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Crítica | Congo (1995)

Primatas perigosos, minas perdidas e a velha ordem estadunidense colonial.

por Leonardo Campos
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Uma mescla de aventura colonial com horror ecológico. Assim é Congo, um filme que comprova a ineficácia de grandes orçamentos quando uma produção está fadada ao fracasso narrativo. Não adianta o elenco acima da média, tampouco o investimento considerável em efeitos especiais e visuais. Quando uma história não se apresenta devidamente amarrada já em seu roteiro, os resultados tendem a ser problemáticos. Conhecido por Frank Marshall, cineasta da trupe de Steven Spielberg, o filme foi concebido com base no texto dramático de John Patrick Shanley, tendo como base, o romance homônimo e irregular de Michael Crichton, escritor que parece ter acertado no ritmo de Jurassic Park, mas perdido o fôlego em outras interações literárias. Mixagem de horror da natureza com suspense moderno ao estilo John Grisham, o filme aborda engenharia genética, realidade virtual e outros temas bastante em voga na década de 1990, período profícuo para traduções intersemióticas da obra de Crichton.

Aqui, a caricatura grita bem alto e o continente africano é mais uma vez apresentado em situações degradantes, com gorilas assassinos raros, basicamente o elo perdido, e guerra civil capitaneada por indivíduos truculentos. Na trama, uma poderosa empresa de telecomunicações precisa de diamantes para o desenvolvimento de uma tecnologia revolucionária. Para isso, envia uma primeira expedição, desaparecida no Congo logo após a chegada. Chefiado por Charlie (Bruce Campbell), o grupo some sem deixar muitos vestígios. O que se sabe, por acesso ao material filmado até então, é a presença horripilante de um raro gorila, criatura de tamanho descomunal, aparentemente o responsável por eliminar a presença branca e humana do lugar, mandando a expedição exploratória para os ares. Assim, Karen Ross (Laura Linney), ex-noiva do desaparecido Charlie, parte em direção ao resgate do antigo companheiro. Ela é parte da empresa de telecomunicações e a ida ao local também será uma missão de observação.

Quem lhe acompanha é o zoólogo Elliott (Dylan Walsh), pesquisador que tem como incumbência, devolver a gorila Amy para o seu habitat natural. Treinada, a criatura segue alguns comandos robóticos copiados dos seres humanos. Essa é a alternativa do livro de Michael Crichton e, por sua vez, do roteiro de John Patrick Shanley, para juntar os personagens e ampliar a lista de possíveis vítimas de todo o caos que permeará a história ao longo de seus 109 minutos. Compõem o grupo: Herkermer (Tim Curry), um picareta interessado em encontrar uma cidade perdida na região, local que para ele é o equivalente as minas do Rei Salomão. Avarento, ele é obviamente uma das primeiras possíveis vítimas desejáveis para os gorilas irritados com a presença humana na região. Guiados pelo inescrupuloso Monroe Kelly (Ernie Hudson), outro personagem ideal para a matança caso esse fosse um autêntico horror ecológico, o filme nos faz acompanhar a expedição, os segredos descobertos, os obstáculos políticos e naturais da trajetória, por meio de diálogos ruins, humorados na hora errada, sérios demais nos momentos em que deveriam ser mais leves. Em suma, uma experiência bastante irregular e insossa.

Tecnicamente, o filme até oferta alguns momentos interessantes, mas a maioria é burocracia narrativa hollywoodiana pura. Na direção de fotografia de Allen Daviau, as imagens são sempre bem abertas, contemplativas de todo o bom espaço cênico desenvolvido pelo design de produção de J. Michael Riva. O complemento estético vem com a trilha sonora de Jerry Goldsmith, pomposa e talvez um dos melhores elementos do filme. O design de som de Gregg Baxter reforça a presença de forças ameaçadoras na floresta e os efeitos visuais e especiais, assumidos pela famosa empresa de Stan Winston e Scott Farrar, respectivamente, entregam truques e sobreposições digitalizadas interessantes, mas abaixo do esperado para algo posterior ao advento de Jurassic Park – O Parque dos Dinossauros. Longo demais para a falta de emoção esperada de um filme deste segmento, a produção se arrasta ainda mais do meio para o fim e peca exaustivamente em seu epílogo ágil demais, carregado por pouquíssimas cenas de ação. O desfecho ao melhor estilo Julio Verne, com os personagens a escapar da selva num enorme balão é um alívio para o espectador que esperava algo mais interessante vindo de uma abertura tão atmosfera e enigmática. Frank Marshall, já experiente na seara do horror proveniente de uma força selvagem, deixa a desejar em Congo, um filme para se ver uma vez só e esquecer.

Congo (idem, EUA – 1995)
Direção: Frank Marshall
Roteiro: John Patrick Shanley
Elenco: Bruce Campbell,  Delroy Lindo, Dylan Walsh, E. J. Callahan, Eldon Jackson, Ernie Hudson, Fidel Bateke, Garon Michael, Joe Pantoliano, Joel Weiss, John Alexander Lowe, John Hawless, John Munro Cameron, Karara Muhoro, Kathleen Connors, Kevin Grevioux, Laura Linney
Duração: 109 minutos

 

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