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Crítica | SCOOBY! O Filme

por Ritter Fan
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Velma: Como você sabe tanto sobre super-heróis e tão pouco sobre o sistema métrico?
Fred: Porque eu sou um homem americano!

Por incrível que pareça, SCOOBY! O Filme marca a primeira vez que Scooby-Doo e sua gangue tiveram um longa animado produzido para ser lançado nos cinemas. Mesmo que as circunstâncias de sua estreia em meio à pandemia de Covid-19 tenham forçado o uso da chamada “première doméstica” por meio dos serviços de vídeo sob demanda, o que vale é a intenção e a nova aposta da Warner para reviver sua franquia com o dogue alemão mais simpático do mundo ganha um polimento todo especial.

Na verdade, o longa é mais do que uma aposta em Scooby-Doo somente, pois o roteiro, escrito a quatro mãos, é muito mais um crossover de criações da Hanna-Barbera do que uma aventura clássica de desvendamento de mistério dos queridos personagens criados em 1969 por Joe RubyKen Spears, no que parece ser uma espécie de começo de um potencialmente muito interessante universo compartilhado. Mesmo que o simpático, mas muito corrido e um tanto simplista preâmbulo  conte uma nova origem para o quinteto, ensaiando uma produção que tem a Mistério S.A. em seu centro, a história não perde tempo em fazer o que tem que fazer, separando o grupo e tornando Scooby (Frank Welker) e Salsicha (Will Forte) fugitivos de ninguém menos do que Dick Vigarista (Jason Isaacs) e de seus adoráveis minions robóticos, o que os levam a cruzar caminho com… Brian (Mark Wahlberg), que… aham… é o Falcão Azul e seus… bem… ajudantes Bionicão (Ken Jeong) e Dee Dee Skyes (Kiersey Clemons).

Na outra ponta, Fred (Zac Efron), Daphne (Amanda Seyfried) e Velma (Gina Rodriguez), equipados com a Máquina do Mistério, tentam descobrir o paradeiro dos amigos, trilhando uma narrativa que permanece substancialmente paralela à de Salsicha e Scooby e, claro, um pouco menos desenvolvida que as verdadeiras estrelas da projeção. No entanto, há espaço para quase todo mundo, com funções bem determinadas e razoavelmente exploradas pelo menos para Fred e Daphne, com Velma na “terceira divisão” sem um destaque muito grande, ainda que constantemente presente. Além disso, o longa faz todo o uso possível das hoje tão cobiçadas referências e, claro, de alguns ilustres convidados especiais que dão as caras aqui e ali, contribuindo para colorir ainda mais o filme e trazer sorrisos nostálgicos, além de admiração por suas recriações para a animação.

E isso me leva à direção de arte de Michael Kurinsky que visualmente respeita todo o material fonte, atualizando os personagens na medida do necessário, além de criar assinaturas características para cada grupo. Se Scooby-Doo e sua turma ganham uma repaginada que, porém, os mantém intactos e perfeitamente reconhecíveis o tempo todo, com uso generoso de cores vibrantes, toda a mitologia do Falcão Azul é retrabalhada para algo extremamente futurista, de linhas limpas, quase monocromáticas, com… Brian ganhando um uniforme 2.0 do super-herói que combina perfeitamente com sua personalidade espalhafatosa. Dick Vigarista, por seu turno, representando toda a vilania possível, tem a ambientação de sua nave – sensacionalmente baseada no clássico carro-foguete que dirige em Corrida Maluca – com pitadas de steampunk e direito a muito fogo, ferrugem e fumaça, a antítese de tudo que o Falcão Azul representa. Mas é claro que todos, quando vistos em conjunto, geram um efeito harmônico, com uma computação gráfica muito bonita, de linhas curvas e cores brilhantes que encanta já nos minutos iniciais.

Se o roteiro trabalha bem os núcleos diversos em uma história diferente da que é esperada, ele é menos eficiente em tornar Scooby-Doo uma peça essencial no plano de Dick Vigarista, criando uma ancestralidade inédita para o cachorrão que não combina de verdade com a personalidade dele ao longo de todas essas décadas e que tem um clímax um tanto quanto genérico, além de um final cheio de conveniências desnecessárias. Como parte da estratégia para fazer isso tudo funcionar, Scooby ganha muitas falas e, ainda por cima, quase todas completamente compreensíveis, algo que acaba transformando-o meramente em um cachorro falante, algo que ele nunca foi de verdade. Não, não surtei, prezados leitores. O que quero dizer é que muito do charme de Scooby é ele usar poucas, mas ótimas palavras e expressões sempre com aquela voz grave clássica com dicção comparável à do Pato Donald clássico. Ao dar-lhe várias linhas de diálogo e diversas com palavras até rebuscadas, com o cachorrão travando verdadeiras conversas com Salsicha e outros personagens, um pouco daquela graça bobona do bom e velho Scooby desaparece.

No entanto, SCOOBY! O Filme tem, inegavelmente, um charme irresistível e Tony Cervone, que já havia sido responsável por dois longas animados do Scooby-Doo lançados diretamente em vídeo, entrega um mais do que sólido longa cinematográfico, especialmente considerando que este é seu primeiro trabalho de direção nessa categoria específica. Esse pode não ser o Scooby totalmente clássico em um caso de mistério dentro do padrão conhecido, mas a proposta de o longa ser uma bonita e divertida reunião de inesquecíveis personagens da Hanna-Barbera em uma obra animada de gabarito e com potencial para ser a primeira de várias, compensa as escolhas tomadas. Agora é esperar para que o Universo Cinematográfico Hanna-Barbera (UCHB?) realmente decole!

SCOOBY! O Filme (SCOOB!, EUA – 15 de maio de 2020)
Direção: Tony Cervone
Roteiro: Matt Lieberman, Adam Sztykiel, Jack Donaldson, Derek Elliott (baseado em história de Matt Lieberman, Eyal Podell e Jonathon E. Stewart e em personagens criados por Joe Ruby e Ken Spears)
Elenco: Frank Welker, Will Forte, Iain Armitage, Mark Wahlberg, Jason Isaacs, Gina Rodriguez, Ariana Greenblatt, Zac Efron, Pierce Gagnon, Amanda Seyfried, Mckenna Grace, Kiersey Clemons, Ken Jeong, Tracy Morgan, Billy West, Simon Cowell, Ira Glass, Don Messick, Eric Cowell
Duração: 95 min.

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