Home TVEpisódio Crítica | Star Trek: Picard — 2X10: Farewell

Crítica | Star Trek: Picard — 2X10: Farewell

O adeus digno de uma série perdida.

por Kevin Rick
2,8K views

  • Há spoilers. Leiam, aqui, as críticas dos demais episódios da série e, aqui, de todo nosso material sobre Star Trek.

Aí gente, que porcaria. Não sei nem por onde começar.

Bem, vamos lá. Depois dos três últimos episódios não terem desenvolvido um dedinho da trama principal de viagem no tempo e o conflito com Q, Farewell recebe a tarefa ingrata de resolver toda a narrativa confusa e perdida desta temporada. Minhas expectativas já estavam mais baixas que o tempo de tela do Q na série, mas a season finale conseguiu ser ainda mais tenebrosa do que eu imaginava. Isso porque eu pensei que o roteiro resolveria tudo na correria e com facilitações narrativas idiotas. Mas acontece que os roteiristas tiveram um descaso tão grande, tão inacreditável com este universo e o personagem de Picard, que eles sequer tentaram resolver alguma coisa.

O episódio inteiro é uma sucessão de pessoas sentadas e conversando sobre seus rasos problemas emocionais com os diálogos mais bregas, os bordões mais piegas e as resoluções mais ridículas que eu já vi numa produção televisiva. Não tem trama, não tem desenvolvimento de personagem, não tem conflito, não tem dinâmica, tensão, arcos, aventura, intrigas, não tem nada. São só pessoas verbalizando o que deveria ter sido construído narrativamente. Nós vemos Picard conversando com Talinn sobre seus traumas infantis que ainda estão em pauta por algum motivo que não entendo, considerando que já tivemos DOIS episódios para este conflito dramático imbecilmente desenvolvido. Aí nós vemos Talinn declarando seu amor materno para Renée, num outro momento sem efeito dramático já que o texto nunca deu importância para a astronauta. E aí vemos outra pessoa derramando suas emoções para outra pessoa e assim por diante, num loop interminável de sentimentalismo barato e anticlímax similar a um último capítulo de novela – e nem é uma novelinha boa.

Sério, se tivéssemos tido uma cena de casamento (e quase tivemos com Rios!), daria para colocar a série na programação da Globo. O tom de desfecho “feliz” do início ao fim, com as epifanias menos orgânicas do mundo, me deu constrangimento no episódio inteiro. O texto força tanto a barra com o melodrama que ter qualquer tipo de empatia ou sensação humana é impossível, porque tudo é muito artificial, robótico e vazio. Fica ainda pior quando olhamos para a falta de significado da narrativa, desde as alterações no tempo que os personagens fizeram ao monte sem qualquer tipo de problematização, até todo o embate com Q resumido a um pequeno experimento de terapia de autoajuda do antagonista. As motivações de Q são tão aleatórias e sem propósito que só posso chegar à conclusão que sua participação foi apenas um fanservice glorificado.

Falando em fanservice, o que foi aquela medonha, abominável, estúpida e inacreditavelmente aleatória cena com Wesley Crusher e Kore? Não se encaixa na história por nenhum ângulo, sendo mais uma referência arbitrária da série para nos brindar com outra sequência embaraçosa. E nem sei se esta história dos viajantes faz sentido dentro dos parâmetros do universo de ST, em outra escolha porca para a mitologia sem sentido da temporada. Temos outra referência com Guinan ali no desfecho, mais alguns momentos bregas com Raffi e Sete de Nove, e, claro, a demonstração final de como Rios não tem mais qualquer importância na história quando os roteiristas simplesmente largam ele no passado. Jurati/Borg aparece, junto de Elnor, em mais saídas fáceis do roteiro (a linha do tempo tá normal e Q é benevolente), para nos dar um final de episódio que tenta criar algum tipo de perigo com aquele “evento galáctico” sem urgência ou impacto.

Farewell é o adeus de uma temporada sem qualquer linha de criatividade narrativa. E no meio deste lamaçal vazio do roteiro até a direção, é importante lembrar que os roteiristas realmente evitaram falar sobre o fato de Picard ser um ciborgue durante a temporada inteira, o que é, vamos lembrar, a maior reviravolta do primeiro ano. Enfim, só mais um pontinho negativo no meio de um monte de escolhas erradas. Até me desculpo se a crítica não foi mais meticulosa ou aprofundada, mas, honestamente, o episódio e a série não me deram muito com que trabalhar (rs). Só me conforto no fato de não ter sofrido nesta jornada sozinho – e tenho certeza que todos estarão firmes e fortes comigo na terceira temporada, né?? hahahaha.

Star Trek: Picard – 2X10: Farewell (EUA, 06 de maio de 2022)
Desenvolvimento: Kirsten Beyer, Akiva Goldsman, Michael Chabon, Alex Kurtzman (baseado em personagens criados por Gene Roddenberry)
Direção: Michael Weaver
Roteiro:  Matt Okumura, Chris Derrick
Elenco: Patrick Stewart, Alison Pill, Evan Evagora, Michelle Hurd, Santiago Cabrera, Isa Briones, Jeri Ryan, Orla Brady, Annie Wersching, John de Lancie, Brent Spiner, Wil Wheaton, Whoopi Goldberg
Duração: 57 min.

Você Também pode curtir

Este site usa cookies para melhorar sua experiência. Presumimos que esteja de acordo com a prática, mas você poderá eleger não permitir esse uso. Aceito Leia Mais