Home TVEpisódio Crítica | Star Trek: Discovery – 4X13: Coming Home

Crítica | Star Trek: Discovery – 4X13: Coming Home

É conversando que a gente se entende.

por Ritter Fan
1,2K views

  • Há spoilers. Leiam, aqui, as críticas dos demais episódios da série e, aqui, de todo nosso material sobre Star Trek.

Depois de focar em valiosas nerdices linguísticas e matemáticas no primeiro contato com a Espécie 10-C no episódio anterior, Star Trek: Discovery muda a marcha para o encerramento de sua quarta temporada com um roteiro cheio de ação e emoção escrito pela co-showrunner Michelle Paradise, que Olatunde Osunsanmi dirige mantendo mesmo vigor de todo o seu trabalho na série até agora. Não é, sou o primeiro a reconhecer, um final inesperado ou que consiga chegar ao mesmo nível de Kobayashi Maru, o estupendo início de temporada, mas é o fechamento épico que a saga pela salvação do universo conhecido que a série precisava.

Por alguns minutos, tive receio que Tilly chegando com aquela sensacional nave da Federação para ajudar na evacuação da Terra fosse ou atrapalhar a fluidez da história ou servir de veículo para alguma solução mágica de último minuto, mas fiquei feliz quando constatei que o retorno da personagem, juntamente com o almirante Charles Vance, tinha como objetivo primordial aproximar a narrativa da ameaça imediata causada pela anomalia, de forma a ilustrar de forma mais direta os danos irreparáveis que estavam para ser causados. Foi, sem dúvida alguma, uma boa jogada do roteiro para aumentar a tensão e dividir nossa atenção entre esses dois núcleos, sem que, porém o de Tilly e companhia realmente quebrasse o ritmo imposto pela ação acontecendo além da Barreira Galáctica.

E a ação por lá conseguiu redimir toda aquela linha narrativa envolvendo Tarka, Book e Reno, com uma conexão melhor entre os personagens e uma solução que, longe – bem longe – de ser surpresa, foi eficiente em seus propósitos, permitindo arcos de redenção lógicos para Book e principalmente Tarka que, percebendo o que estava prestes a fazer, decide salvar o amigo. Até mesmo Reno que, como disse, antes, merecia um lugar fixo e constante na série, consegue ganhar bons momentos com Book e, depois, na ponte de sua nave tentando reverter a arma de Tarka.

Na linha de frente pela defesa da Terra, Ni’Var e todo o espaço conhecido, Michael, a tripulação da Discovery e os emissários da Federação, notadamente a presidente Laira Rillak e a general Ndoye, basicamente tiveram progressões lógicas a partir dos eventos anteriores. Livrando-se da bolha que enclausurava a nave com o suposto sacrifício do motor de esporos, a nave parte para impedir Tarka, com o suposto sacrifício da representante da Terra e, depois, a suposta morte de Book.

Perceberam quantas vezes usei “suposto”? Pois é. Lá vou eu de novo então: as suspostas reviravoltas que acontecem o tempo todo no episódio era razoavelmente esperadas, ainda que, sob diversos aspectos frustrantes. Entendo que matar um personagem importante como Book é difícil, mas Ndoye poderia ter se sacrificado de verdade, não? Seria um fim bem melhor para sua traição do que nada acontecer com ela no final. Até mesmo a destruição do motor de esporos, que parecia apontar para uma quinta temporada – em produção já, aliás – que acompanhasse o retorno da Discovery ao seu lar foi resolvida em um piscar de olhos. Achei que a escolha segura de Paradise de entregar final feliz para todos foi um pouco confortável demais para o meu gosto, sem realmente aproveitar a oportunidade para mostrar que nem tudo são flores quando se quer salvar a galáxia.

E, apesar de entender perfeitamente, também não fui muito fã do contato psíquico de T’Rina com a Espécie 10-C e, depois, ao final, as mensagens complexas de Michael, Laira e Book serem transmitidas com a rápida digitação de Saru em um teclado virtual. Nem uma hora antes – no tempo da própria série – Zora disse que teria dificuldade em passar a mensagem de que Tarka estava agindo sozinho e Book consegue explicar que somente mandar a anomalia para lugares sem vida não era o suficiente e que viver enclausurado não é resposta para nada? Foi um salto linguístico talvez grande demais para funcionar bem aqui, mesmo que, para fins de avanço na história, seria para lá de cansativo se a barreira linguística permanecesse com a mesma intensidade de Species 10-C. Em outras palavras, entendo o sacrifício da verossimilhança, mas não poderia deixar de chamar atenção para ele.

O que talvez tivesse resolvido esses aparentes problemas que apontei teria sido a redução da temporada, com a retirada de episódios francamente inúteis como All InRubicon e The Galactic Barrier, que formaram a trinca de retorno da série do hiato, de forma que Coming Home pudesse ser um capítulo duplo de fechamento. Com isso, poderia haver maior espaçamento das reviravoltas, o que aumentaria a tensão e nos permitiria sentir as perdas para além das caras de choro de Michael e um trabalho um pouco mais lento na forma de comunicação com os alienígenas. Talvez sobrasse até mesmo mais tempo para sentirmos tensão efetiva por Tilly, Chance e pela boa e velha Terra, mesmo sabendo que seria basicamente impossível que qualquer um dos três sofressem mais do que arranhões.

No entanto, mesmo com seus problemas, Coming Home foi um ótimo final para a temporada, além de ter sido curiosamente tão fechado em si mesmo que ele poderia muito bem ser o final da série como um todo. Se não estou enganado, a única coisa que permaneceu misteriosa foi o desaparecimento de David Cronenberg alguns episódios atrás para alguma missão que parecia que teria relação com este final, mas acabou não tendo. Seja como for, com Michael e a Discovery agora tendo reestabelecido de vez a Federação 930 anos no futuro, há uma completa tábula rasa para os showrunners trabalharem qualquer tipo de história que imaginarem na próxima temporada. O que será que vem por aí depois que os tripulantes da nave voltarem de suas merecidas férias?

Star Trek: Discovery – 4X13: Coming Home (EUA, 17 de março de 2022)
Showrunners: Alex Kurtzman, Michelle Paradise
Direção: Olatunde Osunsanmi
Roteiro: Michelle Paradise
Elenco: Sonequa Martin-Green, Doug Jones, Anthony Rapp, Wilson Cruz, David Ajala, Ian Alexander, Emily Coutts, Oyin Oladejo, Patrick Kwok-Choon, Chelah Horsdal, Oded Fehr, Ronnie Rowe Jr., Ayesha Mansur Gonsalves, Annabelle Wallis, David Cronenberg, Shawn Doyle, Rachael Ancheril, Tara Rosling, Stacey Abrams
Duração: 60 min.

Você Também pode curtir

Este site usa cookies para melhorar sua experiência. Presumimos que esteja de acordo com a prática, mas você poderá eleger não permitir esse uso. Aceito Leia Mais