguns bons momentos de ação e muita pataquada infantil – e, claro, linhas de diálogo sofríveis, mas que fazem parte da brincadeira – Robert Rodriguez talvez tenha conseguido entregar outro pequeno clássico de sua linha de filmes protagonizados por crianças. A grande diferença é que, diferente de As Aventuras de Sharkboy e Lavagirl, Pequenos Grandes Heróis parece ter sido abençoado com mais do que 15 minutos escrevendo o roteiro e desenvolvendo as ideias.

Pequenos Grandes Heróis (We Can Be Heroes – EUA, 25 de dezembro de 2020)
Direção: Robert Rodriguez
Roteiro: Roberto Rodriguez
Elenco: YaYa Gosselin, Lyon Daniels, Andy Walken, Hala Finley, Lotus Blossom, Dylan Henry Lau, Andrew Diaz, Isaiah Russell-Bailey, Akira Akbar, Nathan Blair, Vivien Blair, Priyanka Chopra Jonas, Pedro Pascal, Adriana Barraza, Boyd Holbrook, Christian Slater, Taylor Dooley, Sung Kang, Haley Reinhart, JJ Dashnaw, Christopher McDonald, J. Quinton Johnson, Brittany Perry-Russell, Jamie Perez, Brently Heilbron
Duração: 100 min.

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