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Crítica | Mazzaropi: Sai da Frente

por Luiz Santiago
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Quando o longa-metragem Sai da Frente (1952), produzido pela Vera Cruz, chegou aos cinemas, Amácio Mazzaropi já era bem conhecido do público e tinha uma  carreira artística muito bem estruturada com trabalhos no teatro, no rádio e na televisão. Foi a convite de dois produtores teatrais que ele já conhecia (Abílio Pereira de Almeida — diretor do presente filme — e Franco Zampari) que Mazzaropi levou o seu talento para as telonas pela primeira vez, vivendo o personagem Isidoro Colepicola, dono de um velho caminhão de  mudanças que é contratado para levar uma carga de São Paulo até Santos.

A direção e roteiro aqui são de Tom Payne e Abilio Pereira de Almeida, que começam de uma maneira simples e bastante efetiva em termos de comédia. Pequenas coisas como a maneira engraçada de Isidoro acordar (o despertador mais velho que eu já vi em um filme), o fato de dois bêbados terem trocado a garrafa de leite por uma de uísque e a forma como Isidoro se porta ou fala com as pessoas em seu dia a dia já tiram o riso do espectador sem grande esforço, mostrando a grande capacidade cênica de Mazzaropi e a maneira como cada uma das coisas que ele faz ao longo da obra está ligada às pequenas informações que temos de sua família e vizinhança na abertura da fita.

Passada a ótima apresentação do protagonista e seu meio, o roteiro adota o formato de crônica, mostrando o que acontece em um dia de trabalho desse personagem tão peculiar, com seu calhambeque Anastácio e seu pastor-alemão Coronel. Por um lado, essa decisão dos roteiristas tem um ponto positivo. Através dela, temos a oportunidade de ver Mazzaropi nas mais diversas situações, do romance à briga de bar, sempre cercado de elementos populares, com personagens típicos da São Paulo dos anos 1950 e do Brasil como um todo. Ao longo do trajeto, o roteiro mantém a coerência narrativa em torno do personagem, sem muitos desvios desnecessários (na verdade só existe um, na sequência do circo) e sempre voltando ao ponto principal: a mudança que Isidoro estava levando de Sampa para Santos.

As coisas mudam mesmo, no sentido negativo, no ato final da película. A sequência do circo é um exemplo de algo que não deveria estar aqui, mas está. Isoladamente, admito que é um bom momento do filme, com truques de mágica bem interessantes e ligados à perseguição que Isidoro fazia ao bilheteiro golpista. No entanto, esse ligação é frágil demais para uma sequência tão longa. Em escala menor, vemos algo mais ou menos parecido na briga de bar, especialmente quando aparece o delírio de Isidoro. O mesmo vale para a propaganda do “monstro do circo” solto pela cidade e, convenhamos, para o momento da citação metalinguística a Mazzaropi, junto a uma pequena execução musical. Mesmo que não afaste o espectador, esses momentos certamente destoam da boa comédia e ritmo que marcam o restante da fita.

No derradeiro ato, o problema se repete, mas na seara da coesão. Para mim, faz pouco sentido que a vizinhança festeje daquele jeito o retorno de Isidoro para casa e se comporte do jeito mais agressivo possível durante a manhã. Mas o incômodo nessa parte é menor, e logo o foco da obra se direciona para o ambiente familiar do protagonista, onde tudo começou. Uma ótima ideia de ciclo representando um dia inteiro de trabalho na vida desse personagem que, em muitas coisas, se assemelha a inúmeros trabalhadores ao redor do Brasil. A comédia da vida simples realizada com bastante competência.

Sai da Frente (Brasil, 1952)
Direção: Tom Payne, Abilio Pereira de Almeida
Roteiro: Tom Payne, Abilio Pereira de Almeida
Elenco: Amácio Mazzaropi, Ludy Veloso, Leila Parisi, A.C. Carvalho, Nieta Junqueira, Solange Rivera, Luiz Calderaro, Vicente Leporace, Luiz Linhares
Duração: 80 min.

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