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Crítica | The Evil Within 2

por Guilherme Coral
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Qualquer bom diretor de terror sabe que grande parte de sua tarefa é incitar a imaginação do espectador – mais do que qualquer monstro ou criação bizarra, nosso imaginário é capaz de conjurar o medo de verdade. Quando entramos no território dos sonhos, tudo piora – afinal, qualquer um que tenha ficado “preso” em um pesadelo sabe o desespero que somos deixados ao acordar. Mas e se não pudéssemos escapar desses terríveis sonhos, ou se eles, de alguma forma, fossem induzidos por uma máquina, na qual nos transportamos para um universo onírico que deu errado? Essa é a premissa de The Evil Within, jogo da Tango Gameworks, publicado pela Bethesda. Já na sua continuação, The Evil Within 2, o protagonista Sebastian Castellanos é forçado a retornar para um desses vívidos pesadelos.

Traumatizado pelos eventos no hospital psiquiátrico Beacon, onde se viu preso na mente de um jovem psicótico, Castellanos sai da polícia de Krimson City, após, sem êxito, tentar convencer a todos sobre o que acontecera naquele lugar. Tendo perdido sua filha, Lily, e com sua esposa desaparecida, ele se entrega à bebida, até que a ex-detetive Kidman diz que sua filha ainda está viva e atua como núcleo de uma nova máquina de sonhos, chamada de STEM, construída pela organização secreta Mobius, para a qual trabalha. O motivo desse contato é que a organização espera que Sebastian entre nesse mundo dos sonhos, que contém uma pequena cidade perfeita, Union, a fim de encontrar Lily, que desaparecera ali dentro há poucos dias, desestabilizando todo o sistema. Ao entrar novamente nesse universo dos sonhos, Castellanos descobre que os cidadãos começaram a se transformar em estranhas criaturas, enquanto que um psicopata cria novas aberrações. e modifica todo o espaço à sua volta.

A primeira coisa que todos devem saber antes de embarcar em The Evil Within 2 é que praticamente qualquer coisa pode acontecer – desde teletransportes imediatos para locais totalmente diferentes, até seres monstruosos se materializarem na sua frente – além disso, apesar do corpo dos personagens ser mantido no mundo verdadeiro, suas mentes são completamente transportadas para esse novo ambiente, como se tivessem abandonado o corpo por completo. Em outras palavras, não basta que alguém de fora acorde ou até mate a pessoa no mundo real, pois ela continuará dentro do STEM. Tudo isso, claro, foi introduzido no primeiro game, mas, para os novatos, bastam algumas horas no segundo jogo para que tudo comece a fazer sentido. Em termos de funcionamento, a obra que apresenta conceitos mais similares é Matrix.

Com isso fora do caminho, todo o universo da obra passa a fazer sentido e não estranhamos mais quando Castellanos, subitamente, aparece em um local diferente quando alguém assim o quer, seja um artista psicopata ou um líder de culto religioso – ambos atuando como antagonistas no game. Dito isso, essa continuação certamente apresenta uma linearidade muito maior em termos de trama, descomplicando a narrativa consideravelmente quando a comparamos com a do primeiro, mudança, essa, incentivada por críticas da comunidade de jogadores em relação a The Evil Within, mas que, pessoalmente, considero um erro, visto que tira um dos charmes que tanto marcaram a obra original.

Assim sendo, essa sequência tem sua trama claramente dividida em quatro distintos atos. O primeiro nos apresenta a Union, a típica introdução, que nos apresenta às novas mecânicas e história geral. O segundo gira em torno da perseguição de Castellanos ao antagonista, que também está atrás de Lily. Já o terceiro traz uma total mudança na atmosfera, similarmente ao que vemos nos capítulos finais de Resident Evil 4, quando saímos do castelo e vamos para a ilha militar. Por fim, o último traz a conclusão da história, novamente alterando o clima da narrativa, dando ainda mais força ao intimismo dessa história.

É importante ter consciência dessas alterações ao longo da jornada em The Evil Within 2 pois elas são responsáveis pela constante renovação da jogabilidade – efetivamente sentimos como se estivéssemos dentro de continuações dentro da continuação, aspecto que impede que tudo se torne repetitivo ou enfadonho, trazendo, inclusive, novos locais e inimigos a serem enfrentados, ao passo que a dificuldade gradualmente aumenta, permitindo que o jogo se mantenha desafiador, ainda que seja consideravelmente mais fácil que o seu antecessor. Esse aspecto, claro, é fruto do sistema de combate e stealth aprimorado, ambos funcionando de forma mais fluida e dinâmica, permitindo novas abordagens do jogador, que pode escolher se irá evitar a maioria dos oponentes ou irá eliminar um a um.

Essas, contudo, não são as maiores inovações da obra. Ao contrário das fases mais fechadas do primeiro jogo, aqui temos um mundo quase aberto. Ainda são inúmeras sandboxes, mas, muito maiores e, em alguns capítulos, elas permitem que retornemos a outras áreas, garantindo muito maior liberdade ao jogador, que pode entrar em casas e outros ambientes, além de realizar missões secundárias a fim de conseguir novos equipamentos ou recursos para utilizar nas duas mecânicas de aprimoramento contidas no game. A primeira garante novas habilidades e melhorias para Sebastian, como aumento da vida, stamina ou maior precisão na hora de atirar; já a segunda permite que melhoremos nosso equipamento, fazendo os tiros causarem maiores danos ou permitir que recarreguemos as armas mais rapidamente, além de outras possibilidades, claro – mais um ponto tirado de Resident Evil 4.

São tais sistemas que praticamente nos forçam a explorar cada recanto de Union e a constante sensação de perigo torna toda essa exploração mais cativante (para quem gosta de sentir medo, claro). Em momento algum sabemos se iremos ser surpreendidos pelos cidadãos transformados ou por um macabro espectro que nos persegue durante o jogo, ou até mesmo uma nova criatura – é nessa tensão que o game apresenta toda a sua força, fazendo bom uso do gore e da baixa luminosidade para construir um impactante terror, tudo enquanto o carismático protagonista expressa sua atual situação com what the fucks ou holy shits, tirando as palavras de nossas bocas. No terceiro ato, essa sensação claramente diminui, mas não ao ponto de nos desestimular, somente somos deixados com um certo ar de desapontamento, ainda mais depois das criativas novidades apresentadas pelo roteiro nos dois primeiros atos, com nítidas referências ao terror cósmico, com traços orientais, não muito diferente do que vemos em Bloodborne.

Esse ponto, contudo, não prejudica nosso aproveitamento geral da obra, que certamente se configura como uma sequência digna do original, ainda que, por pouco, não o supere. O primeiro game é um dos, se não o melhor, survival horror desde Resident Evil 4The Evil Within segue logo atrás, introduzindo novas mecânicas que nos fazem torcer para que a série continue, nem que seja com outro protagonista – Sebastian Castellanos é um verdadeiro super-herói e seu carisma certamente fará falta, mas esse foi um belo encerramento para sua história. Dito isso, esse é um game imperdível para qualquer fã do gênero.

The Evil Within 2
Desenvolvedor:
 Tango Gameworks
Lançamento: 13 de outubro de 2017
Gênero: Survival Horror
Disponível para: PS4, Xbox One, PC

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