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Crítica | I Wanna Dance with Somebody – A História de Whitney Houston

A Whitney que já conhecíamos.

por Fernando JG
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Cissy Houston (Tamara Tunie) é uma mãe ambiciosa que, entre os anos 70 e 80, vê o talento vocal da sua filha aflorar. Whitney Elizabeth Houston (Naomi Ackie) é uma jovem de Nova Jersey que, além de cantar no coral da Igreja, faz o backing vocal para sua mãe em shows pela cidade. Durante uma apresentação na Sweetwaters, Cissy, ao perceber que o empresário de uma famosa gravadora está no local, finge perder a voz e então encoraja sua filha a fazer o solo de The Greatest Love of All, que impressiona a todos. Após performance avassaladora, é logo contatada pelo empresário que não perde tempo em investir na joia bruta que nascia. Whitney faz a sua primeira aparição na TV e em seguida é contratada pela Arista Records, lançando seu álbum auto intitulado, que a leva a alcançar patamares nunca alcançados por uma vocalista negra na história da música. 

O filme que promete ser a redenção da vida e obra daquela que é considerada uma das maiores solistas de todos os tempos parece não ter forças o suficiente para fazer jus à cantora homenageada. Uma biografia um tanto preguiçosa em texto, o enredo nos apresenta uma sequência de fatos encavalados uns nos outros, com mais performances do que drama, sendo que todos os fatos narrados aparentam serem tirados de alguma cronologia do Wikipédia.

Inicia-se com a sua descoberta para a Indústria, e então obtém seu primeiro Nº1 na Billboard Hot 100 com I Wanna Dance With Somebody, seguido de mais outros 6 singles a debutar em número 1. O longa aborda circularmente – e bem, temos de admitir – a questão da bissexualidade; toca no problema da Whitney cantar música pop e não R&B, como divas negras (Aretha Franklin, sobretudo), sendo acusada de não estar sendo negra o bastante; atravessa sua apresentação no Super Bowl, no icônico AMAS de 1994 e faz uma pincelada criminosa pelo seu maior ato que é o lançamento do filme e do álbum The Bodyguard. Após um primeiro ato extenso de mimese de performances, o filme parte para um drama não-emotivo e encerra pior ainda, se não fosse salvo por dois momentos: AMAS 1994 e Oprah em 2009. 

A obra insiste em fazer do início do longa-metragem uma viagem através das principais premiações da carreira de Whitney, mas falha terrivelmente pela rapidez com que narra eventos e igualmente pelo enfoque em momentos não tão importantes, como quando num VMA conheceu Bobby Brown, esquecendo de momentos canônicos, quando, em 1994, no seu auge, ganha os cobiçados Album Of The Year (AOTY) e Record Of The Year por respectivamente The Bodyguard e I Will Always Love you. Além do filme eliminar o seu momento de possível maior aclamação universal, a cineasta esquece-se de citar, pasmem, a vitória no Oscars de 1999 por melhor trilha sonora por Príncipe do Egito. Quais os critérios da cineasta e roteirista em decidir falar das premiações mas obliterar de sequer nomear suas mais importantes vitórias?

Além do mais, o que eu acabo de assistir? O filme da senhorita Lemmons e que é assinado por Anthony McCarten (que também escreve Bohemian Rhapsody) parece mais um compilado de vídeos do Youtube do que uma obra cinematográfica. Todas as performances são lindas porque, de fato, são originalmente belas. Não há erros porque bebe-se diretamente de uma fonte já existente. Contudo, o texto é absolutamente anêmico e não acompanha a grandiosidade de Whitney. Atravessa questões gerais de maneira superficial, buscando fazer um apanhado da carreira e não da vida propriamente. O que de mais profundo a película tem é a abordagem da bissexualidade da vocalista, que por tanto tempo foi apagada da sua história. É uma fan service de qualidade duvidosa. 

Simpatizo com a atriz que dá vida à obra, Naomi Ackie. Vê-se que é mesmo uma talentosa atriz, mas pouco se assemelha à Whitney, senão em traços muito irrelevantes, como nariz e algo da boca e sorriso. Naomi é encorpada demais, com muitas curvas, e destoa em tudo do corpo da vocalista que interpreta. Além do mais, vejo, sim, que é uma grande atriz, mas peca nos gestos inflados, hiper gestuais, provocando uma espécie de overacting. Falta sua marca na interpretação. A atriz, embora promissora, não deixa sua marca no papel que pretende-se ser o da sua carreira. No mais, Stanley Tucci está bem e o acho sempre ótimo em qualquer filme, embora dificilmente ele faça algo diferente em seus trabalhos. 

Um filme que apoia-se num material pronto mas que não consegue trabalhar plenamente em cima de algo já dado me espanta enormemente. Sem carga emocional alguma no texto, sem transmitir afetos verdadeiros, a obra apenas passeia sobre a fama, dinheiro e sucesso de Whitney Houston e utiliza da sua imagem como maneira de lucrar. Sem reinventar a roda, ou contar algo que não saibamos, o fracassado filme de Kasi Lemmons parece ter sido escrito num intervalo de um dia após pesquisas rápidas pela Internet, fora que não tem compromisso algum em produzir uma obra cinematográfica relevante, mas apenas repor algo já dito. 

Não serve como referência alguma para os próximos filmes, tampouco destaca-se pelo trabalho arqueológico da vida da artista. Aborda-se de um tudo num espaço de tempo curto e perde profundidade em absolutamente todos os temas que pretensamente intenta abordar. O final é grandioso, mas não pelo trabalho da direção ou do roteirista, mas porque o fato imitado – AMAS de 1994 e Oprah de 2009 – são organicamente emocionantes. Ironicamente, o filme não tem o seu “One Moment In Time” para chamar de seu, não resguardando sequer uma situação de grande importância, de modo que não tardará para ser mais uma das centenas cinebiografias medianas que existem por aí. 

Whitney Houston: I Wanna Dance With Somebody (2022, EUA)
Direção: Kasi Lemmons
Roteiro: Anthony McCarten
Elenco: Naomi Ackie, Stanley Tucci, Ashton Sanders, Tamara Tunie, Nafessa Williams, Clarke Peters, Dave Heard, Bria Danielle Singleton, Bailee Lopes, Kris Sidberry
Duração: 146 min. 

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