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Crítica | A Mão Que Balança o Berço

por Rafael W. Oliveira
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Quando se trata de thrillers domésticos, aqueles onde o horror atinge diretamente o interior de um lar, poucos nomes surgem de primeira na mente como o de Adrian Lyne. Sempre carregando seus filmes com um teor erótico, Lyne nos trouxe uma Glenn Close em ponto de ebulição no aterrador Atração Fatal, colocou Demi Moore e Woody Harrelson num jogo de sedução perigoso com Robert Redford em Proposta Indencente e transformou Diane Lane numa esposa infiel em Infidelidade. Muito da popularidade deste “gênero” se deve ao que Lyne plantou nos anos 80/90 (ao lado de outros diretores, óbvio), e A Mão Que Balança o Berço é um destes herdeiros.

E não pra menos, foi o filme que colocou Curtis Hanson no mapa, e que não muitos anos mais tarde, viria abalar o meio hollywoodiano com Los Angeles – Cidade Proibida, a voz do que viria a ser seu cinema. Talvez por isso não seja tão espantoso o fato de A Mão que Balança o Berço, sucesso de público e crítica na época, e com uma das vilãs mais memoráveis daqueles tempos, tenha assumido involuntariamente a imagem de um filme “pequeno” ao longo dos anos, pois o que era um thriller doméstico eficiente nos anos 90, hoje é apenas uma experiência passageira e nada memorável, embora ainda divertida.

A culpa talvez seja do próprio gênero em si: muito se evoluiu desde então, os filmes se tornaram cada vez mais mirabolantes, necessitados em surpreender e gerar catarses cada vez mais intensas, e em algo como A Mão Que Balança o Berço, hoje temos a sensação de que o trabalho de Hanson é mais contido do que deveria, apesar das boas intenções no que se refere a instaurar o clima de desconfiança e imprevisibilidade (coisa que o filme não é) no lar da família Bartel.

Explico: após denunciar os métodos abusivos do Dr. Victor Mott (John de Lancie) durante uma consulta médica para sua gravidez, o que leva outras pacientes a também denunciarem o médico, resultando no suicídio do mesmo, o casal Claire (Annabella Sciorra) e Michael (Matt McCoy) começa a procurar uma babá que possa lhes ajudar na criação de seu novo filho, chegando até eles a agradável Peyton Flanders (Rebecca De Mornay) que, como bem sabe o público desde o início, é a viúva do falecido médico e que acabou por perder seu bebê após o suicídio do marido, e numa atitude de vingança, decide adentrar a casa dos Flanders e, aos poucos, desestruturar aquela família.

À partir daí, Hanson é cuidadoso e habilidoso em desdobrar gradativamente os níveis de maldade de Peyton (ou Sra. Mott, como preferirem) sobre a vida do casal, e a presença entregue e bem equilibrada de Rebecca De Mornay como a ensandecia viúva vingativa garante que o filme mantenha no ar seu razoável clima de tensão constante, o que nos anos 90, foi suficiente para catapultar Peyton Flanders no hall das grandes antagonistas do cinema recente. A vilã é, realmente, o ponto alto de A Mão Que Balança o Berço.

Mas para isso, Hanson e o elenco são obrigados a lidar com um roteiro que abusa de conveniências e um nível de percepção pouco convincente para os personagens sobre o que acontece ao seu redor. Afinal, como que alguém contrata uma babá sem nenhum tipo de referência? Como após toda as notícias sobre o suicídio do Dr. Mott, absolutamente NINGUÉM ao redor de Claire e Michael não sabiam sobre o rosto e a identidade de Peyton, se fotos da mesma no funeral do marido saíram nos jornais? Entre trancos e barrancos como esse, A Mão Que Balança o Berço vai andando com as próprias pernas, exigindo aquela suspensão da descrença que, por vezes, é difícil de ser mantida, pois o que se percebe é a presença de um roteiro, escrito por Amanda Silver (do tenebroso Jurassic World: O Mundo dos Dinossauros), que mais parece subestimar a inteligência do público.

E nisso, o que fica é a impressão de que o filme passou artefato popular dos anos 90 para um mero suspense vai-e-vem de supercine, divertido e eficiente, mas mais abobalhado do que o gênero lhe permite. O que se mantém é a presença surpreendentemente carismática de Rebecca De Mornay e a boa construção atmosférica de Hanson, que se liberta bem do tom contido no movimentado clímax. Diverte, mas a Mão Que Balança o Berço é mais um filme prejudicado pelo tempo.

A Mão Que Balança o Berço (The Hand That Rocks the Cradle) — EUA, 1992
Direção: Curtis Hanson
Roteiro: Amanda Silver
Elenco: Annabella Sciorra, Rebecca De Mornay, Matt McCoy, Ernie Hudson, Julianne Moore, Madeline Zima
Duração: 110 min.

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